População indígena quase dobra em 12 anos no país; 37% vivem em reservas

Mais brasileiros se autodeclararam índígenas no país, levando essa população a quase dobrar em 12 anos no Brasil. Pouco mais de um terço, porém, mora em reservas, de acordo com dados do Censo Demográfico 2022, detalhados nesta sexta-feira (3).

O que aconteceu

Quase 1,7 milhão de pessoas se autodeclaram indígenas — o equivalente a 0,83% da população total (200 milhões). Em 2010, 897 mil pessoas se autodeclaravam indígenas — um crescimento de 88%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Há uma explicação metodológica para o aumento. No Censo 2022, foi estendida para pessoas que não vivem em territórios indígenas a aplicação da pergunta "Você se considera indígena?". Isso explicou o aumento de pessoas do grupo residentes em outras localidades (municípios). O IBGE tambem diz que realizou um extenso processo de consulta às lideranças e comunidades indígenas.

A maior parte dos indígenas não vive em território demarcado. De acordo com o IBGE, apenas 36,7% desta população reside em terras oficialmente demarcadas. O Sudeste é a região com maior percentual de indígenas vivendo fora de territórios oficiais.

Mais de 70% dos indígenas se concentram no Norte e no Nordeste. São 753.780 no Norte e 529.128 no Nordeste. Na sequência aparecem as regiões Centro-Oeste, com 200.153 indígenas, Sudeste, 123.434 e Sul, 88.341.

Há registros de pessoas indígenas em 4.833 dos 5.570 municípios brasileiros (86,7%). Para a pesquisa, foram considerados 501 territórios indígenas oficialmente demarcados.

Povos indígenas isolados não foram recenseados. Por orientação da Funai, o IBGE não acessa ou faz contato populações isoladas — há 114 registros de povos que vivem em isolamento, segundo o banco de dados da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato.

Eu falei para ela [recenseadora] que eu não era parda. Minha família é indígena. Meus avós paternos e o meu pai eram indígenas. E eu herdei isso e me orgulho disso. Sempre carreguei os traços indígenas, que é do povo da minha terra.
Ana Brabo Rocha, 45, moradora de Belém (PA)

Um dos fatores que contribuíram para o aumento da população Indígena no período foi a melhoria na coleta dos dados
IBGE

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Mais da metade dos indígenas tem menos de 30 anos

56% da população indígena tem até 29 anos, de acordo com o Censo 2022. Só 10,6% tem mais de 60 anos.

Há maioria de homens entre os indígenas que moram em territórios delimitados. Em 71,4% das terras demarcadas há mais homens que mulheres. Reservas onde mulheres predominam representam 28,5%.

Fora dos territórios oficiais, mulheres predominam. Em 62% dos municípios há mais mulheres indígenas do que homens indígenas (38,1%).

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Ana Braba Rocha, indígena que mora em Belém
Ana Braba Rocha, indígena que mora em Belém Imagem: Arquivo pessoal

Me orgulho das origens e de onde sou. Antes eu não podia levantar esse orgulho, me reafirmar. Mas por conta de tudo que sei, e pela minha família, não tenho dúvidas.
Ana Brabo Rocha, indígena que vive fora de reserva

Terra Yanomami tem mais índígenas

Localizada entre o Amazonas e Roraima a Terra Yanomami tem o maior número de indígenas (27.178 pessoas). O território é seguido por Raposa Serra do Sol, em Roraima — onde vivem 26.492 indígenas — Terras Indígenas (TIs) são áreas demarcadas que garantem a autonomia e organização social dos povos indígenas.

Também existem exemplos de territórios indígenas localizados dentro ou próximo de grandes perímetros urbanos. Na comunidade do Jaraguá, na cidade de São Paulo, vivem 92 pessoas — sendo 78 indígenas.

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Lideranças indígenas têm mostrado descontentamento com a demora para demarcações. Quando assumiu, o presidente Lula prometeu 14 demarcações em cem dias, mas apenas 10 saíram do papel.

Ministério dos Povos Indígenas pede maior orçamento para órgãos associados. A pasta afirmou ao UOL que espera um incremento da verba para que "possa ampliar a quantia de projetos, programas, servidores, fiscalização e combate aos extrativistas ilegais do país (mineradores, garimpeiros, madeireiros) e grileiros, que se apropriam de riquezas naturais e contaminam o solo, o leito dos rios e os corpos de indígenas com mercúrio."

Ministra diz ser preciso ampliar o reconhecimento do "verdadeiro rosto" do país. Para Sonia Guajajara, "a discussão social sobre as necessidades, demandas e exigências dos indígenas brasileiros não é um tema étnico exclusivo dos povos originários", devendo toda a sociedade brasileira dar visibilidade à pauta.

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