Por que o gesto de 'OK' pode representar símbolo supremacista branco?
Técnica da ginasta húngara Fanni Pigniczki, Noémi Gelle fez gesto durante a transmisão das Olimpíadas, nesta quinta-feira (8), que se assemelha ao "white power", símbolo usado por grupos de supremacia branca e organizações neonazistas.
Entenda
Símbolo de "OK" pode representar "poder branco". Para grupos de extrema direita, os três dedos esticados simbolizam a letra "w", uma referência à palavra em inglês "white" (branco). Já o círculo formado representa a letra "p", para a palavra "power" (poder).
"Trolagem" extremista. Segundo a Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), órgão americano que monitora crimes de ódio, a origem da nova conotação surgiu a partir de uma campanha de boatos entre membros do fórum 4chan. Em fevereiro de 2017, um usuário anônimo do fórum anunciou a "Operação O-KKK". Ele pedia a outros membros para inundar as redes sociais, alegando que o sinal de "OK" era um símbolo da supremacia branca americana.
Símbolo se tornou viral em 2017. De acordo com a ADL, outros membros teriam criado contas falsas de e-mail e perfis inverídicos nas redes sociais, bombardeando influenciadores e jornalistas com a mensagem. A "trolagem", no entanto, ganhou proporção em abril de 2017, quando pessoas da extrema-direita americana começaram a usar deliberadamente o gesto, principalmente ao posar para fotos nas redes sociais.
"Dog whistle". Desde então, pesquisadores que estudam símbolos da extrema direita alegam que o gesto é utilizado como uma mensagem codificada, um "dog whistle" (apito para cães), em referência ao instrumento que não é ouvido por humanos, mas pode ser captado pelos cachorros. É uma estratégia de comunicação em que pessoas em geral podem interpretar um gesto com significados diferentes, mas um grupo específico compreende a mensagem "secreta".
Símbolo é usado pelo movimento alt-right, um segmento alternativo do movimento de supremacia branca americano. O movimento tem uma ideologia racista ou antissemita que afirma acreditar que a direita tradicional não defende adequadamente os interesses dos brancos.
A Liga Antidifamação, que identifica o gesto como símbolos de ódio, faz a ressalva de que seu uso ainda indica aprovação ou que algo está bem. Portanto, "deve-se tomar um cuidado especial para não tirar conclusões precipitadas sobre a intenção de alguém que usou o gesto", diz um comunicado da ADL.
Símbolo já foi alvo de polêmicas no Brasil
O COI (Comitê Olímpico Internacional) cancelou a credencial de um funcionário terceirizado que fez um gesto semelhante para as câmeras, na semana passada. O símbolo foi feito durante a transmissão do skate street feminino, quando a brasileira Rayssa Leal ganhou a medalha de bronze.
Em 2021, um gesto semelhante foi usado pelo então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, em uma sessão no Senado. Ele, no entanto, afirmou que estaria apenas ajustando seu terno, e que o gesto não foi feito com nenhuma intenção política.
Caso ainda está sendo investigado. O juízo da 12ª Vara Federal de Brasília realizou no dia 20 de junho a audiência de instrução do processo em que o ex-assessor da Presidência é acusado de racismo por fazer suposto gesto supremacista. Martins chegou a ser absolvido sumariamente da acusação, mas essa decisão foi revista pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que determinou o prosseguimento da ação.
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