Irmãos Brazão infiltraram miliciano no PSOL para espionar Marielle, diz PF

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão infiltraram um miliciano no PSOL, partido ao qual pertencia Marielle Franco, segundo investigação da Polícia Federal. Cabia a ele monitorar os passos da vereadora que, àquela altura, já tivera a morte decretada.

O que aconteceu

Laerte Silva de Lima foi escolhido pelos irmãos Brazão para o serviço, segundo a PF. A decisão foi tomada no segundo semestre de 2017, quando o homicídio começou a ser planejado. Marielle e o motorista Anderson Gomes foram mortos em março de 2018.

Ele repassava informações para Edmilson Macalé e Ronnie Lessa, contratados para assassinar a vereadora. Segundo a PF, o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do RJ, tinha garantido a impunidade aos assassinos.

Para encobrir o crime, o delegado fez uma exigência: "A execução não poderia se originar da Câmara dos Vereadores", conforme aponta trecho da decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Macalé também terminaria assassinado. Ex-sargento da PM, ele foi morto a tiros em Bangu, zona oeste do Rio, em novembro de 2021, e era próximos dos irmãos Brazão desde o começo dos anos 2000.

A participação de Laerte foi crucial para a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, segundo a PF. Ele contou aos irmãos Brazão que a vereadora seria contrária ao desejo deles de destinar uma área da cidade à exploração imobiliária. "[A infiltração] Resultou na indicação de que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia", revela trecho do relatório de Moraes sobre o papel do infiltrado.

Por volta do meio-dia do dia do homicídio (14 de março), Macalé esperava uma ligação de Laerte. Ele se surpreendeu que o telefonema partiu de Ronald Paulo Alves Pereira, que foi policial militar. A conversa tratava dos detalhes finais do plano de matar Marielle.

Conhecido como major Ronald, ele revelou o itinerário da vereadora. À noite, ela participaria de um evento na Casa das Pretas, na Lapa, bairro da região central do Rio.

Ronald foi condenado a 76 anos de prisão por quatro homicídios e ocultação de cadáver. O caso ocorreu em 2003, quando quatro jovens teriam sido torturados em uma casa noturna em São João do Meriti, na Baixada Fluminense.

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O carro em que Marielle e Anderson estavam foi fuzilado após deixar a Casa das Pretas. Os mandantes do assassinato foram presos somente neste domingo (24) depois que a PF entrou no caso.

O que dizem os suspeitos

Os irmãos Brazão negam envolvimento com a morte de Marielle. O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, disse que tem "certeza que ele é inocente. Ele não tem ligação com a Marielle, não conhecia".

A assessoria de imprensa do conselheiro disse que ele foi "surpreendido" com a determinação do STF. "Desde o primeiro momento sempre se colocou formalmente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos que entendessem necessários". O deputado federal disse que não há "qualquer motivação que possa lhe vincular ao caso e nega qualquer envolvimento com os personagens citados".

A defesa do delegado Rivaldo disse que ainda não teve acesso aos autos nem à decisão que decretou a prisão. Portanto, não vai se manifestar.

O UOL não conseguiu localizar a defesa do deputado Chiquinho Brazão.

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