A estrangeiros Lula defende alternância de poder na Venezuela
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu hoje uma alternância de poder na Venezuela. A jornalistas estrangeiros em São Paulo, o petista, que mantém boas relações com o presidente Nicolás Maduro, disse que é preciso respeitar o país, mas que "não há presidente insubstituível".
Na primeira coletiva à imprensa internacional desde o início da campanha oficial, na semana passada, Lula falou a cerca de 70 veículos estrangeiros sobre pautas internacionais e outras que tem tratado na campanha, como retomada econômica e do poder de compra do brasileiro. Ele voltou a defender a proteção da Amazônia, com a extinção do garimpo ilegal; criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL); e propôs uma "reformulação da ONU" (Organização das Nações Unidas) em prol da paz.
Destaques da entrevista:
- Pregou fortalecimento das relações latino-americanas, protagonismo do Brasil e alternância de poder na Venezuela
- Defendeu reformulação da ONU e fim do veto no Conselho de Segurança do órgão
- Pregou proteção à Amazônia e combate ao garimpo ilegal
- Criticou as ações de Bolsonaro sobre a democracia e afagou Moraes
- Propôs atrair investimento estrangeiro para estimular retomada econômica
Relação com Venezuela: Acompanhado do ex-chanceler Celso Amorim, Lula falou muito do fortalecimento das relações entre os países latino-americanos, um dos principais focos do seu governo (2003-2010). Questionado sobre a Venezuela, ele defendeu a democracia no país, mas pregou alternância de poder.
A gente tem que tratar a Venezuela com respeito, e sempre desejando que seja mais democrática possível, defendo a alternância do poder na Venezuela e em todos os países. Não existe presidente insubstituível. O Brasil vai tratar a Venezuela com respeito.
A relação do PT com o governo venezuelano sempre foi um tema sensível no partido. Lula era um grande aliado do ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013. Depois, já como ex-presidente, se aproximou também de Maduro, no poder há nove anos.
Mesmo acusada de eleições fraudulentas, em especial na última realizada, em 2019, com prisão de opositores, o PT sempre apoiou o atual governo. Embora tenha falado em alternância, acenou também para um respeito às decisões internas.
Gostaria de desejar para a Venezuela o que quero para o Brasil: que as eleições sejam sempre mais livres, que se acate o resultado. Não concordei quando a União Europeia aceitou o [Juan] Guaidó como presidente [em 2019]. Ele era um impostor, está provado. Sempre aprendi a respeitar a autodeterminação dos povos de um país, não posso ficar me metendo.
Reestruturação da ONU: Questionado sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, Lula disse que, caso assuma em 2023, fará "todo esforço que tiver ao alcance" para tentar ajudar na resolução. Ele criticou, no entanto, o atual papel da ONU, segundo ele enfraquecido por uma geopolítica antiga.
As pessoas precisam fortalecer as Nações Unidas. A ONU precisa ser reformulada porque precisa ter mais força para evitar que esses conflitos se prolonguem. A ONU teve forças de criar o Estado de Israel, mas não tem força para criar o Estado Palestino? A gente vive com conflito porque [a organização] enfraqueceu, a geopolítica mudou."
Fim do veto no Conselho de Segurança: Uma mudança relevante, segundo ele, seria aumentar o número de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e acabar com o poder de veto.
Criado em janeiro de 1946, após a Segunda Guerra Mundial, o conselho só tem cinco países (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), que têm poder de, mesmo isolados, vetar as propostas.
É preciso que tenha mais gente no Conselho de Segurança da ONU, é preciso acabar com o direito do veto. Por que o Brasil não pode estar no Conselho? O México, a África do Sul, o Egito, a Índia, a Alemanha, o Japão? A [Segunda] Guerra acabou em 1945, não é possível que apenas os que participaram diretamente estejam lá, é preciso colocar a geopolítica do século 21 para dirigir a ONU e quem sabe a gente consiga evitar essas guerras."
Sem temas pessoais: Lula também criticou o uso de elementos da vida pessoal dos candidatos, como família e religião, durante a campanha eleitoral. De acordo com a Folha de S. Paulo, a campanha de Bolsonaro considera atacar a esposa de Lula, a socióloga Janja da Silva, na televisão.
"Quando você começa a envolver mulher em campanhas é porque você não tem o que falar. Eu tenho lido coisas nas redes sociais. Partindo de quem parte [Bolsonaro], a gente sempre tem que esperar o pior, porque daquele mandacaru não nasce flor cheirosa."
"Não quero saber se meu adversário é católico, evangélico, se ele cheira ou não cheira, se ele bebe ou não bebe. Minha divergência com ele é sobre ideias políticas e programáticas", completou o ex-presidente.
Proteção à Amazônia: O petista voltou a pregar proteção à Amazônia, uma das bases do seu programa de governo, e defendeu que haja um debate internacional sobre as condições de proteção à floresta, mas com respeito à soberania do Brasil sobre o território e com responsabilização em diferentes instâncias.
É engraçado que, quando há uma queimada, a televisão mostra, mas aquela terra não tem dono. A gente não sabe que aquela terra tem dono, porque, ou aquela terra é de propriedade privada, ou é reserva indígena ou é do município."
Ele também voltou a prometer a criação do Ministério dos Povos Originários. "É preciso que os indígenas cuidem da Amazônia. É preciso entender que toda terra queimada tem dono. É preciso que a gente responsabilize nossos amigos prefeitos, que conhecem os donos dos terrenos", afirmou Lula.
Temos que envolver na discussão todos os países amazônicos. Para que tenhamos uma atitude coletiva na preservação da nossa floresta e da nossa biodiversidade. Definitivamente, vamos acabar com qualquer possibilidade de garimpo ilegal. Não precisamos divulgar uma única árvore para plantar soja, para criar gado."
Melhorar imagem do Brasil por investimento estrangeiro: Lula também reforçou a importância de melhorar a imagem do Brasil para aumentar o investimento estrangeiro. O petista afirmou que, em um possível governo, vai estimular que empresas de fora tragam "novas ideias" ao país.
"Quem quiser fazer investimento no Brasil, queremos que invista em algo novo, queremos criar algo novo, criar algo novo. É para isso que nós queremos viajar para convidar investidores estrangeiros a virem investir no Brasil", afirmou Lula.
O investidor estrangeiro não vem investir no país por causa dos olhos do presidente, ele vem investir no país quando a proposta de investimento oferece possibilidades de ganhos e ao mesmo tempo precisamos oferecer mercado consumir para o produto que vai ser fabricado."
Bolsonaro e democracia: Muito questionado sobre ameaças sobre não-aceitação do resultado da eleição por parte de Bolsonaro caso perca a reeleição, Lula criticou o adversário, mas disse não acreditar em ruptura institucional.
Temos um presidente que, segundo a imprensa, conta sete mentiras todo dia, que desafia todo santo dia as mais diferentes instituições, que desafia as Forças Armadas quando diz que as Forças Armadas são dele, quando são da sociedade brasileira. Ele brinca quando ofende o Poder Judiciário, a Suprema Corte, a Justiça Eleitoral. Ele machuca a democracia quando ofende qualquer organismo que criamos para consolidar a democracia.
Afago a Moraes: O petista aproveitou a deixa ainda para afagar Moraes, atual presidente do TSE. Durante a posse, na semana passada, Lula e Bolsonaro ficaram frente a frente pela primeira vez desde o início da pré-campanha.
Moraes, que já teve rixas públicas com Bolsonaro e que foi criticado abertamente por ele, fez um discurso de forte tom democrático, com defesa às urnas eletrônicas, um dos alvos do presidente.
A posse do Moraes foi uma força muito viva, mostrando para a sociedade que o povo está cansado de autoritarismo, o povo quer democracia de verdade, democracia na urna e no exercício do poder. Coisas que soubemos e sabemos fazer muito bem.
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