Derrite cita 'vitimismo barato' ao comentar morte de criança em ação da PM

O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, disse nesta quarta-feira (6) que as mortes de uma criança e um adolescente na Baixada Santista durante uma ação policial estão sendo usadas como "vitimismo barato".

O que aconteceu

O secretário foi questionado pela codeputada Paula Nunes (PSOL), da Bancada Feminista, sobre a morte de uma criança de 4 anos em uma ação da Polícia Militar de São Paulo. Ryan da Silva Andrade morreu após ser atingido por tiros enquanto brincava no Morro do São Bento, em Santos, segundo a mãe da vítima, em entrevista ao UOL.

Derrite disse que a parlamentar fez "vitimismo barato" com a morte da criança. A fala ocorreu durante uma sessão de prestação de contas do secretário na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) na tarde desta quarta-feira (6).

Lamento que uma deputada estadual faça um vitimismo barato na Assembleia Legislativa, usando a morte de um menino de 4 anos para fazer politicagem. Não vou falar sobre a ocorrência, quem tem que falar sobre a ocorrência é o inquérito da Polícia Militar que foi instaurado
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública de São Paulo

O secretário disse que a morte da criança está sendo usada para politicagem. Em outro trecho da fala, Derrite diz lamentar a morte da criança e acusa a codeputada de usar o tema como "palanque político".

Para Derrite, policiais não são culpados pelas mortes. "Lamento profundamente a morte da criança que não tem culpa nenhuma (...) os policiais também não, eles estavam se defendendo de um ataque".

O líder da pasta disse que os tiros aconteceram em um contexto de ataque aos policiais. Segundo Derrite, nove homens atiraram contra agentes que transitavam pela comunidade de Santos e, após isso, houve um revide.

Não há confirmação da origem dos disparos que mataram a criança e um adolescente de 17 anos e feriu outro de 15. Mais cedo, a Polícia Civil disse que abriu inquérito para apurar a origem do disparo. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que fará perícia nas armas apreendidas dos policiais militares envolvidos na ocorrência e no local onde a criança foi baleada. Segundo a PM, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.

Ainda de acordo com o secretário, os envolvidos no tiroteio contra a PM na noite de terça tinham fotos com armamentos nas redes sociais — dando a entender que os adolescentes tinham ligação com o crime.

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Entenda o caso

Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos de idade, e Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17, foram mortos ontem (5) em uma operação da PM. Ryan brincava em uma comunidade de Santos.

Ryan era filho de Leonel Andrade, homem de 37 anos fotografado de muletas e sentado na calçada, uma hora antes de ser morto na Operação Verão, há 9 meses. A família nega confronto, mas a PM sempre afirmou que Leonel Andrade Santos atirou contra os policiais.

Polícia Civil disse que abriu inquérito para apurar a origem do disparo que matou a criança. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que fará perícia nas armas apreendidas dos policiais militares envolvidos na ocorrência e no local onde a criança foi baleada. Segundo a PM, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.

PM disse que fazia patrulhamento quando foi atacada por um grupo de dez suspeitos e revidou disparos. Além de Ryan e Gregory, um adolescente de 15 anos foi baleado na ação e está internado. Moradores contestam a versão da PM e negam o confronto.

A gente estava na rua, as crianças estavam brincando. Quando a polícia começou a atirar, a gente saiu correndo. Quando vi, tinha muito sangue no chão. E era do meu filho, que tinha sido baleado. Estou arrasada, eu perdi um pedaço de mim.
Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan

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Organizações repudiaram a ação

Organizações para promoção de direitos humanos e segurança pública emitiram nota de repúdio após as mortes. Assinam a carta o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular, a Associação AMPARAR, a Comissão Arns, Conectas Direitos Humanos, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Sou da Paz, Instituto Vladimir Herzog, Movimento Independente Mães de Maio e a Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio.

Os grupos classificaram como "inadmissível" a atuação das forças policiais. Também assinam a nota o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT), a deputada estadual Ediane Maria (PSOL), a Bancada Feminista (PSOL) e a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo.

"Este tem sido o resultado cada vez mais comum da atuação violenta e desmedida da PMESP em bairros pobres e nas periferias do estado", diz o comunicado. Segundo os grupos ativistas, as mortes não representam um "incidente isolado", mas uma "consequência de um modo de atuação pautado pelo conflito e uso de força desmedida".

Além das mortes desta semana, a carta relembra outras mortes decorrentes de intervenção policial. Em abril, uma criança de 7 anos perdeu a visão após ser atingida por um disparo enquanto ia para a escola em Paraisópolis. A Operação Escudo/Verão também foi citada.

Entre o fim do ano passado e os quatro primeiros meses deste ano, a Polícia Militar de São Paulo deflagrou operação na Baixada Santista. À época, 56 pessoas morreram. A polícia emitiu nota narrando que as vítimas ofereceram resistência a ação.

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