Jovens que vaiaram motociata são revistados por PMs após protesto em ônibus
Menos de dez minutos após protestarem contra apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma motociata ontem em Copacabana, oito jovens negros foram retirados de um ônibus da linha 474 (Jacaré x Copacabana) e revistados por três policiais militares do Batalhão de Choque. O presidente chegava à orla da praia da zona sul carioca para atos militar e de apoio a ele.
Uma testemunha gravou em vídeo toda a ação. A identidade dos rapazes ainda é desconhecida. Também não se sabe o motivo pelo qual o coletivo foi parado pelos agentes de segurança —cujo efetivo foi reforçado em razão dos atos convocados pelo presidente em Copacabana. A imagem do protesto no ônibus —fotografada pela reportagem do UOL— viralizou nas redes sociais.
O UOL procurou a Polícia Militar para saber o motivo de apenas os jovens terem sido revistados e se houve apreensões ou prisões na abordagem, mas a corporação não respondeu.
A PM afirmou apenas que foram detidos, em Copacabana, "um homem com um celular roubado e outro tentando roubar também um celular". Em nota, a Polícia Militar concluiu que, "fora isso, a mobilização transcorreu de forma pacífica".
Em quase sete minutos de vídeo, três policiais do Choque aparecem revistando os oito jovens. No ônibus, havia outros passageiros que não foram revistados —alguns deles saíram do veículo durante a abordagem.
O UOL confirmou ser o mesmo grupo a partir do número de série do ônibus, das roupas que os jovens vestiam e do local da abordagem, na rua Barata Ribeiro sentido Ipanema.
Pouco antes da abordagem, os mesmos agentes haviam bloqueado o trânsito da via para a passagem de Jair Bolsonaro e seus apoiadores em motos. O presidente já havia passado quando a reportagem gravou o protesto dos passageiros do ônibus.
A abordagem: revista de alimentos e celulares. Dois dos jovens ficam à direita da porta traseira e os outros seis, à esquerda. O vídeo mostra que os policiais revistaram roupas, mochilas, tênis, alimentos e celulares.
O vídeo começa com todos eles com as mãos na lateral do ônibus e de costas para os policiais. Primeiramente, os policiais fazem uma revista padrão —checam os bolsos das bermudas e as roupas dos rapazes à esquerda da porta. Depois, um policial revista o interior dos tênis de dois deles.
Enquanto isso, outro policial entra no ônibus e sai após pouco mais de um minuto. Ninguém mais é chamado para a revista.
Nesse momento, um terceiro policial abre a mochila de outro rapaz (um dos dois à direita da porta) e retira todo o conteúdo para revista. As imagens capturam alimentos como biscoito, leite e arroz.
Já virados de frente para os policiais, dois jovens têm seus aparelhos celulares esmiuçados. Um policial abre fotos e aplicativo de mensagem de um deles. O outro pede para que um dos rapazes mostre conteúdos no aparelho, mas não é possível ouvir os pedidos.
Enquanto isso, a mochila de outro jovem é revistada —também com alimentos. Ele apresenta sua carteira de trabalho, que é entregue a um dos policiais.
Neste momento, o vídeo encerra. A testemunha que gravou as imagens contou ao UOL que, após a checagem de informações do dono da carteira de trabalho, houve revista também nos telefones da dupla à direita da porta e só aí os policiais começaram a pedir a identificação de todos.
Pela descrição da testemunha, os policiais fizeram o chamado "sarqueamento", no jargão policial, que é o procedimento de verificar se há mandados de prisão ou alguma pendência judicial atrelada a um cidadão no SarQ (Serviço de Arquivo) da Polícia Civil.
A história da foto. Antes de os rapazes serem revistados pelos PMs, eles passaram alguns minutos vaiando a motociata capitaneada por Bolsonaro.
Das janelas do ônibus, que estava chegando a Copacabana, eles xingaram, fizeram gestos obscenos e o "L" em alusão ao ex-presidente e candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Um deles repetia: "é Lula".
A motociata passava pela rua Barata Ribeiro porque, após trafegar por um trecho da avenida Atlântica, foi necessário sair da orla devido ao alto número de apoiadores de Bolsonaro na via.
À frente da motociata, policiais do Choque —mesmo batalhão que revistou os jovens— abria o trânsito e pedia para que carros e ônibus aguardassem a passagem.
A reportagem acompanhava a motociata na garupa, com serviço de moto fretado e pago com recursos próprios do UOL.
Ao longo do trajeto —a motociata partiu do Aterro do Flamengo—, Bolsonaro foi saudado por apoiadores, mas também alvo de outros protestos, como na praia do Flamengo e em outros pontos de Copacabana.
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