Após resgate até com carrinho de mão, cidade do RS recebe helicóptero do RJ
Após dois dias de apelo por ajuda e de resgatar uma idosa até com carrinho de mão, a Prefeitura de Bento Gonçalves (RS) recebeu na tarde desta sexta-feira a ajuda de um helicóptero enviado pelos bombeiros do Rio. Ao todo 18 aeronaves estão atuando no resgate aos atingidos, segundo o governador Eduardo Leite (PSDB).
O que aconteceu
Dois helicópteros foram enviados ao Rio Grande do Sul pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Um deles está na Serra gaúcha, onde fica Bento Gonçalves, cidade com pouco mais de 123 mil habitantes. Além disso, 40 bombeiros foram enviados para o Rio Grande do Sul do RJ.
Até então, resgates estavam sendo feitos de forma improvisada em Bento Gonçalves. Uma idosa chegou a ser retirada de uma área de risco num carrinho de mão. "Aqui é uma encosta que está caindo. Tem pessoas fraturadas, pessoas com frio, molhadas, não vamos deixá-las. Vamos salvar todas", disse o prefeito Diogo Segabinazzi Siqueira (PSDB).
"A gente não vai ficar esperando. Estamos fazendo do nosso jeito", declara o prefeito. "Precisamos de helicóptero de alta potência, que voe com chuva, com neblina, e que não voe apenas com sol e céu de brigadeiro", acrescenta, em entrevista ao UOL.
Há uma sensação de impotência, são muitos dias sem o helicóptero, afirma Siqueira. "O sentimento é um aperto do coração, angústia, mas, por outro lado, de orgulho do nosso povo. O pessoal está se virando, está se arriscando para ajudar o próximo."
O problema está no resgate em áreas de difícil acesso, sem estradas, devido aos deslizamentos. "Temos auxílio dos bombeiros, polícias, exército... O que não tem é helicóptero da Defesa Civil Nacional, com visores noturnos, com capacidade para voar em qualquer tempo. Aqui a gente não consegue receber auxílio que não seja dessa forma", disse o prefeito.
Há ainda 400 pessoas que precisam ser retiradas de áreas de risco em Bento Gonçalves. Outras 400 já foram removidas desses locais. "Carregamos da nossa forma. Amarramos, retiramos de rapel, fazemos de tudo o que é preciso para salvar vidas", afirma o prefeito.
Comandante do Exército rebate críticas. O comandante do Comando Militar do Sul, Hertz Pires do Nascimento, disse em coletiva de imprensa que as "condições de tempo impediram uma ação mais efetiva" em algumas áreas. "Não tínhamos condições de decolar. E, por questões de segurança, nós precisamos entender que uma crise não pode gerar outra", disse o militar.
Cidades estão isoladas
No Vale do Taquari, o município de Relvado está isolado. Falta medicamentos, oxigênio, água e alimentos. A produção agrícola, principal fonte de renda da cidade, está perdida. Segundo o prefeito Carlos Luiz Fraporti (PP), há quatro pessoas desaparecidas. Os nomes não foram divulgados.
Ainda há pessoas ilhadas no interior de Relvado, que tem cerca de 2 mil habitantes. "A cidade está destruída, casas foram embora. Falta comida, combustível, água, estamos sem energia, isolados. Foi uma catástrofe. Estamos sem comunicação. Instalamos equipamento por satélite para ter sinal, agora estamos conseguindo nos comunicar", disse o prefeito.
Já em Muçum, 80% da cidade ficou debaixo d'água, segundo o prefeito Mateus Giovanoni Trojan (MDB). A cidade foi uma das mais atingidas na enchente de setembro do ano passado, quando 54 pessoas morreram. "Estamos, novamente, em uma situação grave, caótica e de calamidade total. Dessa vez, tivemos muitos deslizamentos, enxurradas, obstrução de vias, pelas chuvas extremas, um fenômeno atípico", salienta, em entrevista ao UOL.
Choveu 740 mm em um intervalo de 120 horas em alguns lugares da cidade, segundo o prefeito. "O volume é absurdo, histórico em um curto período de tempo".
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Quero receberCidade está sem acesso por terra e ainda não havia se recuperado de enchente anterior. "São ruas inteiras destruídas, estamos isolados aqui. Não se consegue acessar ou sair, o que dificulta o trabalho de remoção das famílias. Sem ajuda externa, com menos maquinário, fica complicado", ressalta. O prefeito observa que estão a caminho da cidade suprimentos - como medicamento, comida e água -, porém, por conta das condições das estradas, não conseguem chegar ao seu destino.
É triste, impactante, estávamos num momento de virada de chave. As pessoas com sentimento de pertencimento, autoestima com o local que vivem, agora temos todo esse impacto, gerado em nós porque a gente se desanima. Mateus Giovanoni Trojan (MDB), prefeito de Muçum
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