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Porto Alegre fecha aeroporto, desliga bomba e enfrenta racionamento de água

Do UOL, em São Paulo*

07/05/2024 00h06

Porto Alegre enfrentou mais consequências dos temporais nesta segunda-feira (6). O prefeito, Sebastião Melo (MDB), recomendou que moradores deixassem os bairros Cidade Baixa e Menino Deus e pediu que quem tem condições se desloque para o litoral do estado. Pela manhã, a cidade precisou desligar bombas de água, para evitar choques elétricos, e colocou a população sob racionamento de água. Alagado, o Aeroporto Internacional Salgado Filho foi fechado para pousos e decolagens.

O que aconteceu

O Rio Grande do Sul contabilizou 85 mortos e 134 desaparecidos até agora. O estado tem sido atingido há mais de uma semana por fortes chuvas, que causaram inundações e bloqueios de rodovias e deixaram moradores ilhados, sem água e sem energia elétrica. Segundo boletim das 18h, da Defesa Civil, 47,6 mil estão em abrigos —mais que o dobro dos 20.070 divulgados seis horas antes. O número de desalojados subiu para 153.824. Já o total de afetados pela chuva chegou a 1.178.226.

O impacto alcança quase todo o estado. Dos 497 municípios gaúchos, 385 sofreram alguma consequência dos temporais, o que corresponde a 78%. Na região metropolitana de Porto Alegre, a água deixou pessoas ilhadas e fechou hospitais em Canoas. O prefeito, Jairo Jorge (PSD), diz que a água vai demorar dois meses para baixar.

O prejuízo financeiro do estado já passa de meio bilhão de reais. É o que estima a Confederação Nacional de Municípios.

O presidente Lula encaminhou ao Congresso, nesta segunda, uma proposta para acelerar o envio de recursos ao RS. O decreto, que determina estado de calamidade pública no estado até 31 de dezembro de 2024, já foi aprovado pelos deputados em votação simbólica.

Governo e Congresso também negociam para liberar R$ 1,06 bilhão em emendas para o RS. A proposta é que o Congresso Nacional vote na quinta-feira (9) a liberação de emendas individuais da bancada gaúcha.

Alagamento e racionamento de água

Em Porto Alegre, o nível do Guaíba alcançou os 5,28 metros —2,28 metros acima do seu limite para inundação. Desde a semana passada, o lago ultrapassou o recorde da maior cheia registrada até então: o nível de 4,76 metros, em 1941.

Apesar de a chuva ter diminuído na capital, bairros seguem alagados. Apenas 4 das 23 casas de bombeamento de água pluvial estão operando na cidade, em atualização das 18h. Segundo a prefeitura, quando a cota de inundação chega a 3 metros, elas não conseguem mais operar com toda a sua capacidade.

A de número 16 foi desligada, pela manhã, por risco de choque elétrico. A decisão foi da concessionária CEE Equatorial, informou o prefeito Sebastião Melo (MDB). Em rede social, ele recomendou que moradores deixassem os bairros Cidade Baixa e Menino Deus. "Quero recomendar aos moradores que saiam dessas regiões, se puderem. Não fiquem no andar térreo".

O alagamento na região também afetou o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs). O data center e o quadro elétrico foram desligados. "Objetivo é preservar a infraestrutura instalada e permitir o retorno dos serviços sem perda de dados", informou o órgão, em nota.

A cidade está sob racionamento de água. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial nesta segunda. Ele restringe o uso da água para consumo essencial. A prefeitura pede que se evite lavar carros, calçadas e fachadas. A orientação também vale para regas de jardins e gramados, além do uso em salões de beleza, clínicas estéticas, academias e banho e tosa de animais.

Situação do Aeroporto Internacional Salgado Filho após as fortes chuvas no RS Imagem: Reprodução/X/@gremiobrum

O aeroporto Internacional Salgado Filho emitiu, hoje, aviso internacional sobre a suspensão de voos por tempo indeterminado. O aviso tem prazo até 30 de maio. Em nota, a Fraport Brasil, que administra o aeroporto, diz que não há previsão de retomada das operações.

Vias bloqueadas dificultam saída de moradores. Porto Alegre tem 62 vias totalmente e 13 parcialmente bloqueadas. O acesso seguro de entrada e saída da capital é por meio da RS-118, da RS-040 e da avenida Bento Gonçalves, informou a Prefeitura de Porto Alegre.

458 mil sem luz e 750 mil sem água

6.mai.2024 - Vista aérea de ruas inundadas em Porto Alegre (RS) após tempestades atingirem o Rio Grande do Sul. Imagem: Carlos FABAL/AFP

Há 750.364 mil clientes da Corsan sem abastecimento de água. O número representa 26% do total dos clientes, informou a Defesa Civil, também no boletim das 18h.

Há 270 mil pontos sem luz, entre áreas atendidas pela RGE Sul. A CEEE Equatorial não apresentou atualização ao fim do dia. Em último comunicado, das 13h, a empresa somava 188 mil clientes sem energia elétrica.

Dezenas de municípios estão sem serviços de telefonia e internet das operadoras Tim, Claro e Vivo.

Em meio às chuvas, algumas cidades registram assaltos, saques e até assassinato. No município de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, diversos estabelecimentos foram saqueados nos últimos dias. Pessoas não identificadas têm invadido mercados, lojas e farmácias e levado os produtos das prateleiras. Ainda em Arroio do Meio, um homem foi morto após ser atingido por um espeto de churrasqueira. Outra pessoa foi baleada e levada para um hospital de Lajeado.

Em Porto Alegre, diversos comércios também foram invadidos. Em Canoas, homens armados em barco e jet skis têm rondado as casas abandonadas para praticar assaltos, e há relatos de assalto em albergues da cidade.

Além dos saques e roubos nos municípios afetados, golpistas aproveitam a situação e desviam doações enviadas aos gaúchos. O governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), lamentou essa situação e disse que "no meio de tanta solidariedade, tem aproveitadores que usam da sensibilidade das pessoas" para roubar e aplicar golpes via Pix.

Mais chuva nos próximos dias

A previsão é de chuvas intensas em algumas áreas do Rio Grande do Sul nas próximas 24 horas. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu alerta para tempestades entre hoje e amanhã. Pedro Osório, Bagé, Arroio Grande e outras cidades próximas à fronteira com Uruguai, devem ser afetadas. Também há risco de energia elétrica, estragos em plantações, queda de árvores, além de alagamentos.

*Colaboraram Mateus Coutinho, Caíque Alencar e Lorena Barros

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