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Michelle sobre ação de Tebet contra Bolsonaro: 'Tenta calar outra mulher'

Do UOL em Brasília

03/09/2022 11h38

A primeira-dama Michelle Bolsonaro assumiu o protagonismo hoje em evento voltado para mulheres no Rio Grande do Sul, ao lado do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Para um público conservador, ela falou sobre guerra espiritual, citou a Nicarágua e uma suposta ameaça às igrejas no Brasil e ainda enviou indiretas à candidata Simone Tebet (MDB) por ela tentar "calar outra mulher".

Sem citar o nome da senadora, Michelle fez críticas à candidata ao Palácio do Planalto pelo MDB.

Nessa semana, Tebet entrou com uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a campanha do presidente Jair Bolsonaro, por conta da participação primeira-dama na propaganda partidária veiculada em TV na última segunda-feira (29). De acordo com a ação, Michelle teria participado da peça acima do tempo limite permitido.

A argumentação de Tebet está embasada no fato de que "apoiadores" podem aparecer apenas em 25% do tempo de cada propaganda eleitoral e Michelle teria ficado mais do que isso.

A perseguição está clara, quando uma mulher fala que tem de votar em mulher. Quando uma mulher fala que ela pode estar onde ela quiser; quando uma mulher fala que ela tem liberdade de expressão, mas que daqui a pouquinho ela entra na Justiça e tenta calar outra mulher.

Como resposta, Tebet disse ao UOL que ninguém está acima da lei. "Homem ou mulher, ninguém está acima da lei. Nada contra a primeira-dama fazer propaganda, mas faça dentro da lei. Aliás, presidência é lugar de exemplo", afirmou a senadora ao UOL.

"É o momento de falarmos de política"

"Estamos aqui no meio de cristãos, de pessoas que têm Deus no coração e, muitas vezes, nós não falamos de política, porque não queríamos misturar política com religião, mas hoje é o momento sim de falarmos de política para que amanhã podemos falar de Jesus. Então, nós como mulheres precisamos nos posicionar, como cristãos", disse Michelle.

Michelle falou ainda sobre a Nicarágua, onde as relações entre o governo de Daniel Ortega e a cúpula da Igreja Católica na Nicarágua vivem um momento delicado.

"Esse é o momento que Deus tem dado para a nação brasileira ver o que o comunismo está fazendo com os cristãos. O comunismo começou a perseguir, debochou, fechou igrejas, ateou fogo. Daqui a pouco, se a população brasileira não despertar, isso pode chegar no Brasil sim e os protestantes também serem atingidos", disse.

"Esse é o momento que oramos e pedimos para que a igreja desperte, para que as pessoas tenham entendimento do que estamos vivendo, da guerra espiritual. Não estamos lutando contra homens e mulheres, estamos lutando contra principados e potestades".

Bolsonaro falou por mais de quarenta minutos, após o discurso de Michelle. Ele criticou ideologia de gênero, defendeu armas, criticou discussões sobre legalização das drogas, além de acenar para outras pautas conservadoras.

Ele também voltou a falar sobre o episódio da facada que sofreu em 2018 e disse ter sido salvo pela "mão de Deus". Bolsonaro disse ainda que teve de vencer o "sistema" quando assumiu o governo e que colocou "pessoas nos ministérios sem indicação política".

"Vocês experimentaram um pouco de ditadura aqui no Brasil por ocasião da pandemia quando alguns governadores e prefeitos fecharam igrejas", disse Bolsonaro. "Igreja não se fecha nem em guerra".

Gasolina

Bolsonaro também falou sobre a queda do preço dos combustíveis. "Só conseguiu baixar o preço da gasolina após trocar o quarto presidente. Se tivesse que fazer 20 trocas, eu faria 20 trocas", disse.

Evento

Denise Lorenzoni, esposa do ex-ministro bolsonarista e candidato ao governo do Rio Grande do Sul Onyx Lorenzoni (PL), é uma das organizadoras do evento que tem a presença também da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da ex-ministra e candidata ao Senado pelo Distrito Federal, Damares Alves (PL). O vice-presidente da República e candidato ao Senado Hamilton Mourão (Republicanos) também participou do evento.

Intitulado "Mulheres pela vida e pela família", o evento é promovido pela ala feminina do PL e reúne também pastoras evangélicas gaúchas, na Fenac de Novo Hamburgo. Com distribuição de ingressos gratuita pela internet, os organizadores esperavam 7 mil pessoas.

"Teremos o prazer de receber e ouvir mulheres que estão fazendo a diferença em nossa sociedade, fortalecendo os valores da família Brasileira", dizia o material de divulgação do evento que anunciava ainda a presença da bispa da igreja Sara Nossa Terra Lúcia Rodovalho e da escritora gospel Dirce Carvalho.

Metade das eleitoras do país (50%) rejeita Bolsonaro (PL), enquanto 32% dizem não votar em Lula (PT), de acordo com a pesquisa Ipec, divulgada nesta segunda (29).

Com alta rejeição por mulheres em todas as faixas de renda, Bolsonaro tenta desde o início da campanha se voltar ao público feminino, mas segue se envolvendo em polêmicas.

Pesquisa da Quaest Consultoria realizada presencialmente, contratada pela Genial Investimentos, aponta que, apesar dos esforços da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) em conquistar o voto feminino e o eleitorado evangélico, ele está estagnado com os dois grupos.

Ataques de Bolsonaro a Gabriela Prioli e Vera Magalhães

Durante a semana, Bolsonaro fez um ataque à apresentadora Gabriela Prioli. Ele reproduziu um print da revista "Veja" em que Gabriela diz o motivo pelo qual não o quer o presidente em seu programa. Na legenda, Bolsonaro escreveu o seguinte: "Tabajara Futebol Clube diz por que não quer Neymar em seu time", fazendo referência ao time de futebol do programa "Casseta e Planeta", humorístico da Rede Globo que ficou no ar até o começo dos anos 2000.

No primeiro debate realizado entre os candidatos ao Palácio do Planalto nestas eleições, na semana passada realizado por UOL, Band, TV Cultura e Folha, Bolsonaro também protagonizou ataques à jornalista Vera Magalhães.

Como uma tentativa de reverter os episódios, a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez sua primeira aparição em uma inserção veiculada na TV nesta terça-feira (30) após o erro grave, segundo avaliação de fontes da própria campanha, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) cometeu em declarações sobre mulheres durante o debate no domingo à noite.