JN: Bolsonaro se nega a pedir desculpas por imitação de falta de ar
Durante entrevista ao Jornal Nacional na noite desta segunda (22), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que não errou no combate à pandemia de covid-19, apesar de o país ter registrado mais de 680 mil mortes provocadas pelo coronavírus.
Mentiu ao dizer que não imitou um paciente com insuficiência respiratória — o que fez em sua live semanal, em março de 2021 (veja o vídeo abaixo) — e se negou a responder se se arrependeu do que que a jornalista Renata Vasconcellos chamou de "falta de compaixão" com vítimas da doença e seus familiares.
Questionado sobre seu posicionamento contra medidas como a vacinação e o distanciamento social no combate à pandemia, Bolsonaro afirmou que "só não se vacinou quem não quis" e voltou a defender o tratamento precoce — que não tem eficácia comprovada contra a covid. O candidato à reeleição culpou a imprensa pelo avanço da doença no país.
"O grande erro disso tudo foi um trabalho forte da grande mídia, entre eles a Globo, desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce", afirmou.
Esse diálogo ocorreu durante resposta à apresentadora Renata Vasconcellos, que foi interrompida por Bolsonaro enquanto formulava a questão.
- Renata: Candidato, sobre o seu comportamento com as frases que eu mencionei, imitando pacientes com falta de ar, muitos viram isso como sinal de falta de compaixão?
- Bolsonaro: Queria que você botasse no ar eu imitando falta de ar.
- Renata: Mas falta de compaixão.
- Bolsonaro: Começou a mudar.
- Renata: Para eu completar minha frase, muitas viram isso como falta de compaixão, de solidariedade, com os doentes, com os parentes das vítimas, o senhor se arrepende?
- Bolsonaro: Solidariedade eu manifestei conversando com o povo nas ruas, visitando a periferia de Brasília, vendo pessoas humildes que foram obrigadas a ficar em casa sem ter um só apoio do governador, do prefeito, e nós fizemos exatamente o quê? Demos o auxílio emergencial imediatamente.
- Renata: O senhor não se arrepende das declarações?
- Bolsonaro: Ou ir para as ruas fazer o que não queriam. Poderia ter caos na rua, caos porque pessoas com fome indo para a rua. Criamos imediatamente o auxílio emergencial. Fizemos a nossa parte, demos tanto dinheiro para governadores e prefeitos que a gente não tem notícias de terem atrasado folha de pagamento [...]
Agora, não adotei o politicamente correto. Não estimulei. Inclusive o que eu falei é que, quando foi decidido o que era essencial, o trabalho essencial, eu falei, deve ser todo aquele necessário para o homem e a mulher levar o pão para dentro de casa, a própria OMS concordou comigo nessa questão"
Bolsonaro
Renata: O senhor chama isso de politicamente incorreto, o senhor não se arrepende do seu comportamento, das frases que fez, imitando pessoas com falta de ar como solidariedade com as famílias?
Bolsonaro : Voltou a falar em falta de ar novamente.
Lamento a morte. Não tem quem não perdeu um parente, um amigo, lamento as mortes, agora não poderia ter tratado a Covid da forma como começou a ser tratada"
Jair Bolsonaro
Ao dizer que a OMS concordou com preocupação de preservar empregos durante a pandemia, o presidente distorce o que o disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, que na verdade expressou temor em relação ao isolamento social, mas ponderou que os Estados devem fazer o possível para mitigar os efeitos negativos desse afastamento — que foi importante não só para salvar vidas, mas também ara conter os danos econômicos decorrentes da pandemia, como apontaram estudos científicos.
"Protocolo Mandetta"
Mais tarde, o presidente usou suas redes sociais para tentar justificar a imitação. Segundo ele, sua resposta se referia ao que chamou de "protocolo Mandetta".
"Na ocasião em que Renata [Vasconcellos] diz que similei falta de ar por deboche, eu estava denunciando o 'protocolo Mandetta', que só recomendava ir ao hospital após sentir falta de ar. Foi justamente o contrário: Eu defendi essas pessoas. Quem mandou ficar em casa é que desprezou suas vidas!", disse ele, nas redes sociais.
"Sempre defendi que os médicos tivessem autonomia para tratar seus pacientes, bem como que as pessoas procurassem um profissional de forma precoce, assim como é recomendado ao sentir qualquer sintoma de qualquer doença, quando as chances de recuperação são maiores", completou.
Bolsonaro nega crise do oxigênio em Manaus
Na sequência, sobre a falta de oxigênio em Manaus, Bolsonaro negou o problema e chamou a situação, que culminou na morte de pacientes, de "atípica". "Menos de 48 horas estavam chegando já cilindros lá em Manaus. Lá foi uma coisa atípica, anormal que aconteceu de uma hora para outra", afirmou.
A crise da falta de oxigênio em Manaus não aconteceu de uma hora para outra. Documento enviado pelo próprio Ministério da Saúde à CPI da Covid, do Senado Federal, indica que o órgão soube do aumento da demanda por respiradores quase um mês antes da crise. Segundo o documento, a partir de 18 de dezembro de 2020, o estado do Amazonas solicitou 140 respiradores para aquele mês. No dia 2 de janeiro de 2021, o estado pediu mais 78 respiradores — totalizando uma demanda de 218 em apenas 16 dias.
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