Marçal leva eleitor a se espantar com as assombrações erradas
De passagem pelo sacrossanto ambiente da Bienal do Livro, Pablo Marçal prometeu realizar uma caça aos livros caso seja eleito prefeito de São Paulo. Deseja "banir" do currículo obras que "deturpam a ideologia". Seu objetivo é impedir que o ensino continue sendo "pautado pelo comunismo".
O candidato já tinha avisado que adota na campanha um comportamento de idiota porque o eleitor gosta disso. Em matéria educacional, quem não quiser fazer papel de imbecil deve reparar que a "guerra cultural" insinuada por Marçal é um repeteco do desastre produzido no Ministério da Educação sob Bolsonaro.
Aliás, Marçal participa da campanha de 2024 com os olhos voltados para 2026. Ele reproduz o discurso da direita paleolítica com o propósito não de herdar, mas de ocupar o bolsonarismo -um processo que está em fase de consolidação. Na Educação, esse modelo conduziu ao desastre.
Nos quatro anos da Presidência de Bolsonaro, passaram pelo comando do Ministério da Educação uma piada colombiana (Vélez Rodríguez), uma alucinação (Abraham Weintraub), um currículo com anabolizante (Carlos Decotelli) e um pastor (Milton Ribeiro) que misturou religião e centrão, descambando para o pecado do capital.
Tomado pelas palavras, Marçal parece sonhar com a repetição do flagelo em âmbito municipal. Sua pregação ignora dois dramas reais: o déficit de aprendizado no ensino médio e a precariedade do ensino básico.
Avaliações nacionais e estrangeiras informam que estudantes brasileiros concluem o ensino médio sem aprender fundamentos essenciais de linguagem, ciência e matemática. No ensino básico, a debilidade começa nas primeiras semanas de vida da criança.
Nessa fase, a criança precisa receber nutrição, afeto e conhecimentos básicos. Num país como o Brasil, marcado pela desigualdade e apinhado de lares desfeitos, as prefeituras precisariam oferecer creches capazes de suprir uma demanda que por vezes não é atendida em casa.
Nada disso se resolve com idiotices eleitorais. Um candidato a prefeito de São Paulo precisaria informar o que planeja fazer para valorizar o magistério, equipar escolas, ampliar o ensino em tempo integral e qualificar as creches.
Marçal leva os seus eleitores a se assombrarem com os fantasmas errados. A assombração do comunismo só existe embaixo da cama da ultradireita neandertal. O problema de Marçal não é o esquerdismo, mas o dinheirismo.
Na passagem pela bienal do livro, enquanto exorcizava obras "ideológicas" sem mencionar um mísero título, Marçal erguia livros de sua autoria, como "O Código do Milhão - Como Desbloquear as Ilhas Neuronais da Riqueza".
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