Conteúdo publicado há 20 dias

Moradores da Favela do Moinho protestam no centro de SP temendo 'despejo'

Moradores da Favela do Moinho saíram em manifestação na tarde desta quinta-feira (22) temendo despejo para a construção da nova sede do governo estadual no centro de São Paulo.

O que aconteceu

Moradores protestaram contra uma possível desapropriação de imóveis próximos ao local que funcionará a nova sede do governo do estado de São Paulo. O ato ocorreu em frente ao Museu das Favelas, região central de São Paulo.

Manifestantes gritaram palavras de ordem contra o governo Tarcísio. Durante a caminhada em torno do terminal e do Parque Princesa Isabel, manifestantes pediram respeito à vontade popular e criticaram Tarcísio de Freitas, alegando que o governador "não dialogou com a comunidade" para a construção da nova sede do governo estadual paulista.

A manifestação foi puxada por lideranças comunitárias. Durante as paradas do ato, moradores e lideranças da única favela central de São Paulo discursaram. Outros movimentos sociais também estiveram presentes.

Sede administrativa do estado será transferida para o centro da capital paulista. Ao todo, serão 12 prédios construídos na região dos Campos Elíseos para o gabinete do governador e de 28 secretarias. No total, 230 imóveis residenciais serão afetados. Os imóveis ficam no entorno dos quarteirões que receberão as obras. A Praça Princesa Isabel, o Terminal Princesa Isabel e o Museu das Favelas também serão afetados.

Quando você vai fazer um projeto desse, desmontar e demolir várias quadras, você precisa de participação popular, com conselhos dos moradores. Um instrumento que ajuda cada habitante a entender de fato o que vai acontecer a cada milímetro. Tarcísio simplesmente bota decreto, decide que vai construir o polo administrativo e demole quarteirões, prédios, terminal de ônibus. Não queremos despejo, queremos conversar
Sidney Pita, liderança comunitária

Moradores da Favela do Moinho protestam na região central de São Paulo
Moradores da Favela do Moinho protestam na região central de São Paulo Imagem: Uesley Durães/UOL

As desapropriações e a transferência do terminal são argumentos da população contra as obras. De acordo com Sidney Pita, líder comunitário e integrante da União dos Movimentos de Moradia, não ficou claro se os moradores da favela terão que deixar suas casas, mas ele diz que ao menos cinco mil pessoas seriam afetadas diretamente pelas desapropriações, entre moradores e trabalhadores.

De acordo com os moradores, mesmo que nem todos sejam desapropriados, a comunidade ficará sem opções para lazer cultura e trabalho. Moradias da favela, assim como ocupações, pensões e pequenos comércios podem perder espaços no centro.

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A gente está na rua para falar: vem dialogar com a gente. A gente não teve um sinal do governo do estado. Nós calculamos diretamente 2.000 pessoas. Construir o polo tudo bem, mas sem discutir você isola o povo que está ali, o povo que mora, trabalha, estuda. Esse bairro tem história, não pode ser desse jeito. O governo tem que chegar e conversar. Não pode ser assim.
Sidney Pita, liderança comunitária

"Objetivo é revitalizar a região". O governo de São Paulo afirmou, ainda no início do projeto, que a construção do Polo Administrativo do Governo vai proporcionar uma revitalização ao Centro de São Paulo. Além disso, a administração argumenta que com o aumento no fluxo de pessoas pela região central, haverá maior sensação de segurança no bairro. Campos Elíseos abriga atualmente a "cracolândia", zona popular de uso de drogas a céu aberto.

O UOL entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Governo de São Paulo e aguarda posicionamento.

Relatos de violência policial

Moradores também citaram entradas da Polícia Militar em casas do Moinho durante operação no início de agosto. Segundo manifestantes, houve violência e desocupações forçadas.

Além de despejos, moradores relataram que a polícia agrediu e ameaçou moradores, mesmo sem provas de envolvimento deles com o crime organizado. Procurada pelo UOL, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo declarou que "a PM atua de acordo com princípios legais rigorosos e qualquer desvio de conduta por parte de seus agentes é devidamente apurado. A Corregedoria da instituição está à disposição para receber e apurar formalmente quaisquer denúncias, assegurando que todas as questões sejam tratadas com a devida seriedade e transparência."

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A ação citada pelos moradores foi mobilizada pela operação Salus e Dignitas, que integrou a PM, Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo. Segundo o MP-SP, criminosos estariam utilizando pontos da Favela do Moinho para orquestrar o crime organizado na região central de São Paulo em "um ecossistema de atividades ilícitas controladas pelo PCC".

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