SP: Conselho autoriza construção de condomínios em área tombada dos Jardins

A proposta que permite mudanças subdivisões em terrenos dos Jardins, área nobre da capital paulista famosa por seus casarões, foi autorizada por um conselho estadual nesta segunda-feira (16).

O que aconteceu

Mudança foi autorizada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) após mais de 10 anos de tramitação. A decisão deve afetar as construções na região, tombada desde 1986.

A proposta autorizada permite a existência de mais de uma empresa ou residência em um mesmo endereço. Com isso, terrenos e construções na área podem ser subdivididos para abrigar condomínios de casas, prédios de apartamentos (com altura máxima prevista) e outros tipos de subdivisões — o que hoje é ilegal.

Associação de moradores locais vai entrar com recurso, já que autorização para residências multifamiliares na região era uma das mais criticadas. Em nota enviada ao UOL, o órgão afirmou que a determinação de que as áreas residenciais sejam unifamiliares é "essencial para evitar a descaracterização dos bairros e impactos negativos ao seu modelo urbanístico".

O texto não muda as regras para construir no bairro. Apesar de flexibilizar o uso, a proposta do Condephaat mantém a altura máxima de dez metros para prédios (o equivalente a três andares), o recuo frontal de até oito metros e a área ajardinada obrigatória de até 40% do terreno, entre outras normas.

Procedimento de autorização para obras continuará sendo obrigatório com a aprovação da revisão. Em 2023, mais de 100 procedimentos foram autorizados pelo Condephaat. Desde 2019, 604 processos do tipo foram autorizados.

Hoje, o tombamento impede um maior número de construções. Desde 1986, a medida de preservação exige que terrenos da região tenham apenas uma construção principal, que deve ser ocupada só por uma família. Há exceções como rua Estados Unidos e a avenida Europa, onde são permitidas atividades comerciais.

O debate sobre a revisão do tombamento dos Jardins começou em 2013. Em março, o grupo de trabalho criado pelo Condephaat concluiu a proposta de nova resolução sobre o tema, que foi submetida a audiências públicas e agora está sob análise da UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico) do conselho.

O bairro foi tombado em 1986 por preservar o conceito de cidade-jardim. A ocupação da região data de 1915, quando a empresa inglesa City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited organizou loteamento residencial voltado para ricos, pensado para proporcionar boa qualidade de vida aos moradores.

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Moradores temem mudanças

Mudanças descaracterizariam o bairro, alega a associação de moradores. Em posicionamento enviado ao UOL, a AME Jardins afirmou que o tombamento garante a "preservação do nosso modelo urbanístico, da nossa história e da qualidade de vida na região".

Os moradores negam que a região viva esvaziamento, como afirmam os defensores da revisão do tombamento. Em balanço divulgado em 2023, a associação afirmou que 120 casas foram vendidas em 2021 e 2022, em negócios que movimentaram R$ 2,7 bilhões. De acordo com o grupo, os números só não foram maiores por conta de imóveis com problemas de inventário.

A permissão para casas perto da avenida Rebouças é consenso. Defensores e opositores da proposta concordam que lotes grandes para lojas geram área vazia e sensação de insegurança. A oposição ao remembramento de terrenos também une os grupos, que querem evitar espaços abandonados devido a brigas de espólio no futuro.

Imóveis alugados para festas são problemas recorrente na região. Quem defende a revisão do tombamento diz que as regras mais flexíveis poderiam permitir que casarões tivessem outra ocupação. Mas a AME Jardins afirma que essas mansões, em geral, têm pendências legais e não teriam outro destino com novas normas.

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