Mesmo que 'solitário', autor de ataque foi instigado pela política do ódio
As investigações sobre as explosões na praça dos Três Poderes em Brasília ainda estão no início, mas as narrativas políticas já se instalaram.
Para a esquerda, um atentado contra o Estado Democrático de Direito, conectado com o 8 de Janeiro, que visava a morte dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Para a direita, um "lobo solitário" da terceira via, que fazia postagens até contra Jair Bolsonaro, com problemas de saúde mental.
As versões dos dois espectros políticos chegam também ao impacto que o atentado deve ter na chamada PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da anistia, que prevê perdão para os condenados pelos ataques do 8 de Janeiro e a recuperação dos direitos políticos de Bolsonaro.
Para a esquerda, o episódio é um exemplo de que não se pode anistiar criminosos, ou tudo vai se repetir. Para a direita, o país precisa de pacificação.
Mas quais são os fatos que temos até agora sobre as explosões?
O chaveiro Francisco Wanderley Luiz morreu ao tentar entrar no STF com explosivos. Ele estava fantasiado de coringa. Sua ex-esposa disse à PF que o objetivo era matar o ministro Alexandre de Moraes.
Seu carro explodiu no estacionamento da Câmara dos Deputados, e os policiais desarmaram com um robô uma bomba em sua casa, em Ceilândia (DF). Postagens feitas por Wanderley Luiz em seu Facebook e mensagens no seu WhatApp atacam políticos e as instituições.
Com base nesses fatos, a PF já concluiu dois pontos importantes: o crime foi premeditado e o autor é um extremista de direita. Independentemente de eventual postagem sobre Bolsonaro, ele fala claramente em bombas contra "comunistas" e ataca o "sistema".
Os investigadores ainda apuram se Wanderley Luiz teve comparsas e financiamento. Porém, as informações disponíveis nos permitem uma conclusão política sobre o assunto.
Ainda que o inquérito demonstre lá na frente que ele é um maluco que agiu sozinho, seus atos são indissociáveis do clima de polarização e de violência política que tomou conta do Brasil e do mundo por causa dos métodos utilizados pela chamada extrema direita.
Métodos que estimulam o ódio, que desprezam as instituições democráticas, que questionam sem provas os resultados das eleições, que refutam a importância dos ritos de passagem de poder.
Existe muita indignação legítima na sociedade contra a corrupção e o status quo da política, mas não há solução fora da democracia.
E não pode haver anistia geral para aqueles que desprezam a democracia ou que só recorrem a ela quando lhes convém.
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