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PF: Morte de Marielle foi idealizada pelos Brazão e planejada por Rivaldo

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) foi idealizado pelos irmãos Brazão e "meticulosamente" planejado pelo ex-titular da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, segundo aponta o relatório da investigação da Polícia Federal.

O que aconteceu

A PF considera que os irmãos Brazão e o delegado de polícia foram os autores do crime, que também matou o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018 na região central do Rio. Para os investigadores, os irmãos foram os mandantes, e o policial participou do planejamento do assassinato, além de interferir nas investigações.

"Apesar de não ter idealizado [o crime], ele [Rivaldo] foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato", diz o documento da PF. O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão e o delegado Rivaldo foram presos hoje após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Foi Rivaldo quem garantiu a impunidade do crime, segundo Ronnie Lessa, que executou os tiros contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes. As declarações de Lessa foram feitas em delação premiada à PF —na ocasião, ele também citou Chiquinho como mentor do caso.

O delegado exigiu que os disparos não poderiam acontecer na entrada ou na saída de Marielle da Câmara dos Vereadores, no centro do Rio. "Tal exigência afastaria a hipótese de crime político e, por consequência, a atribuição da Polícia Federal para investigar o caso", afirma a PF.

Ronnie Lessa justifica que a carta branca outorgada por Rivaldo aos irmãos Brazão é uma forma mais segura de se cometer homicídios na capital fluminense, tendo em vista que o ajuste prévio tem o condão de evitar um "bote", ou seja, extorsão decorrente de investigadores em face dos homicidas para que seus crimes não sejam devidamente investigados.
Trecho do relatório da PF

"É muito melhor o pré-pago que acertar antes o crime, né? Você acerta antes o crime do que esperar um bote, foram os termos dele [Domingos Brazão]. É melhor pré-pago do que disputar um bote, porque o bote sai mais caro", disse Lessa à PF.

Os irmãos Brazão (Chiquinho à esq. e Domingos ao centro) e Rivaldo Barbosa
Os irmãos Brazão (Chiquinho à esq. e Domingos ao centro) e Rivaldo Barbosa Imagem: Arte/UOL

Lessa afirmou em delação que foi procurado inicialmente por Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, para matar a vereadora. Em contrapartida, eles "ganhariam um loteamento a ser levantado nas imediações da rua Comandante Luís Souto, Tanque, no Rio de Janeiro", cita a PF.

Lessa relata reuniões com irmãos Brazão

Segundo a PF, o ex-PM aceitou a proposta ao ver uma "boa oportunidade de negócio e se desgarrar da imagem de ser um mero sicário [matador de aluguel]". Ele e Macalé se encontraram na sequência com o assessor pessoal de Domingos, Robson Calixto Fonseca —conhecido como Peixe ou Peixão, de acordo com a delação.

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Depois, Lessa disse ter se encontrado com Domingos, que contou ter colocado um infiltrado no PSOL. Foi nesse encontro que os irmãos Brazão falaram da exigência de Rivaldo sobre não cometer o crime na Câmara dos Vereadores.

Lessa investigou a rotina de Marielle e disse à PF que pediu para Macalé uma nova reunião para tentar derrubar a exigência do então chefe da Polícia Civil. "Foi estabelecido pelos irmãos Brazão que eles não poderiam passar por cima das ordens de Rivaldo", diz a PF.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou hoje que as investigações indicam que a regulação fundiária seria uma das motivações do crime. "Ela se opunha justamente a esse grupo que, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, queria regularizar terras para usá-las com fins comerciais, enquanto o grupo da vereadora queria utilizar essas terras para fins sociais, fins de moradia popular", afirmou o ministro.

O que dizem os suspeitos

Irmãos Brazão negam envolvimento com a morte de Marielle. O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, disse que tem "certeza que ele é inocente. Ele não tem ligação com a Marielle, não conhecia".

A assessoria de imprensa do conselheiro disse que ele foi "surpreendido" com a determinação do STF. "Desde o primeiro momento sempre se colocou formalmente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos que entendessem necessários". O deputado federal disse que não há "qualquer motivação que possa lhe [sic] vincular ao caso e nega qualquer envolvimento com os personagens citados".

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A defesa do delegado Rivaldo disse que ainda não teve acesso aos autos nem à decisão que decretou a prisão. Portanto, não vai se manifestar. O espaço segue aberto.

O UOL não conseguiu localizar a defesa de Chiquinho.

Assassinato completou seis anos em 2024

Em 14 de março de 2018, Marielle e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados na região central do Rio. Eles voltavam de um evento em que a vereadora palestrou quando um Cobalt prata emboscou o carro em que estavam e 14 tiros foram disparados. Nada foi roubado.

Suspeitos de cometer o crime foram presos. Os investigados como executores dos homicídios de Marielle e Anderson, os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ainda vão ser julgados.

Élcio também firmou acordo de delação premiada com a PF e confessou ter participado do crime. Ele apontou que Ronnie Lessa foi o autor dos tiros.

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A investigação do caso já foi comandada por cinco delegados diferentes e três grupos de promotores. O Ministério da Justiça e Segurança Pública escalou uma equipe para investigar o caso no início do governo Lula (PT).

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