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Bolsonaro bate Lula em nomes de urna, mas abriga opositores e oportunistas

Bolsonaro lidera com mais nomes de urna, embora estratégia não tenha se mostrado eficaz - NELSON ALMEIDA/AFP e ALAN SANTOS/PR
Bolsonaro lidera com mais nomes de urna, embora estratégia não tenha se mostrado eficaz Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP e ALAN SANTOS/PR

Beatriz Montesanti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/08/2022 14h53Atualizada em 16/08/2022 14h55

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), líderes das pesquisas de intenção de votos para a Presidência, também emprestam seus nomes para outros candidatos na corrida eleitoral Brasil afora —embora nem sempre intencionalmente.

A tendência já foi usada em eleições anteriores, mas, neste ano, Bolsonaro tem folga nesse quesito. Entre familiares, apadrinhados, oportunistas desconhecidos e até opositores, são 45 candidaturas que levam o nome do presidente, além dele mesmo. Já Lula pode aparecer nas urnas em até 15 opções de candidatos aos diferentes cargos em disputa.

As candidaturas bolsonaristas se concentram no PL, partido do presidente. São 20 "Bolsonaros" que saem pela sigla. Muitos estão em seu círculo mais próximo, caso do filho Eduardo (PL-SP), do deputado federal Hélio Lopes, agora Hélio Bolsonaro (PL-RJ); e de Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, sobrinho do presidente e que vai às urnas como Léo Índio Bolsonaro (PL-DF).

Há, ainda, vindos direto da roda bolsonarista, o ex-policial militar e segurança do presidente Max Guilherme, ou Max Bolsonaro (PL-RJ); seu intérprete de libras, Fabiano Guimarães da Rocha, ou Fabiano Intérprete Bolsonaro (Republicanos-DF); e a esposa de seu primo de segundo grau, Valeria Bolsonaro (PL-SP).

Outros nomes que não podem ser associados diretamente ao presidente, como Enéas Bolsonaro (PL-PE), a Pastora Ana Bolsonaro (PL-SP), o Padre do Bolsonaro (PL-SC) e Bolsoreth (PL-PB), que é uma mistura de Bolsonaro com Margareth.

Bolsonaro na esquerda?

Entre os partidos que levam o sobrenome presidencial para as urnas estão também o Patriota, o Republicanos, o União Brasil e, curiosamente, o PSOL.

É da sigla de esquerda a candidatura registrada como Chris Col Bolsonaro Nunca Mais, atribuída no sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ao servidor público municipal Christopher Borges Veleda, de 25 anos, mas que se trata de uma candidatura coletiva oposicionista reunindo ao menos 20 pessoas.

O coletivo, de Pelotas, concorre ao cargo de deputado federal pelo Rio Grande do Sul. "Não estamos fazendo campanha contra o presidente, mas contra o bolsonarismo em nível estadual. Contra os reflexos das atitudes dele, da violência, machismo, racismo, desigualdade e privatizações no Rio Grande do Sul", diz Jorge Francisco Moraes Leite, integrante da candidatura.

Lula entre aliados

Já do outro lado, oito das 15 candidaturas que levam o apelido Lula são do PT, excetuando o ex-presidente. Outras duas são do Solidariedade, também da base da coligação. As demais se dividem entre PSB, PP, Rede, PRTB e PMB.

Ali há ainda duas candidaturas coletivas: Dani Coletivo Juventude Lula e Coletivo Lula Presidente.

Mas é mais comum encontrar candidatos "Lulas" que usam o apelido idêntico, em vez de tentar fazer homenagem ao petista. Seus nomes são de fato Luis, seja Luis Henrique (PT-MA), Luiz Eduardo (PP-PE), Luiz Apolinário (Rede-PE), ou Luiz Ursulino (PMB-RJ). Há também um Inácio, caso de Alberto Inácio (PT-MS), e um Lula mesmo, o Carlos Eduardo de Oliveira Lula (PSB-MA), ex-secretário da Saúde do Maranhão e que sai candidato a deputado estadual.

Há ainda quem não assuma adotar propositalmente sua alcunha. É o caso de Lauro Amorim Dantas do Rosário, professor aposentado de educação física da Bahia, que se lançou nas urnas para deputado federal como Lulamorim (PT-BA).

Ele atribui o apelido a "Lula do Grão de Arroz", entusiasta da alimentação macrobiótica de quem ficou próximo na década de 1990 por distribuir alimentos orgânicos para estudantes de baixa renda de Salvador.

"Alguns também me chamam de Lamarca. Sou conhecido ainda como Papagaio na oficina do PT, e no bairro do Alto das Pombas, como Do Leite, porque tinha duas vacas, uma se chamava Rita Lee e a outra Onça Pintada. Sábado e domingo sobrava muito leite e eu distribuía", diz. Ainda que constasse no sistema do TSE até a publicação desta reportagem, Lulamorim afirmou ter retirado sua candidatura "por questões pessoais".

Carlos Bolsonaro - Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo - Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo
O vereador Carlos Bolsonaro foi o único reeleito com o sobrenome do pai nas eleições de 2020
Imagem: Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo

Estratégia funciona mal

A apropriação dos principais nomes em disputa parece ter diminuído em popularidade, após não demonstrar grande eficácia nas eleições anteriores. Em 2020, foram 75 Bolsonaros derrotados contra apenas um eleito.

Somente Carlos Bolsonaro (Republicanos) foi reeleito vereador no Rio de Janeiro, enquanto os demais candidatos que levaram o nome do presidente foram derrotados.

Isso sem contar candidaturas desistentes ou que foram impugnadas ao tentar se apropriar do nome. Naquele ano, inicialmente, se inscreveram no TSE 91 Bolsonaros, para outros 200 Lulas. Entre os impugnados esteve Donald Trump Bolsonaro, rejeitado pela Justiça Eleitoral sob o argumento de não ser conhecido pelo nome.

Em 2018, ano em que Jair Bolsonaro, seus filhos Flávio e Eduardo e a esposa do primo de segundo grau Valeria foram eleitos com o sobrenome, ao menos cinco candidatos de fora da família não tiveram sucesso usando a mesma tática. Outros cinco Lulas também deixaram a corrida sem cargo.