Pai de menina morta após desafio: 'Medo era filho na rua, agora é em casa'
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O pai da menina que morreu após inalar desodorante em um desafio da internet culpa as plataformas digitais pela morte da filha e defendeu ainda a regulamentação das mídias.
O que aconteceu
Cássio Maurílio chamou a internet de ''terra livre e sem leis''. ''Antes, a insegurança dos nossos filhos era eles irem para a rua, mas agora a insegurança está dentro de casa, no celular'', relatou o homem hoje em entrevista ao UOL ao dizer ser a favor de uma regulação desses meios.
Para ele, a morte também deve ser atribuída ao TikTok, onde o desafio viral foi lançado. Segundo o homem, a plataforma foi a responsável por transmitir o ''vídeo criminoso''. ''Por trás do autor, que publicou o vídeo, tem o coautor, que é a plataforma que está deixando a pessoa mostrar o vídeo explicitamente para quem ela quiser. Não é só um culpado'', argumentou.
Cássio contou que costumava restringir o acesso da filha ao celular durante a rotina. ''Você pode proibir, mas um segundo que ela fica com o celular na mão, pode ser prejudicial à saúde de uma criança. Porque uma criança tem uma mente altamente fácil de manipular'', falou.
O sonho dela era salvar vidas. Se por meio desse barulho, dessa comunicação, ela conseguir salvar uma vida, a meta dela nesse mundo foi feita. Ela falava que o sonho dela era ser médica para salvar vidas. Um sonho tão puro. Cássio Maurílio, pai de Sarah Raissa
Governo busca retomar pauta
O governo federal tenta uma nova aproximação com o Congresso para que o tema da regulação volte à agenda dos legisladores. A declaração foi dada na última semana pelo Secretário de Politicas Digitais da Presidência da República, João Brant, durante uma palestra na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A regulação precisa equilibrar três coisas: primeiro, a responsabilidade civil das plataformas; segundo, o que a gente chama de dever de prevenção e precaução, que significa a necessidade de atuar preventivamente para que não haja disseminação de conteúdos ilegais e danosos a indivíduos ou a coletividades; e terceiro, que elas atuem na mitigação dos riscos sistêmicos da sua atividade. João Brant
O projeto de lei 2.630 de 2020, conhecido como PL das Fake News, não avança por falta de acordo. A principal proposta de regulação das plataformas digitais já foi aprovada pelo Senado e está em análise na Câmara dos Deputados desde o ano passado.
Atualmente, essas empresas respondem ao Marco Civil da Internet, aprovado em 2014. No seu artigo 19, a lei diz que as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdo ofensivo ou danoso postado por usuários caso descumpram uma ordem judicial de remoção, à exceção de conteúdo sexuais não autorizado ou casos que violam direitos autorais.
No dia a dia, a moderação dos conteúdos cabe às plataformas. O uso das redes sociais para cometer crimes continua no centro do debate público em meio às denúncias de violências cometidas contra crianças e adolescentes, e tem reacendido a discussão sobre a regulação das chamadas big techs — que são as empresas que controlam essas mídias.
Entenda o caso
Sarah Raissa Pereira de Castro, de 8 anos, sofreu a parada cardiorrespiratória na última quinta-feira. Ela foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia, onde foi reanimada uma hora após o incidente, mas sem melhora neurológica. A morte cerebral foi constatada na unidade de saúde.
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar as circunstâncias da morte. Os agentes querem esclarecer como a criança teve acesso ao "desafio do desodorante" e identificar os responsáveis pela publicação. Os envolvidos podem responder por homicídio duplamente qualificado, crime cuja pena pode chegar a 30 anos de prisão.
O desafio consiste em uma competição para ver quem consegue inalar a maior quantidade de aerossol e por mais tempo. Em 2022, um menino de dez anos morreu em Belo Horizonte (MG), João Victor Santos, foi encontrado pelo Samu já sem vida após ter sofrido uma parada cardiorrespiratória devido ao desafio do desodorante.
* Com informações da Agência Brasil
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