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O pêndulo sai da coisa reacionária e vai para o centro, analisa Reinaldo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/11/2020 18h59

Os primeiros resultados das eleições municipais brasileiras de 2020 indicam uma polarização menor, com fortalecimento do centro político, na análise do colunista do UOL Notícias Reinaldo Azevedo. Para o comentarista, que participa da live do UOL sobre as eleições, o pêndulo deixa de flutuar entre os dois extremos.

"Aquela voragem das eleições 2018 dessa vez não está. Não se optou dessa vez por nenhum dos extremos, mas não tinha extrema-esquerda na eleição passada. Identificar o Haddad, do PT, com extrema-esquerda é uma impropriedade. O Bolsonaro naufragou, com exceção do candidato de Fortaleza. Vamos ver o que vai acontecer com as demais cidades. Tudo indica uma recuperação do PT em algumas cidades médias. O pêndulo sai da coisa reacionária, insuportável, de 2018, e se desloca para o centro", opina Reinaldo Azevedo.

"Até o Boulos vai surpreender, não de ir para o segundo turno, mas com mais votos que as pesquisas conseguiram identificar. O PSOL já não é mais uma força exótica da política. O Boulos fez uma campanha muito mais de centro-esquerda, foi conversar com os farialimers: 'você acha que vou invadir sua casa, não não vou'. Foi um discurso mais ameno", avalia.

Quanto ao Rio de Janeiro, Reinaldo Azevedo acredita que a esquerda ficou fora o segundo turno por não se unir. "Crivella, no Rio de Janeiro, não é exatamente um anti-político. Mas eu noto que se a esquerda do Rio tivesse se unido, provavelmente ele não estaria no 2 turno. Os votos da Martha Rocha e da Benedita podiam bater o Crivella. A extrema-direita, felizmente, sai bastante enfraquecida. As forças tradicionais se fortalecem, e isso é quem aposta no jogo democrático. Isso é bom", continua.

Também participando da live do UOL sobre as eleições, o colunista Josias de Souza avalia que há uma clara aposta do eleitorado na segurança. "A grande marca dessa eleição é continuidade, mas o que me deixou animado é a opção pela racionalidade. Diante de um presidente que pregava o irracional, o eleitorado está fazendo opção pelo racional. Aqueles prefeitos que erraram menos e mostraram preocupação com saúde das pessoas estão sendo premiados com eleição no primeiro turno. É o caso de Belo Horizonte e outras praças", disse o colunista, em referência ao prefeito Alexandre Kalil (PSD), que deve vencer com extrema facilidade no primeiro turno.

"Nos últimos dias, Bolsonaro estava fazendo pregação contra turma do fica em casa. E o eleitorado está dando resposta. O prazo de validade do discurso do Bolsonaro venceu, está sendo derrotado na urna", continua Josias, concordando que há uma menor polarização. "A extrema-direita, que prevaleceu em 2018, a irritação com política tradicional, o reacionarismo, está sendo deixado de lado. Não há uma volta da extrema-esquerda. Não sei se esteve representada na eleição passada. O PSOL está beliscando algumas praças. O PT cometeu todos erros na eleição de SP. Escolheu o pior candidato e fez campanha horrorosa. E o PSOL fez o oposto, Boulos suavizou discurso, fez campanha na internet, atingiram jovem de classe média alta."

Esther Solano, socióloga da Unifesp, explica o deslocamento para políticos mais tradicionais: "Uma das coisas que percebemos é que há um esgotamento muito grande de duas questões. A primeira a radicalidade. Quando você pergunta do Bolsonaro, a questão da violência, a falta de decoro, de comprometimento com os rituais democráticos, aparece como as grandes falhas, tanto para o eleitor de classe média como periférico. A outra é a necessidade de certa estabilidade, se tivesse que definir um conceito para definir essa eleição seria essa palavra. Os eleitores estão cansados de tanta instabilidade. E num momento como esse de crise sanitária e econômica, é mais importante."