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'Dor e revolta', diz filha de Marielle após vídeo da delação de Lessa

A estudante Luyara Franco, filha de Marielle Franco, disse que a família acompanhou com "dor e revolta" a reportagem que mostrou o ex-PM Ronnie Lessa afirmando que os mandantes da morte da vereadora ofereceram loteamentos clandestinos no Rio para a instalação de uma milícia.

O que aconteceu

Para a estudante, a delação "escancarou toda perversidade em torno do crime" contra a vereadora e o motorista dela, Anderson Gomes. Lessa afirmou que receberia US$ 10 milhões pelo assassinato, além de passar a ter o comando da milícia. Segundo ele, a exploração do negócio criminoso renderia mais de US$ 20 milhões. A declaração foi dada em delação premiada, cujo vídeo foi exibido pelo Fantástico, da TV Globo, no domingo (26).

Filha diz que continuará buscando a conclusão do caso. "Apesar da saudade, sigo firme e atenta na busca por total elucidação do caso e por justiça", escreveu a estudante no X (antigo Twitter) nesta segunda-feira (27).

Uma nota conjunta de Luyara com o Instituto Marielle Franco, publicada no Instagram, também pede a responsabilização de todos os envolvidos. Ainda segundo o texto postado, todos trabalharão em busca de medidas de reparação para as famílias envolvidas e para que casos parecidos não ocorram novamente.

O que Lessa disse na delação?

Lessa, que admitiu ter matado a vereadora, contou que ficou impactado com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Segundo o ex-PM, os lotes foram oferecidos a ele e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, assassinado em 2021. "Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (...) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente".

Ele não citou quando o empreendimento teria início, mas disse que seria um dos donos. "A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás... A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto".

Na delação, ele confessou o crime e contou que faria parte de uma "sociedade" com os Brazão. "Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade".

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Segundo Lessa, Marielle era considerada "uma pedra no caminho". "Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho".

O atirador também citou o delegado Rivaldo Barbosa como um dos autores intelectuais do crime. Também preso, Barbosa foi apontado como "peça-chave" na consumação dos homicídios de Marielle e Anderson Gomes. Segundo Lessa, o delegado teria cuidado para que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime.

Ronnie Lessa está preso desde março de 2019. A arma usada no crime nunca foi encontrada.

O que dizem as defesas

Os Brazão negam autoria do crime. Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, que também está preso, negam participação nos assassinatos. Os advogados de Domingos Brazão disseram ao Fantástico que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa. Argumentaram ainda que não há provas da narrativa apresentada.

A defesa de Chiquinho afirmou que a delação de Lessa "é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades".

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Rivaldo Barbosa também nega envolvimento no crime. Ele foi preso por suspeita de colaborar com os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco. A defesa do delegado destacou que ele nunca teve contato com os irmãos Brazão e disse ainda que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Os advogados também criticaram a atuação da PF ao pontuar que o relatório da investigação se baseia só nas palavras de Ronnie Lessa.

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