'Parecem envenenadas': moradores de Itupeva denunciam morte de abelhas

Moradores da zona rural de Itupeva, no interior de São Paulo, têm notado a morte em sequência de abelhas na região. O caso foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que solicitou informações às autoridades locais.

O que aconteceu

Insetos mortos diariamente. O apicultor Antonio Barros, 59, afirma que o número de mortes aumentou nos últimos meses. Ele perdeu recentemente dez colmeias. "Essa quantidade ainda está sob controle, mas tem produtor que perdeu mais", diz.

Causa das mortes ainda é desconhecida. "Pode ser o clima, que está muito quente, ou as plantações", explica Antônio, que trabalha com abelhas em Itupeva há 23 anos.

Uso de agrotóxicos pode ser um fator. "Tem fazenda que usa avião para aplicar veneno nas plantações, e isso acaba atingindo os apiários", afirma. "Tenho colegas que perderam até 100 colmeias."

Mortes ocorrem em 'picos'. Uma moradora da região, que não quis se identificar, relata encontrar abelhas mortas em casa desde dezembro, de duas a três vezes por semana. Em períodos mais críticos, a família já encontrou entre 150 e 200 abelhas mortas.

Insetos parecem estar envenenados. Segundo ela, as abelhas costumam aparecer à noite, "fracas, desorientadas". "Eu nem tenho medo de ser picada, porque elas estão agonizando. Parece que estão envenenadas", diz.

Autoridades foram acionadas. Moradores registraram uma representação no Ministério Público. Para eles, o caso pode estar relacionado a crime ambiental em plantação de soja.

Apuração está em fase inicial. Em nota, o MP-SP disse que solicitou informações à Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos e Fundiários de Itupeva e à Polícia Militar Ambiental. O prazo para resposta é de 30 dias.

Importância das abelhas

Abelhas são essenciais para a polinização. O biólogo Guilherme Aguirre, mestre em Ecologia pela Unicamp e especialista em abelhas nativas do Brasil, explica que esses insetos representam 66% dos polinizadores e garantem a reprodução de diversas plantas. "Sem as abelhas, não temos flores, alimentos e vida", resume.

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Espécie está em declínio no mundo todo. Segundo Aguirre, o desmatamento é a principal causa, ao destruir áreas onde as abelhas se alimentam e fazem seus ninhos. "Quando áreas verdes naturais são convertidas em cultivo agrícola ou em espaços urbanos, as abelhas perdem locais onde se alimentam e onde faziam as colmeias", afirma.

Uso indiscriminado de agrotóxicos também contribui para o problema. Casos de mortes massivas já foram registrados em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, com milhares de abelhas encontradas mortas. Para Aguirre, que também é dono do Meliponário AirbnBee —espaço dedicado à criação de abelhas nativas sem ferrão e à educação ambiental sobre a espécie—, o impacto pode ser grave, comprometendo a polinização e desequilibrando toda a cadeia alimentar.

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