Também atingidos, voluntários seguem atuando: 'Vi o resgate dos meus pais'

Diversos voluntários que atuam no resgate de vítimas das chuvas em Porto Alegre convivem com dramas de familiares e amigos, ou mesmo perderam tudo, mas escolheram atuar na linha de frente para ajudar outras pessoas.

Estudante foi surpreendida pelo resgate dos próprios pais

Sob supervisão de professoras, a estudante de psicologia Rafaela Carus, 20, dá atendimento psicológico
Sob supervisão de professoras, a estudante de psicologia Rafaela Carus, 20, dá atendimento psicológico Imagem: Lucas Azevedo/UOL

Voluntária de psicologia foi surpreendida ao ver que os pais foram resgatados. A estudante de psicologia Rafaela Carus dos Santos, 20, faz parte do grupo de psicólogos do "hospital de campanha" montado por voluntários, sob o viaduto José Eduardo Utzig. na zona norte de Porto Alegre. A estrutura oferece apoio aos resgatados da enchente na região.

Os próprios pais dela foram levados para o local onde Rafaela é voluntária, sem ela saber. Ela conta que eles estavam ilhados na empresa da família quando foram resgatados.

Vi o resgate dos meus pais, mas não sabia que eles iam sair por aqui. Foi um reencontro muito legal

"Eles ficaram quatro dias dentro da empresa tentando proteger o maquinário", relata. "Mas não teve jeito. Temos fornecedores e funcionários para pagar."

A estudante tem atuado há mais de uma semana na linha de frente, supervisionada por uma professora. "A gente auxilia nos primeiros socorros psicológicos, tentando diminuir os transtornos pós-traumáticos dessas pessoas."

Local oferece atendimento completo. O resgatado é avaliado por médicos, passa pela enfermagem, tem acompanhamento psicológico e recebe comida e roupas.

Médico ajudou a salvar bebê prematuro

O médico Luís Antônio de Moraes Neto foi um dos primeiros na estrutura de emergência para receber os feridos
O médico Luís Antônio de Moraes Neto foi um dos primeiros na estrutura de emergência para receber os feridos Imagem: Lucas Azevedo/UOL
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Médico mastologista foi um dos primeiros a montar a estrutura de emergência para receber os feridos. Luís Antônio Abreu de Moraes Neto está no local desde domingo. Ele conta que a família em Porto Alegre está em segurança, mas amigos no interior do estado tiveram que deixar suas casas.

Salvar um bebê prematuro foi o atendimento mais impactante para o médico. O socorro mobilizou dezenas de pessoas.

"O bebê estava em casa havia mais de 48 horas, sem alimentação", conta Moraes Neto. "A mãe não conseguia amamentar desde o início. Recebemos essa criança no estado mais crítico possível. Os colegas conseguiram dar todo o suporte com roupa, comida, atendimento médico. Essa criança saiu viva e alimentada daqui."

Aqui somos médicos, enfermeiros, auxiliares e psicólogos fazendo escalas num fluxo inteiro de atendimento.
Luiz Antônio de Moraes Neto, médico

Segundo Moraes Neto, a maioria das pessoas atendidas tem hipotermia. "Tem pessoas há muito tempo dentro da água. São adultos e crianças que chegam aqui hipotérmicas."

A preocupação, agora, é com a previsão do tempo, que aponta para frio extremo nos próximos dias. O médico conta que estão sendo tomadas medidas para acolher um número maior de pessoas hipotérmicas. "Estamos montando uma estrutura de luz, tentando obter algum tipo de calefação para os próximos atendimentos que chegarão com o frio", explica.

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"Estamos à disposição para ajudar e avaliar os danos, porque será longa essa trajetória. O frio vai chegar, e precisaremos de muita doação e mobilização da população para ajudar os necessitados."

Enfermeira foi desalojada

A enfermeira Kelly Cataneo, 43, atende quem tanto quem é resgatado quanto quem resgata
A enfermeira Kelly Cataneo, 43, atende quem tanto quem é resgatado quanto quem resgata Imagem: Lucas Azevedo/UOL

Enfermeira desalojada é voluntária em ponto de resgate. Kelly Cataneo, 43, é moradora do bairro São João e teve o prédio invadido pela enchente.

"A rua está toda alagada. Saí de casa com minha mãe e meus bichos antes que a água invadisse o apartamento", conta Kelly. Segundo ela, ver que os locais que diariamente frequentava estão sob a água gera muita aflição. "Isso tudo nos comove muito."

Ela tem dado apoio aos resgatados feridos e aos próprios voluntários. Segundo Kelly, a maioria dos que buscam atendimento tem lesões que ocorreram ao fugirem das águas ou por mordidas de animais durante os resgates.

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Pais de fisioterapeuta estão ilhados

O fisioterapeuta Deyvid Pontes, 33, atende os voluntários que fazem os resgates
O fisioterapeuta Deyvid Pontes, 33, atende os voluntários que fazem os resgates Imagem: Lucas Azevedo/UOL

Fisioterapeuta atua como voluntário perto da casa dos pais, que estão ilhados. Deyvid Pontes, 33, trabalha na tenda de fisioterapia no "hospital de campanha"; ele atende os voluntários que fazem resgates.

"Meus pais não querem sair de casa por nada", diz Pontes. "Estão seguros, mas o acesso ao prédio está totalmente alagado."

Apesar da preocupação com os familiares, Pontes vê como um alento o trabalho dos voluntários. "É uma alegria ver todo esse pessoal ajudando o próximo."

O que mais chama a atenção é a capacidade do ser humano em fazer o bem. Aqui não tem diferença de religião ou raça.
Deyvid Pontes, fisioterapeuta

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