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Marco Aurélio critica discurso de Moraes em posse: 'Nefasto acontecimento'

Discurso de Moraes foi reação indireta a falas de Bolsonaro  - Fátima Meira/Futura Press/Folhapress
Discurso de Moraes foi reação indireta a falas de Bolsonaro Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

Colaboração para o UOL

17/08/2022 15h01Atualizada em 17/08/2022 15h32

O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello definiu como "nefasto acontecimento", em entrevista ao jornal O Globo hoje, o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Durante o pronunciamento na noite de ontem, Moraes defendeu as urnas eletrônicas e prometeu um combate "implacável" da Corte às fake news contra o sistema eleitoral. O novo presidente do TSE ainda afirmou que a interferência da Justiça sobre as eleições será mínima, mas que ela não permitirá abusos do direito à liberdade de expressão.

O discurso foi uma reação indireta a discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL), que costuma colocar em dúvida o sistema eleitoral sem apresentar provas.

"É costume o anfitrião receber com tapete vermelho os convidados, especialmente o dirigente maior do País. O discurso do empossado foi agressivo, em nada contribuindo para o almejado entendimento", disse Marco Aurélio, que estava presente no evento.

Marco Aurélio declara voto em Bolsonaro

O ex-ministro Marco Aurélio Mello disse na semana passada ao UOL Entrevista que votará no presidente Jair Bolsonaro em um eventual segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na avaliação do jurista, o governo federal buscou "dias melhores".

"Não imagino uma alternância para ter como presidente da República aquele que já foi durante oito anos presidente e praticamente deu as cartas durante seis anos no governo Dilma Rousseff (PT). Penso que potencializaria o que se mostrou no governo atual e votaria no presidente Bolsonaro, muito embora não seja bolsonarista", afirmou.

Na ocasião, Marco Aurélio, que integrou o STF entre 1990 e 2021, também ressaltou a candidatura à Presidência da senadora Simone Tebet (MDB), mas disse que votará em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, caso ele apareça como mais viável na disputa.

"Perderam as duas Instituições, o Tribunal Superior Eleitoral e a Presidência da República, perdeu esta sofrida República, perdeu o Brasil. Que tristeza. E fui, com muita dor, testemunha do nefasto acontecimento", concluiu o ex-ministro ao jornal O Globo.

Primo de Collor, Marco Aurélio já esteve em polêmicas

O ex-ministro Marco Aurélio Mello é primo do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), ex-presidente da República que o indicou para ocupar a vaga no Supremo em 1990. Hoje, Collor é aliado de Jair Bolsonaro.

O ex-magistrado se aposentou do Supremo em julho de 2021 e, por isso, hoje fala abertamente sobre suas preferências políticas. No passado, manifestou-se de forma crítica aos governos petistas, mesmo sem declarar seu voto. Logo nos primeiros dias após deixar o colegiado, ele afirmou que o Supremo foi responsável por "ressuscitar" politicamente Lula.

Na sua última sessão do Supremo, Marco Aurélio Mello manifestou apoio aos nomes de André Mendonça, que acabou sendo escolhido, e Augusto Aras para sua vaga na Corte. Tanto Mendonça quanto Aras são nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro, o que fica claro com os votos de André Mendonça no STF.

Em abril deste ano, ele considerou o perdão concedido por Jair Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB) como "inconcebível". No mesmo mês, ele criticou Lula pela defesa da revogação da reforma trabalhista e da regulamentação da mídia.

Ao longo de seus 31 anos como ministro do STF, Marco Aurélio Mello ficou conhecido por ter posicionamentos únicos, não alinhados a nenhum grupo dentro da Corte. Mello costumava divergir dos colegas nos mais diversos temas e ganhou a alcunha de "o ministro do voto vencido".