Topo

Tchutchuca do Centrão: como a gíria foi parar na política com Paulo Guedes?

Bolsonaro foi chamado de Tchutchuca do Centrão por youtuber - Gabriela Biló/Estadão
Bolsonaro foi chamado de Tchutchuca do Centrão por youtuber Imagem: Gabriela Biló/Estadão

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

23/08/2022 14h45

Na última semana, o Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), perdeu o controle após ser chamado de 'Tchutchuca do Centrão' pelo youtuber Wilker Leão. A expressão já havia sido utilizada antes como crítica a membros do governo de Bolsonaro.

Foi o deputado federal do Paraná pelo PT Zeca Dirceu, que usou o termo pela primeira vez para fazer críticas ao ministro da Economia Paulo Guedes.

Na época, o deputado petista afirmou que Guedes agia como "tigrão" em relação a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como "tchutchuca" em relação à "turma mais privilegiada do nosso país".

O fato aconteceu em 2019, em uma audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Guedes respondeu que "tchutchuca é a mãe e a avó", e a sessão foi encerrada. O ministro foi escoltado para fora da sala pela Polícia Legislativa.

Desde então, o apelido "Tchutchuca do Centrão" se refere à relação do presidente da República com os integrantes desse grupo político e a apontada "submissão" dele ao grupo, por conta de atitudes e decisões tomadas pelo chefe do Executivo que eram de interesse do Centrão e que também beneficiaram ele.

Após a confusão desta manhã, o deputado, que é filho de Zé Dirceu, fez outra piada com o ocorrido no Twitter.

"O Paulo Guedes é Tchutchuca de Banqueiros. O vagabundo da República é Tchutchuca do Centrão! Ele está descontrolado, o TSE precisa punir exemplarmente a agressão ao YouTuber", escreveu Dirceu.

De onde vem o termo tchutchuca?

A comparação entre "tchutchuca" e "tigrão" vem de uma canção do Bonde do Tigrão, grupo de funk carioca dos anos 2000. Em "Tchutchuca", o grupo canta "vem tchutchuca linda; senta aqui com seu pretinho; vou te pegar no colo; e fazer muito carinho" e "vem, vem tchutchuca; vem aqui pro seu Tigrão".

O que é o Centrão?

O Centrão é um bloco formado por parlamentares de diferentes partidos que se unem por influência na Câmara e defendem seus interesses em conjunto "independentemente" de ideologia ou de que partido está no governo.

Na visão da política de centro, não deve haver extremismos ou intransigências na sociedade. Os seus principais valores são: oposição ao radicalismo sustentado pelo equilíbrio que cria a tolerância que defende a coexistência pacífica.

O grupo já apoiou de Sarney a FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. O atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) faz parte do bloco.

Essas legendas costumam se organizar do centro à direita do espectro político e estão associadas a negociações em troca de cargos na administração pública. Por reunir centenas de deputados, o apoio do Centrão costuma ser decisivo para a governabilidade, ou seja, a capacidade do Executivo de aprovar projetos de governo.

O termo Centrão foi usado para designar os parlamentares que formavam maioria na Assembleia Constituinte que deu origem à Constituição Federal de 1988. O deputado Roberto Cardoso, do PMDB (atual MDB) foi um dos idealizadores do grupo. Ele ficou conhecido pela frase "é dando que se recebe", que usou para explicar o apoio de deputados ao governo José Sarney.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando de Eduardo Cunha, preso por corrupção na Operação Lava Jato. Deputado pelo Rio de Janeiro, Cunha foi presidente da Câmara até 2016, inclusive durante o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, época em que o Centrão consolidou a atuação que tem hoje.