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Docente de escola militar diz ter recebido voz de prisão por bandeira do PT

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Belém

22/09/2022 20h22Atualizada em 22/09/2022 20h22

O professor paraense Caíto Aragão diz ter recebido voz de prisão de um oficial da Aeronáutica ao se negar a retirar adesivos e uma bandeira do PT de seu veículo ontem. O caso ocorreu no estacionamento externo da Escola Militar Tenente Rego Barros, em Belém (PA), quando o docente chegava para o trabalho.

Caíto Aragão é ex-vereador e professor civil da escola há mais de 20 anos. Ele ministra aulas de história para alunos do ensino médio e fundamental. Ele afirma ter sido abordado por um oficial da Aeronáutica, logo depois de estacionar o veículo, que tinha uma bandeira em cada porta do carro, sendo uma do Brasil e uma vermelha, além de alguns adesivos do PT.

"O Sargento Solemon disse que eu tinha que tirar os adesivos e bandeiras ou retirar o carro do estacionamento, alegando que era proibido manifestar posição política em área militar. Eu argumentei que a área era externa e que nunca houve esse tipo de proibição lá, mas ele não aceitou e começamos a debater. Até que ele disse que, ou eu tirava o carro de lá, ou me daria voz de prisão. Como eu me recusei, ele me deu voz de prisão", conta o professor.

Professor recebeu voz de prisão após se recusar a retirar logos do PT de seu carro - Caíto Aragão - Caíto Aragão
Professor recebeu voz de prisão após se recusar a retirar logos do PT de seu carro
Imagem: Caíto Aragão

Após dar voz de prisão para Caíto, o oficial teria solicitado, segundo o professor, o apoio de uma viatura, que contava com quatro soldados armados. Segundo o professor, eles teriam orientado que ele entrasse no carro.

"Eles não chegaram a encostar em mim, mas mandaram que eu fosse para o carro. Quando estava me aproximando, o sargento recebeu uma ligação e disse para esperar. Nesse momento os soldados, que estavam de arma em punho, fecharam a porta do carro e se posicionaram na frente dela para que eu não entrasse".

O UOL entrou em contato com a Força Aérea Brasileira para comentar o caso e aguarda resposta.

Manifestações políticas

Toda a discussão foi gravada pelo professor, que mostra em um dos vídeos que há outros veículos com material partidário de candidatos de outros partidos estacionados no mesmo local.

"É o mesmo lugar onde eu estava e não foram perturbar outros motoristas porque os outros candidatos não incomodavam eles. Isso já mostra a posição parcial deles pelo atual presidente, proibindo a bandeira vermelha e permitindo que outras sejam usadas".

Ainda segundo o educador, desde a última eleição em 2018, existe uma determinação na escola proibindo que os funcionários que estacionam no espaço que fica dentro da escola tenham qualquer material alusivo à política no carro. Por conta disso, ele tomou a decisão de deixar o dele do lado de fora.

"Desde então eu sempre deixo o carro do lado de fora da escola. Dessa vez já estava estacionando lá com a bandeira no carro há mais de quinze dias e ninguém me abordou. Enquanto isso, outras pessoas estacionam com materiais de outros candidatos e ninguém vai incomodá-las".

O professor afirma que acionou seus advogados e outros oficiais também foram para o local para tentar entrar num consenso, o que só teria acontecido duas horas depois.

"Não quis sair porque estava com a voz de prisão dada e poderia ser considerado foragido. O superior do sargento disse que iria suspender a voz de prisão se eu pedisse desculpas para ele, mas eu disse que não retiraria nenhuma posição que tomei, nem pediria desculpas porque não estava fazendo nada errado. Mesmo assim ele retirou e autorizou a minha saída".

O professor classificou o ato como uma perseguição política e diz que nunca teve intenção de provocar ninguém, apenas de expressar o seu direito.

"Sou professor, profissional. Em nenhum momento quis provocar a escola ou ninguém. Só que, pela legislação eles podem proibir que seja feita manifestação política dentro da instituição pública, não fora. Não podem proibir de se manifestar no meu carro, proibir a minha liberdade de expressão. É uma forma arbitrária de perseguição política, com dois pesos e duas medidas, perseguindo a e não perseguindo b ou c".