'Minha casa continua com 2,5 metros de água', diz prefeito de São Leopoldo
A enchente que atingiu São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, neste mês deixou mais de 100 mil pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas. Entre elas, está o prefeito Ary Vanazzi (PT). "Estamos aqui, acampados", diz em entrevista ao UOL.
Segundo o prefeito, São Leopoldo teve, ao todo, 180 mil pessoas atingidas pelas enchentes. A gestão municipal contabiliza cerca de 34 mil casas completamente debaixo d'água e 14 mil pessoas dormindo nos 107 abrigos que estão abertos na cidade.
O prefeito mora no bairro de Campina, que está inundado. "Minha casa continua com 2,5 metros de água ainda. Ela foi toda coberta. Praticamente, só sobrou o telhado - parte do telhado. Vou esperar a água baixar para depois ver o que a gente vai fazer", afirma.
Eu nunca vivi isso, eu moro há 40 anos ali. Tragédia como essa a gente não tinha visto ainda.
Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo
Ele classifica a atual situação da cidade como "ainda bastante dramática": "Nós começamos a tirar água na quinta-feira (16). Com as bombas e com a água passando por declividade, nós devemos, até sexta-feira (24), ter uma situação bem melhor", avalia.
A sede da prefeitura, que fica à beira do rio dos Sinos, teve todo o primeiro andar inundado. A água foi retirada, com auxílio das bombas, na sexta-feira (17). Agora, o prédio está em fase de limpeza. A previsão é de que o edifício volte a ser utilizado ainda nesta semana.
A perda, no entanto, ainda é indecifrável. "Documentação, principalmente os protocolos que nós tínhamos. Afetou a área da Receita, que era no primeiro piso. Perdemos, talvez, 300 computadores. Agora nós vamos demorar pra repor a área financeira", diz.
Bairros pobres sem assistência
A reportagem relatou ao prefeito o que viu e ouviu durante um dia inteiro que permaneceu nos bairros Rio dos Sinos e Vila Progresso, dois dos mais pobres do município. Os moradores dizem que foram esquecidos pelos governos federal, estadual e municipal, seja no momento do resgate, seja no segundo momento, que é o atual, de levar mantimentos.
"Primeiro, a população foi avisada que tinha que sair de casa. Nós avisamos na quarta-feira (1º) com um carro de som. Fizemos um grande movimento, dizendo que a enchente ia ser grande e que as pessoas tinham que sair de casa para um lugar mais alto. Ninguém saiu de casa", afirma Vanazzi.
Algumas pessoas chegaram a deixas suas casas, mas, com relatos de roubos e furtos que estavam ocorrendo, decidiram retornar e permanecer ilhadas, dependendo da chegada de vizinhos que passam o dia levando comida, mantimentos, roupas e água para que esses moradores consigam sobreviver.
"Na sexta-feira (3), quando a chuva começou a descer e o rio começou a aumentar, a gente avisou: sexta à noite, sábado e as pessoas ficaram olhando. Sentaram na cadeira de praia, na calçada, ficando por ali, observando", complementa o prefeito. A água começou a invadir os bairros no dia seguinte.
De acordo com o prefeito, nessa região, existem seis postos de saúde e 18 escolas municipais debaixo d'água.
Incongruências
Para as pessoas que decidiram permanecer ilhadas por medo da violência, o prefeito diz que a gestão municipal tem entregado comida, com auxílio do Exército. "Se você precisa de remédio, a gente tem. Se você precisa de comida, a gente leva. Então, a gente está atendendo elas lá, onde elas estão", afirma.
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Quero receberDurante as nove horas que o UOL permaneceu nessa região, no domingo (19), não visualizou nenhuma força pública, de qualquer esfera, sobre as águas. Mas observou dezenas de vizinhos cruzando as ruas sobre barcos para auxiliar os moradores com o que diziam precisar.
"Na volta para casa, todas elas estão no programa que o governo federal lançou, do Pix de R$ 5.100". O prefeito disse que, além disso, existirá um programa para reformas das casas.
Colônia alemã
Em 25 de julho, a cidade completa 200 anos. São Leopoldo, conhecida por ser o berço da imigração alemã no Brasil, é a única cidade do país protegida por dois diques, um em cada ponta.
Nós temos que ampliar o DIC em um metro de altura a mais, a base dele, isso é uma obra cara, isso precisa toda a inteligência nacional, estadual, municipal, a sua história, para recuperar esse sistema de drenagem, de proteção da cidade de São Leopoldo. Esses diques, inclusive foram construídos e, em parte, financiados pelo governo alemão.
O prefeito diz que, em seis dias, a gestão construiu dois diques, de maneira emergencial, para proteger a cidade da entrada da água. Agora, planeja um projeto a longo prazo para recuperar o sistema.
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