CAC foi advertido por andar com capa e espada em garagem na madrugada
O CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) preso na noite de sexta-feira (6) após atirar de uma cobertura de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, já foi advertido no prédio por andar na madrugada entre os carros da garagem com uma capa preta e uma espada luminosa.
O que aconteceu
A cena assustou os moradores, segundo relatos ao UOL. Após ser advertido, Marcelo Berlinck Mariano Costa, 31, se justificava dizendo apenas que não conseguia dormir.
Ele também foi advertido após usar a piscina durante a madrugada. Berlinck ainda foi notificado e multado após vizinhos se queixarem de gritos e barulhos vindos do seu apartamento, no 18º andar do prédio na rua Joaquim Antunes, a 20 metros da Cardeal Arcoverde.
Após a prisão do atirador, pessoas que estiveram na residência dele viram nomes de mulheres riscados a faca em uma mesa e códigos que pareciam ser de algum jogo marcados no espelho. Também havia perfurações semelhantes a causadas por tiros ou facadas em paredes e até no colchão.
Moradores já haviam encontrado projéteis de armas no saguão do prédio dias antes dos tiros dados pelo CAC na cobertura onde morava. Há relatos inclusive de sons semelhantes a disparos de arma de fogo desde o fim de outubro.
Ele descia de madrugada para a garagem com uma capa preta e uma espada luminosa. Circulava entre os carros como se estivesse em um game de realidade virtual, assustando os moradores. Às vezes, ia tomar banho de piscina. O porteiro questionou e ele disse que não conseguia dormir, que estava inquieto.
Relato de um dos moradores do prédio
CAC visto com arma em elevador
O atirador costumava manusear a arma dentro do elevador do prédio. Moradores relatam ainda que Berlinck também costumava checar o próprio nariz no espelho quando descia da sua cobertura, no 18º andar do prédio. Quando foi preso, agentes da Rota, a tropa de elite da PM, encontraram no seu imóvel substância semelhante à cocaína, que ainda será submetida a perícia.
Motoboys costumavam fazer entregas de pacotes suspeitos ao CAC. Os moradores suspeitam que poderiam ser entorpecentes. "Chegava o motoboy e falava: 'entrega'. Ele descia, pegava o pacote, colocava na jaqueta e pagava em dinheiro, rapidamente", contou uma das testemunhas. O CAC costumava retirar comida com entregadores três vezes ao dia, nos horários do café da manhã, almoço e jantar.
Nos dias seguintes a essas entregas, moradores passaram a fazer queixas de gritos e barulho na madrugada vindos do apartamento de Berlinck. Os episódios aconteciam quando ele estava sozinho, motivando uma notificação seguida de multa, segundo moradores ouvidos pelo UOL. "Ele só dizia: 'broder, pede desculpas aos moradores", disse uma pessoa próxima do CAC.
Logo após chegar ao prédio, ele disse que vendeu algumas armas e não recebeu. Quando foi cobrar do comprador, disse que foi empurrado de uma altura de 5 metros. Ele quebrou a clavícula e chegou a ficar hospitalizado. Depois, andava armado. Dizia que queriam matá-lo. Quando entrava no elevador, fazia questão de tirar a pistola do bolso, verificar se estava tudo certo e depois guardá-la.
Morador do prédio onde CAC atirou
Mudança de comportamento
Atirador era visto como um vizinho simpático. Quando se mudou em abril deste ano para o prédio na rua Joaquim Antunes, a apenas 20 metros da Cardeal Arcoverde, Marcelo Berlinck cedia as vagas a que tinha direito na garagem aos outros moradores.
Inicialmente, costumava sair de casa às 6h e retornava por volta das 15h. Dizia que recebia comissões de até R$ 150 mil mensais por intermediar a venda de carros de luxo de até R$ 5 milhões.
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Quero receberMudança de rotina. Nos últimos meses, passou a sair de casa em horários alternados. Em algumas ocasiões, chegou a passar até quatro dias sem sair de casa, causando preocupação na família.
"A mãe dele ligava para o prédio e pedia para verificar se estava tudo bem", conta uma das testemunhas ouvidas pelo UOL. Ela frequentava o prédio a cada duas semanas para entregar uma mala com roupas lavadas e retirar outras sujas.
A Justiça determinou que Berlinck deixasse a cobertura do prédio de 18 andares por não pagar o aluguel por três meses. A decisão com ordem de despejo é de setembro deste ano. O valor, incluindo aluguel e condomínio, era de cerca de R$ 6.600 por mês.
O comportamento também mudou. Berlinck passou a ser visto com um semblante fechado, contrastando com a impressão inicial de um sujeito extrovertido e comunicativo. Segundo relato de parentes a moradores, a mudança estaria relacionada ao fim do casamento, no começo do ano.
Uma vez, entrei no apartamento dele e presenciei uma grande quantidade de armas. Ele disse que era colecionador e mostrou o certificado na parede. Era um cara tranquilo e alto astral, que conversava e dava risada. Tinha as paqueras dele, mas era muito sozinho. Depois, ficou mais fechado e mais calado.
Morador
O que se sabe sobre o caso
Imagens do circuito interno do prédio mostram o CAC sob o domínio de PMs no elevador após os tiros dados de sua cobertura. Berlinck aparece algemado e sem camisa no vídeo. Socorristas também o acompanhavam.
Na sequência, Marcelo Berlinck é gravado no corredor pouco antes de deixar o prédio, já preso. Ele estava com um um ferimento no braço esquerdo causado pela mordida de um cão policial. Os agentes precisaram arrombar a porta da cobertura para prendê-lo.
Cobertura ficou destruída após a ação. O UOL também teve acesso a imagens da cobertura de dois pisos de um prédio em Pinheiros de onde Berlinck atirou. O local ficou com estilhaços de vidro e móveis quebrados após a invasão da PM.
Policiais encontraram um arsenal no imóvel, que incluía um fuzil, duas carabinas, granada e mais de 350 munições de diferentes calibres. Os agentes ainda apreenderam no local mais de dez carregadores de fuzil, coletes à prova de balas e outras armas. O celular de Berlinck também foi apreendido.
O atirador foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, disparo de arma de fogo e porte ou posse ilegal de arma de uso restrito. A Justiça de São Paulo converteu a prisão em flagrante para preventiva neste domingo (8). O UOL tentou entrar em contato com parentes pelas redes sociais, mas ainda não obteve resposta. A reportagem não localizou a defesa dele.
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