SPTrans assume empresas após Justiça afastar 21 por suspeita de elo com PCC

A Prefeitura de São Paulo nomeou dois diretores da SPTrans como interventores em duas empresas de ônibus investigadas por suspeita de ligação com o PCC. Eles assumem a direção das viações por tempo indeterminado.

O que aconteceu

A gestão de Ricardo Nunes (MDB) segue decisão da Justiça contra a Transwolff e a UPBus, que estão na mira de uma operação do Ministério Público. Segundo a investigação, as empresas lavam dinheiro do tráfico de drogas, roubos e outros ilícitos.

O interventor da Transwolff será Valdemar Gomes de Melo, atual diretor de Planejamento de Transportes da SPTrans. Ele está na autarquia há 45 anos.

Wagner Chagas será o interventor da UPBus — atualmente ele é diretor de operações na empresa municipal e está há 40 anos no órgão. As empresas terão representantes também da Controladoria Geral do Município e da Secretaria da Fazenda. As nomeações foram publicadas em edição do Diário Oficial hoje.

A Justiça justificou a intervenção com o objetivo de "garantir a continuidade da prestação do serviço de caráter essencial", que é o transporte público. Foi determinado o bloqueio de mais de R$ 600 milhões em patrimônio das empresas.

A decisão também afasta 21 pessoas que trabalham nessas empresas. 15 funcionários são da UPBus e seis da Transwolff. "Tal medida apresenta-se com indispensável, não apenas pelos indícios já coligidos, mas para também e, principalmente, buscar fazer cessar atividade ilícita e até mesmo preservar a coleta da prova", afirma trecho da decisão.

Seis pessoas foram presas na operação hoje. Entre elas, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como "Pandora", dono da Transwolff, e Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff. A reportagem tenta localizar a defesa deles.

De acordo com a Receita Federal, os investigados detêm, juntos, o patrimônio total de mais de R$ 148 milhões. Eles movimentaram, apenas entre 2020 e 2022, mais de R$ 732 milhões em suas contas correntes.

Operações de compra e venda de imóveis e bens de luxo foram detectadas. Segundo o fisco trata-se de uma rede de holdings, empresas de participação e revendedoras de veículos de propriedade de pessoas relacionadas aos investigados. Entre os bens que passaram por essas empresas está o helicóptero usado numa emboscada para matar Gegê do Mangue e Paca — duas lideranças do PCC — em 2018.

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PCC tem tomado "contornos de máfia", com infiltração nos poderes do Estado, diz o promotor Lincoln Gakiya. "Infelizmente nesse caso detectamos que eles estão participando de serviço público essencial. Isso é típico de organizações mafiosas, já ocorreu na Itália", disse em coletiva na sede do MP.

Não haverá nenhuma paralisação no transporte público da cidade de São Paulo. Fornecedores não deixarão de receber. Interventores já estão nas empresas, não haverá problemas com funcionários. Absolutamente nada muda, apenas a questão da gestão das empresas. Fiz o decreto e tomei o cuidado de fazer uma boa escolha dos interventores.
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo

700 mil passageiros por dia

As empresas atuam na zona leste e sul da cidade e transportam cerca de 700 mil passageiros por dia. Juntas, elas receberam mais de R$ 800 milhões de remuneração da Prefeitura de São Paulo em 2023.

Foram R$ 748 milhões para Transwolff e R$ 81,1 milhões para a UPBUs, segundo relatório do Ministério Público de São Paulo, obtido pelo UOL. Segundo o promotor, as investigações não apontaram omissão por parte da prefeitura.

Em março, passageiros quebraram equipamentos do Terminal Varginha por causa do atraso na partida do ônibus da Transwolff. Na ocasião, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, disse que os problemas com a empresa estão acontecendo de forma recorrente. A empresa admitiu não estar oferecendo um serviço dentro dos padrões ideais.

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