Barra Funda é distrito de SP com mais casos de violência LGBTQIA+
A Barra Funda, na zona oeste, é o distrito da cidade de São Paulo com os piores indicadores relacionados a violência contra negros e população LGBTQIA+, de acordo com um levantamento da Rede Nossa São Paulo.
O que diz o levantamento
População residente baixa e grande circulação explicam os números da Barra Funda. Com 14 mil habitantes, o distrito tem a 2ª menor população da cidade — atrás apenas de Marsilac, na zona sul, que soma 8 mil moradores. Por outro lado, a Barra Funda abriga uma rodoviária e uma estação de metrô que chega a receber 60 mil passageiros por hora.
Região teve 78,44 casos de violência contra pessoas LGBTQIAP+ para cada 100 mil habitantes em 2022. Para se ter uma ideia, a média de ocorrências do tipo na cidade de São Paulo foi de 12,22.
Um grande número de pessoas circula pela Barra Funda todos os dias e isso aumenta as chances de que episódios de discriminação aconteçam com pessoas que estão de passagem por ali. Verificamos isso em relação à população LGBTQIA+ e aos negros também.
Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais da Rede Nossa São Paulo
São casos como o de Sumé Yina, agredida por um motorista de aplicativo. A modelo e artista visual é uma pessoa trans e fazia uma corrida entre Santa Cecília e a Avenida Sumaré, na madrugada de 5 de agosto de 2022, quando o crime aconteceu.
Eu sofri fraturas no corpo, feridas no rosto e diversos machucados pelo corpo.
Sumé Yina, em entrevista a Universa
Casos de violência racial foram 25 vezes mais frequentes na Barra Funda em 2021. O distrito registrou 25,7 ocorrências para cada 10 mil habitantes — contra uma taxa média de 1,6 casos para cada 10 mil pessoas na cidade toda. Segundo Pantoja, a Secretaria Estadual da Segurança Pública do estado não forneceu os dados de 2022.
Vila Jacuí e Belém, na zona leste, Rio Pequeno, na zona oeste, e Marsilac não registraram casos do tipo, diz o levantamento.
A Secretaria de Segurança Pública afirma que enviou dados, mas sem "trabalho adicional de análise". Por e-mail, o órgão informou que analisar, interpretar e consolidar dados não são ações exigidas em casos de pedidos de Lei de Acesso à Informação, como ocorreu com o instituto.
Áreas do centro concentram registros de agressões cometidas por policiais. Distritos como Sé, Santa Cecília e Bom Retiro registraram, respectivamente, 13,64; 11,85 e 6,38 casos para cada 100 mil pessoas — contra uma média de 0,44 na cidade, em 2022.
É mais fácil denunciar uma agressão policial que acontece em uma região central do que em uma periferia, onde a chance de quem denuncia ser perseguido é muito maior. Além disso, o centro concentra protestos e outros eventos que potenciam casos do tipo
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo
Jardim Ângela tem dez vezes mais negros que Moema em São Paulo
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Quero receberO Jardim Ângela, na zona sul, é o segundo distrito mais populoso da cidade e com maior proporção de negros (pretos e pardos). Com 345,5 mil habitantes, a região é formada por 60,1% de pretos e pardos.
Moema, também na zona sul, é o 60º distrito mais populoso dentre os 96 da capital e tem a menor proporção de negros. De seus 89,6 mil habitantes, apenas 5,8% se declaram pretos e pardos.
Os distritos com maior proporção de negros em São Paulo ficam nos extremos sul, norte e leste da cidade. Na zona leste, Lageado (56,2%) e Cidade Tiradentes (56,1%) têm as maiores proporções. Na zona norte, destacam-se Brasilândia (50,6%) e Anhanguera (50,1%). Na zona sul, o Grajaú — distrito mais populoso da capital — é o segundo com maior proporção de negros: 56,8%.
Distritos mais ricos e centralizados têm menor proporção de pretos e pardos. É o caso do Itaim Bibi (8,3%), Jardim Paulista (8,5%) e Alto de Pinheiro (8,1%), todos na zona oeste.
"A desigualdade racial é um fator estruturante da sociedade brasileira e da cidade de São Paulo também", diz Pantoja. "A gente vê essa sobreposição das desigualdades, e por isso a desigualdade racial é uma espécie de síntese."
Onde há menos negros você tem melhores indicadores, onde você tem mais negros você tem piores indicadores.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo
Qualidade de vida
Moema é um dos distritos com melhor qualidade de vida. A região não tem favelas, por lá não houve registro de mortalidade materna em 2022 e a taxa de mortalidade infantil foi a segunda menor da cidade. A idade média ao morrer também é alta: 81 anos.
No Jardim Ângela, os indicadores sociais são o oposto. O distrito tem 77 favelas, o 8º maior registro de mortalidade materna e é o 12º em mortalidade infantil. A idade ao morrer também é quase duas décadas menor: 62 anos.
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