Vídeo mostra sangue sendo lavado sob olhar de PMs após morte em Santos
Um vídeo mostra sangue escorrendo pelo chão de casa onde um homem foi morto ontem em ação da PM em Santos. Na gravação é possível ver ainda três policiais militares e uma viatura parados em frente à residência.
Especialista ouvido pelo UOL analisou o vídeo e identificou possível alteração de cena do crime.
O que aconteceu
Três policiais militares foram vistos empunhando fuzis próximo ao imóvel na terça-feira (20), após a morte de homem. "Tem que lavar a casa, é?", pergunta uma moradora. De costas para o imóvel e de frente para uma viatura, um dos agentes faz sinal de positivo com a cabeça, enquanto o sangue escorre próximo aos seus pés. "Estão lavando a casa", diz a mesma moradora em outro vídeo que mostra a mesma cena.
Moradores dizem que sangue foi lavado de dentro da casa onde homem foi morto. Moradores relataram ter presenciado os policiais militares limpando o sangue do chão após os tiros que mataram o ajudante de pedreiro Alex Macedo Paiva, 30. "Era muito sangue. A gente levantou o tapete da casa. E o sangue escorria do tapete", disse uma moradora.
Possível alteração de cena do crime, diz especialista. A reportagem encaminhou o material para Cássio Thyone Rosa, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e perito criminal aposentado. Após analisar as imagens, ele diz ver indícios de fraude processual.
Como os policiais estão no local, eles se tornam responsáveis pela preservação da cena do crime. Partindo da premissa de que houve uma ação com morte e o PM faz sinal positivo com a cabeça concordando que o local tem que ser lavado, estamos diante de um possível caso de fraude processual.
Cássio Thyone Rosa, Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Conteúdo sob análise. O vídeo foi encaminhado pelo UOL para a Ouvidoria das polícias, que irá analisar o caso.
SSP diz que casa foi lavada por um morador após local ter sido liberado pela perícia. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) diz que o caso é investigado pela Polícia Civil, com acompanhamento do Ministério Público e Poder Judiciário. "A Corregedoria [da PM] está à disposição para receber denúncias sobre a atuação do trabalho policial", informou a pasta, em nota.
Com 31 mortes, a operação é a mais letal de São Paulo desde o massacre do Carandiru, que terminou com a morte de 111 detentos após uma rebelião no presídio, em 1992.
O que se sabe sobre o caso
PM alega confronto, mas moradores contestam. Policiais militares informaram que atiraram após terem sido recebidos a tiros em uma tentativa de abordagem a um suspeito na tarde de ontem, em uma comunidade no bairro Saboó. Mas moradores dizem que a vítima não reagiu e foi baleada dentro da própria casa.
Casa onde homem foi baleado tinha sangue no chão e buracos de tiro na parede, como mostram vídeos feitos por moradores e encaminhados ao UOL (veja abaixo).
Outra denúncia de abuso. Agentes foram flagrados quebrando uma câmera de monitoramento de uma casa no Guarujá, na segunda-feira (19). A imagem registra cinco PMs no local. Um deles usa um gradil de ferro como escada para alcançar o equipamento. Em seguida, um colega de farda inutiliza a câmera com um pedaço de madeira. A SSP diz que as câmeras eram de criminosos.
Média de 1,7 morte por dia. As mortes na ação da PM na Baixada Santista começaram em 3 de fevereiro, após o assassinato, em Santos, de um soldado da Rota, a tropa de elite da corporação. Ou seja, foram três mortes a cada dois dias. É mais do que o dobro da média diária de mortes em comparação com a Operação Escudo, concluída em setembro de 2023, com 28 mortes em 40 dias, na mesma região. A Escudo também foi desencadeada após a morte de um PM.
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Quero receberSSP faz balanço de operação. A pasta diz ter prendido 681 pessoas, incluindo 254 procurados pela Justiça na ação intensificada desde o começo deste mês. A secretaria afirma ainda ter apreendido cerca de 160 quilos de drogas e 79 armas, incluindo fuzis.
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