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Criticado por Bolsonaro, Boric fala em reagir a 'possível golpe no Brasil'

Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Gabriel Boric (Chile) - Getty
Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Gabriel Boric (Chile) Imagem: Getty

Colaboração para o UOL, em Brasília

31/08/2022 10h55

Alvo de críticas de Jair Bolsonaro (PL), o presidente do Chile, Gabriel Boric, elogiou, em entrevista à revista Time, manifestos em defesa do sistema eleitoral brasileiro, como os publicados pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Na avaliação do mandatário, aliado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a América Latina deve reagir em caso de tentativa de golpe contra a democracia.

"Foi muito esperançoso ver a carta de São Paulo, que tem um milhão de assinaturas a favor da democracia, com a transversalidade dos signatários de vários setores da sociedade e da política. Foi um sinal poderoso da sociedade civil brasileira. Se houver uma tentativa como aconteceu, por exemplo, com a Bolívia em 2020, em que se acusou de fraude que não foi, e um golpe de estado foi validado, a América Latina tem que reagir em conjunto para colaborar na prevenção", disse.

A manifestação ocorre depois de o governo do Chile ter convocado, na segunda-feira (29), o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, a prestar esclarecimentos sobre ataques feitos contra Boric durante o primeiro debate com candidatos à Presidência da República, organizado pelo UOL, em parceria com Band, a Folha de S.Paulo e a TV Cultura.

"Lula apoiou o Presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo o nosso Chile?", questinou Bolsonaro em suas considerações finais no evento.

Bolsonaro dá informações falsas, diz Chile

Em nota, a ministra das Relações Exteriores do Chile, Antonia Urrejola, disse que as declarações do mandatário brasileiro a respeito do chileno são "informações absolutamente falsas" e que "corroem a democracia e as relações bilaterais".

Na terça-feira (30), Bolsonaro se pronunciou sobre reunião do governo chileno com o embaixador do Brasil em Santiago. "Se exagerei ou não, não deixei de falar a verdade", afirmou.

Ao UOL, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que questionamentos sobre declarações feitas pelo presidente Bolsonaro devem ser encaminhados à Presidência da República e confirmou que o embaixador do Brasil em Santiago reuniu na tarde de segunda-feira na chancelaria chilena.

Questionado sobre as declarações de Boric à Time, o Palácio do Planalto não se manifestou.

Leia a íntegra do que disse Urrejola sobre Bolsonaro:

"O Governo do Chile considera que as declarações feitas contra o presidente Gabriel Boric, pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante um debate presidencial realizado ontem, são inaceitáveis e não condizem com o tratamento respeitoso que os chefes de Estado nem com as relações fraternas entre dois países latino-americanos.

O uso político da relação bilateral para fins eleitorais, baseado em mentiras, desinformação e deturpação, corrói não apenas o vínculo entre nossos países, mas também a democracia, prejudicando a confiança e afetando a irmandade entre os povos.

O presidente Boric declarou publicamente as diferenças que o separam do presidente Bolsonaro, mas ao mesmo tempo destacou a importância de manter boas relações entre os estados do Brasil e do Chile.

Além dessas infelizes declarações, o Governo do Chile expressa sua convicção de que nosso país e o Brasil têm não apenas uma história comum, mas também enormes desafios a enfrentar de forma colaborativa, razão pela qual espera continuar fortalecendo os laços permanentes de amizade e cooperação entre nossos países".