Bolsonaro elogia economia com Guedes, mas pondera: 'Pode mudar? Pode'
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), fez hoje elogios ao ministro Paulo Guedes pelo trabalho executado desde o início do mandato, em janeiro de 2019, mas ponderou que, "um dia, pode redirecionar o posicionamento" da economia do país —caso seja reeleito em outubro.
Há risco de demissão? Sem esmiuçar o raciocínio, o governante declarou a uma plateia formada por representantes da indústria do aço que "Paulo Guedes se comportou da forma como havia conversado lá atrás", em referência à disputa presidencial de 2018. Por outro lado, o candidato disse não descartar mudanças —ele não explicou com clareza se considera eventual alteração no comando do ministério ou em políticas setoriais.
"[A economia] passou por maus momentos durante o nosso mandato. Não podia ser diferente. Com crise acontecendo, a covid... Uma crise hídrica enorme no ano passado. Uma guerra lá fora. Entre outros problemas... O interesse político de alguns, também, de gastar mais... Mas o Paulo Guedes se comportou da forma como ele havia conversado comigo lá atrás. Pode mudar? Pode. Pode redirecionar o nosso posicionamento um dia... Mas iremos conversar."
"Quantas vezes... Tem uma salinha reservada, que não é sala cofre... Na nossa presença, a gente vai com o caboclo lá e... Somos iguais. Só não sai na pancada, o resto a gente fala do jogo, é isso e aquilo... E eu tenho que confiar. A confiança no ministro é essencial", completou Bolsonaro.
A agenda. As declarações de hoje ocorreram durante discurso do candidato do PL na abertura do Congresso Aço Brasil 2022, em São Paulo. Ainda hoje, o chefe do Executivo federal retorna a Brasília.
Ironia contra a urna eletrônica. Durante o evento, Bolsonaro também voltou a lançar ironias com o objetivo de criticar o sistema eleitoral brasileiro. Ontem, na entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o presidente colocou uma condicionante ao ser questionado se estaria disposto a assumir compromisso público de respeitar o resultado das urnas, em outubro. Ele respondeu que o fará, desde que o país tenha "eleições limpas".
"Só tem uma coisa que é infraudável no Brasil, pessoa sabe o que é", ironizou o candidato à reeleição no evento de hoje.
A declaração ocorreu quando Bolsonaro falava sobre um suposto chip para bombas de postos de combustíveis, que seria frágil e vulnerável a fraudes, segundo ele. A plateia riu da afirmação do candidato.
Inverdade. Na contramão da narrativa bolsonarista, não há qualquer indício concreto e/ou fatos comprovados que levantem suspeitas a respeito da lisura do processo eleitoral, segundo repetidos posicionamentos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A entrevista no Jornal Nacional. Ontem, Bolsonaro esteve na bancada do Jornal Nacional para a primeira sabatina com os concorrentes na corrida presidencial. Logo no começo, o apresentador William Bonner quis saber se o candidato a reeleição se comprometia a respeitar o resultado da eleição.
A resposta do presidente foi contundente e ele usou uma condicionante para dizer que respeitará o resultado do pleito.
"Serão respeitadas as urnas desde que as eleições sejam limpas e transparentes. Como você diz que [as urnas] são auditáveis e, em 2014, não aconteceu isto?", indagou Bolsonaro em resposta a Bonner.
Bolsonaro citava a reclamação do PSDB que colocou em dúvidas o resultado da eleição de 2014. Na ocasião, Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB). Em outro ponto de sua fala, Bolsonaro declarou que participou da "inquisição da Globo".
Durante a entrevista, o candidato à reeleição repetiu informações que costuma usar em discursos de campanha. Ele disse que, dos mais de 300 mil títulos de propriedade rural distribuídos a famílias assentadas em seu governo, 90% foram entregues a mulheres. Neste momento, Bolsonaro comentou que há críticas de diversos setores da sociedade em relação à postura dele com as mulheres.
A sinalização é uma tentativa de diminuir sua rejeição neste segmento de eleitores. O principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), leva vantagem entre as mulheres.
Bolsonaro conta com a simpatia do público. Em vários momentos, o presidente conseguiu interação com a plateia do Congresso Aço Brasil. Quando ele declarava que a França enfrenta incêndios o microfone falhou na hora em que mencionava o nome do presidente Emmanuel Macron.
O candidato à reeleição disse que era carma e provocou risadas do público. Bastante à vontade, Bolsonaro pediu para estenderem o tempo que tinha para falar e comentou sobre o nióbio, tema muito citado na campanha de 2018.
Outro assunto da última corrida eleitoral que voltou ao discurso do presidente foi a Venezuela. Bolsonaro disse que os brasileiros que fugiram da Ucrânia trouxeram seus animais de estimação, algo que não ocorre com venezuelanos.
"Ninguém chega da Venezuela fugindo com cães e gatos. Já comeram todos".
O candidato ainda declarou que ser presidente "é um saco". Mas ressaltou que se ocupa o cargo porque entende que se trata de uma missão.
Também houve espaço para reclamar da política do fique em casa durante a pandemia.
Almoço com empresários. A sequência da agenda de Bolsonaro em São Paulo continha um almoço com empresários no bairro Morumbi. A conversa durou mais do que o programado.
Além do presidente, participaram os filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes (Economia), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Fabia Faria (Comunicação). O candidato à reeleição saiu do prédio onde ocorreu o almoço sem falar com a imprensa. A única interação foi descer do carro e acenar para cerca de 20 apoiadores que aguardavam na calçada.
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