Rio registra média de 17 confrontos armados por dia, diz estudo
A região metropolitana do Rio de Janeiro tem uma média de 17 conflitos armados por dia, indica o estudo "Grande Rio sob disputa: Mapeamento dos Confrontos por Territórios", elaborado em uma parceria do Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) com o Instituto Fogo Cruzado.
O que aconteceu
Levantamento rastreou 38.271 confrontos armados no Grande Rio entre 2017 e 2022, com média de um tiroteio a cada 85 minutos. O estudo identificou as ações violentas em 1.225 bairros ao longo desse período, incluindo principalmente operações policiais e disputas por território entre facções rivais.
Os dados se baseiam apenas em conflitos envolvendo disputa por território entre grupos criminosos, envolvendo ou não as forças de segurança pública. Assassinatos com o emprego de arma de fogo ou roubos onde o criminoso atira não foram incluídos. O estudo foi feito com base no cruzamento dos registros do Geni-UFF e do Fogo Cruzado com o ISP (Instituto de Segurança Pública) e com o Disque-Denúncia.
A pesquisa mapeou 15 bairros com conflitos crônicos por serem frequentes, regulares e intensos ao longo de todos os anos analisados. São áreas historicamente dominadas pelo CV (Comando Vermelho), principal facção do Rio, mas em constante disputa por território com a milícia e com outras organizações criminosas, como o Complexo do Alemão, o Complexo da Maré, Costa Barros e Praça Seca.
Quase a metade das ações com conflito registradas pelo levantamento envolviam a participação da PM. Ao todo, 28% dos bairros (343) tiveram conflitos em todos os anos entre 2017 e 2022, indica o estudo.
Pesquisadores criticam operações policiais
Um dos coordenadores da pesquisa, Daniel Hirata, do Geni-UFF, diz que a atuação da PM baseada em confrontos contribuem com a alta quantidade de confrontos. "No Rio, as operações policiais são cotidianamente baseadas em confrontos, que se banalizaram. Isso se agrava quando ocorrem em um território onde há disputa entre grupos criminosos", diz.
O Rio de Janeiro tem uma configuração própria, que favorece o confronto em operações policiais. Isso é visível para todas as pessoas que moram ou que passam pelo Rio de Janeiro.
Daniel Hirata
Apenas 3,7% dos bairros da região metropolitana do Rio de Janeiro são afetados por conflitos regulares e de alta intensidade. "Essa é a principal conclusão da pesquisa, porque indica que apenas uma área pequena é afetada pela violência crônica", diz Maria Isabel Couto, diretora do Instituto Fogo Cruzado.
Como a área de conflitos crônicos é pequena, isso pode ser usado para combater a violência de forma mais racional e eficiente. O que falta é uma política de segurança pública baseada nessas evidências. A PM não precisa usar armas de guerra em áreas de baixa intensidade e regularidade de conflito. Infelizmente, a polícia tem contribuído com o nível elevado de violência armada no Rio.
Maria Isabel Couto
Pesquisadora defende uma atuação mais voltada para investigações em territórios sob o domínio do crime organizado. "Nesses bairros, o confronto não deveria ser a principal estratégia de enfrentamento. O Estado está submetendo a população a uma violência crônica sem que haja uma solução. A polícia tem um papel importante nessa dinâmica de violência", diz Maria Isabel Couto.
O que diz a PM-RJ
PM diz que "combate direto aos grupos criminosos organizados" está entre as principais metas do comando da corporação. "[Esses grupos] promovem disputas territoriais na região metropolitana e interior do estado. [A PM tem como meta] o combate aos roubos e crimes nas ruas, visando o aumento da sensação de segurança da população de maneira geral", escreveu a corporação por meio de nota ao UOL.
As ações são pautadas pelo planejamento prévio, sendo direcionadas pelas análises das manchas criminais locais, e são executadas dentro do previsto pela legislação vigente.
PM-RJ, por meio de nota
Corporação responsabiliza o crime organizado por ações que acabam em confronto. "A opção pelo confronto é uma conduta dos criminosos, que promovem ataques inconsequentes com armas de guerra não somente contra as forças de segurança do estado, mas também contra toda a sociedade", diz a PM.
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Quero receberEm nota, PM diz ter apreendido mais de 2.000 armas de fogo neste ano, incluindo 300 fuzis de guerra. "Neste ano, a Polícia Militar já prendeu mais de 16.500 pessoas e apreendeu mais de 2.000 adolescentes infratores, grande parte deles envolvidos com grupos criminosos de traficantes de drogas, roubadores e milicianos", cita.
Corporação diz ainda que seguirá investindo em tecnologia, capacitação do efetivo, infraestrutura e logística. "[Esses investimentos visam] tornar cada vez mais a atuação da corporação precisa e efetiva, visando um único objetivo: a segurança da população do Rio de Janeiro".
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