'Rivaldo é nosso': Irmãos Brazão consideravam delegado um 'guru', diz Lessa

O ex-policial Ronnie Lessa, que confessou ter matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, disse em delação à PF (Polícia Federal) que os irmãos Brazão, supostos mandantes do crime, consideravam o delegado Rivaldo Barbosa como um "guru".

O que aconteceu

Em um manuscrito anexado ao processo, Lessa diz que Chiquinho e Domingos Brazão reverenciavam o ex-chefe da Polícia Civil do Rio. "Seu nome era reverenciado como uma espécie de guru, como uma garantia para o bom desfecho da missão e como uma autêntica 'carta branca' para o plano".

Na primeira reunião para discutir o crime, os irmãos teriam dito que "a DH [Delegacia de Homicídios] já está no bolso, lá é tudo nosso". O também ex-policial Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, teria brincado: "pô, padrinho, se eu soubesse que o senhor tinha esse contato, eu não tinha nem sido preso. Foi a equipe do Rivaldo que me prendeu [prisão por homicídio anos antes].

Um dos irmãos teria respondido: "pô, negão, tu não se comunica, cara. O Rivaldo é nosso, ele que segura tudo lá. Sem o aval dele ninguém faz nada. Tem que bater cabeça primeiro para ter carta branca. Sai mais barato o 'pré-pago' do que arriscar um bote".

O delegado também foi citado por Domingos, segundo Lessa, quando discutiam o local de partida para o assassinato, no segundo encontro. Eles haviam sugerido a partir da Câmara Municipal, mas o conselheiro do TCE-RJ retrucou: "É exigência do Rivaldo, temos que cumprir do jeito que ele determinou. Não podemos passar por cima das ordens dele".

Já na terceira reunião, o delegado foi mencionado como garantia de que a Polícia Civil do Rio "estava na mão de ponta a ponta". "Rivaldo está no circuito diretamente com a gente. Ele se comprometeu conosco que vai resolver, até porque já recebeu para isso desde o ano passado. Podem relaxar porque nós já estamos direcionando o canhão para outro lado, estamos dando a nossa palavra".

Ronnie Lessa ainda disse na delação que foi dito a ele que Rivaldo "vai ter que dar um jeito nisso" porque era "pré-pago". O ex-policial descreve um clima de tensão e surpresa com a repercussão do caso. "A coisa já estava tensa e já tinha saído do controle. Ninguém esperava aquilo, então, eles demonstraram preocupação máxima, e nós estávamos preocupadíssimos, todo mundo estava preocupado demais".

O UOL tenta contato com a defesa do delegado Rivaldo Barbosa sobre esse novo trecho da delação. Se houver resposta, o texto será atualizado.

Nesta sexta, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo da delação de Ronnie Lessa. Ele também autorizou que o ex-policial seja transferido para Tremembé.

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Papel de Rivaldo

O delegado Rivaldo Barbosa é citado como um dos autores intelectuais do crime. Preso, Barbosa foi apontado como "peça-chave" na consumação dos homicídios de Marielle e Anderson Gomes. Segundo Lessa, o delegado teria cuidado para que os suspeitos não fossem incomodados pelo inquérito aberto para investigar o crime.

Delegado assumiu chefia da Polícia Civil do Rio um dia antes do assassinato de Marielle. O relatório da PF apontou que Rivaldo teria recebido R$ 400 mil para atrapalhar as investigações do caso.

Ele nega envolvimento no crime. A defesa do delegado afirma que ele nunca teve contato com os irmãos Brazão. Diz ainda que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Os advogados também criticaram a atuação da PF ao pontuar que o relatório da investigação se baseia só nas palavras de Ronnie Lessa.

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