De aluno exemplar a procurado por dívidas: a vida de Andreas von Richthofen
Andreas von Richthofen, 36, tinha apenas 15 anos quando seus pais, Marisia e Manfred foram assassinados. Depois de perder a família toda — incluindo a irmã, Suzane, condenada pelo crime — o adolescente ficou sob tutela da avó e do tio maternos e conseguiu seguir a vida, se tornando um aluno exemplar na USP.
Mas, duas décadas depois do crime, a vida do caçula é marcada pelo isolamento e por uma série de dívidas que ameaçam a herança deixada pelos pais. Depois da condenação da filha mais velha, ele se tornou o único beneficiário do espólio, avaliado em R$ 10 milhões à época.
Juventude brilhante
Professores de Andreas na faculdade o definiram como um aluno brilhante, competente e que não hesitava em ajudar os outros. Ele esteve no IQ-USP (Instituto de Química da Universidade de São Paulo) entre os anos de 2005 a 2015.
O irmão de Suzane tem graduação Farmácia e Bioquímica e doutorado em Química pela instituição. Nos anos em que passou pela pós-graduação, foi orientado diretamente pelo professor doutor Cláudio Di Vitta, do Departamento de Química Fundamental do IQ-USP.
Ele sempre foi uma pessoa excelente, afável, aluno exemplar. Não soube mais dele depois que terminou [o doutorado] e não me lembro qual foi a última vez que nos vimos."
Di Vitta, em conversa com o UOL, em 2017
Liliana Marzorati, professora doutora do departamento, definiu o rapaz como "extremamente competente" e "um dos alunos mais brilhantes que já passaram por aqui". Os dois trabalharam juntos em um laboratório do IQ-USP.
Os professores destacam que nunca conversaram sobre a vida pessoal — ou familiar — de Andreas. "Ele sempre evitou tocar nesse assunto. Imagino que seria doloroso para ele. Por uma questão de discrição, eu nunca conversei com ele sobre esse assunto, e outros colegas do laboratório também não", contou Marzorati.
Em seu trabalho acadêmico, ele nunca deixou de usar o sobrenome Richthofen.
Após faculdade: surto e internação em clínica
Andreas não manteve contato com seus professores após se formar, em 2015.
Dois anos depois, em maio de 2017, ele foi encontrado em estado de surto e apresentando sinais de uso de drogas, em uma ação de rotina da Polícia Militar de São Paulo. Com roupas e cabelos em mau estado, ele tentava pular o portão de uma residência na região de Santo Amaro, zona sul da capital.
No mesmo dia, Andreas foi internado em uma clínica psiquiátrica. Seu orientador afirmou não ser capaz de dizer como Andreas chegou ao estado em que foi encontrado pelos PMs.
Vida após a reabilitação
Andreas não voltou aos olhos do público depois de 2017, mas amigos afirmam que ele vive isolado em um sítio de São Roque, no interior de São Paulo.
Vizinhos que conviveram com ele antes da mudança, em uma casa no Campo Belo, capital paulista, afirmam que Andreas alternava entre momentos de simpatia e depressão, quando chegava a andar por uma semana com a mesma roupa. Eles foram ouvidos pelo jornal O Globo, em matéria publicada ontem.
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Quero receberO irmão de Suzane teria se tornado ainda mais recluso no início de 2023, na mesma época em que ela ganhou o direito de cumprir a pena em liberdade.
Andreas é alvo de ao menos 24 processos na Justiça de São Paulo por atraso em IPTU e condomínios, somando um calote de aproximadamente R$ 500 mil, segundo o jornal O Globo.
Oficiais de Justiça afirmam que têm dificuldade de notificá-lo sobre as ações. Nos autos, os procuradores do município de São Paulo afirmam que vão preparar ações para levar os imóveis da família a leilão, já que o herdeiro dos Richtofen se recusa a quitar os débitos.
Ele não teria celular ou internet no sítio em que mora. O que dificulta ainda mais o contato.
Corretores contam que o rapaz nunca aceitou vender os imóveis. Segundo amigos, ele teria o interesse de manter os bens como uma forma de preservar a memória dos pais.
Por outro lado, o doutor em química teme que Suzane herde sua fortuna, já que ele ainda não se casou ou teve filhos, o que faz da irmã sua herdeira natural.
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