RJ: Por que acusado de chefiar milícia não está em lista de mais procurados
O acusado de ser líder da maior milícia do país ficou fora da nova lista dos criminosos mais procurados do Ministério da Justiça, obtida com exclusividade pelo UOL.
O que aconteceu
Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, não integra a relação por não ser acusado de crimes interestaduais ou fora do país. Este é um dos critérios para inclusão de nomes na lista, que deverá ser divulgada oficialmente pelo governo até o fim do mês.
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Zinho foi o principal alvo de operação da Polícia Federal e do Ministério Público deflagrada ontem no Rio, mas continua foragido. Contra ele há mandados de prisão pendentes por homicídio, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O comando da maior milícia do Rio passou para as mãos de Zinho após morte de seu irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. O miliciano foi baleado em uma operação policial em junho de 2021 — desde então, Zinho trava uma sangrenta disputa com outros grupos paramilitares, que tentam controlar a organização criminosa.
Ecko e Danilo Dias Lima, o Tandera, chegaram a entrar na última lista dos mais procurados — há dois anos. A inclusão de ambos aconteceu por insistência do então ministro Sergio Moro (Justiça), ainda que não atendessem aos critérios — da mesma forma que Zinho.
O Ministério da Justiça informou que a eventual reformulação da relação de criminosos ainda depende de detalhes burocráticos. "Apenas após a publicação da norma que regulamentará a lista é que haverá inserção de novos indivíduos procurados, já conforme a nova metodologia", diz a nota da pasta.
A aliança com o CV e o caos no Rio
A operação de ontem para prender Zinho foi a segunda em um intervalo de apenas dois meses no Rio. Em outubro, a ação para capturar o acusado de ser o chefe da milícia resultou na morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, sobrinho do miliciano.
Depois disso, ao menos 35 ônibus foram incendiados a mando da milícia, como retaliação à operação policial. Foi o maior número de veículos queimados em um único dia na história da cidade
Com mais de 300 mil habitantes, Campo Grande, reduto da milícia de Zinho, segundo a polícia, é o bairro mais populoso do país. Localizado a 48 km do centro, tem o batalhão da PM com o menor efetivo da capital na relação com o número de moradores.
Zinho é apontado como o responsável pela aliança inédita entre a milícia e o Comando Vermelho firmada no começo do ano. Desde então, a disputa por território no crime organizado se intensificou e foi responsável por mais de 50 assassinatos nos últimos meses, de acordo com a Polícia Civil.
O conflito armado teria motivado o assassinato dos três médicos, mortos por engano, em um quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste. Uma das vítimas foi confundida com um miliciano rival de Zinho, segundo investigações.
O que dizem os especialistas
Não entendo como o criminoso mais procurado do Rio não está na lista dos mais procurados do Brasil. Seria ingenuidade achar que os chefes das milícias não estão envolvidos com tráfico de armas ou lavagem de dinheiro em outros estados.
Elisa Ramos Pittaro Neves, do Ministério Público do Rio
É curioso o fato de [Zinho] não ser incluído, uma vez que esses grupos paramilitares movimentam grande parcela do crime organizado do Rio, que está envolvido em tráfico de armas, um crime de dimensão até internacional.
Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e FGV
Com uma atuação mais doméstica, a milícia não tem ramificações em outros estados. O Rio não está sob intervenção federal. Os critérios para a inclusão na lista dos mais procurados têm que ser objetivos para ter uma classificação que valha para todas as situações.
Robson Rodrigues, antropólogo e coronel da reserva da PM do Rio
Morte de fundador da Liga da Justiça
O Ministério Público do Rio denunciou Zinho e outras cinco pessoas, em setembro, por suspeita de envolvimento no assassinato do ex-vereador e ex-policial civil Jerônimo Guimarães Filho. Solto em 2018 após cumprir dez anos de prisão por formação de quadrilha, Jerominho é apontado como o fundador do grupo paramilitar, que surgiu há cerca de 20 anos e já foi conhecido como "Liga da Justiça".
O crime foi motivado pela descoberta de um plano de Jerominho e seu irmão Natalino José Guimarães de retomada de poder na milícia, aponta o MP. Ele perdeu o controle da organização criminosa após permanecer preso com o irmão entre 2007 e 2018.
Jerominho e seu amigo Maurício Raul Atallah foram mortos a tiros de fuzil em agosto de 2022. O grupo paramilitar era acusado de extorsões, cobranças por taxa de segurança e execuções no asfalto em plena luz do dia.
Jerominho disse em entrevista ao UOL que planejava um retorno ao meio político e dizia se inspirar no agora ex-presidente Jair Bolsonaro. "Quando assaltadas, as pessoas não vão para a delegacia. Elas me procuram", disse à reportagem.