Leia a íntegra da sabatina UOL e Folha com Geraldo Alckmin, vice de Lula
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participou hoje da sabatina UOL e Folha de S.Paulo.
Ele foi o terceiro e último candidato a vice a participar da série de entrevistas. Na segunda-feira (26), a senadora Mara Gabrilli (PSDB), vice de Simone Tebet (MDB), foi a primeira a ser sabatinada. Ontem, foi a vez de Ana Paula Matos (PDT), vice de Ciro Gomes (PDT). Já Braga Netto (PL), vice do Jair Bolsonaro (PL), ainda não confirmou presença.
Leia a seguir a íntegra da sabatina com Geraldo Alckmin:
[Kennedy Alencar]: Olá, muito bom dia. Começa agora uma sabatina do Uol e da Folha de São Paulo com ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSB. Ele é candidato a vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Braga Netto, que é vice de Jair Bolsonaro, do presidente da república, foi convidado, não respondeu, perdeu o prazo e não vai participar dessa série de sabatinas. A gente entrevistou, na segunda-feira, a senadora Mara Gabrilli, que é do PSDB, ela é vice da senadora Simone Tebet, do MDB. E ontem, quarta-feira, entrevistamos Ana Paula Matos, do PDT, que é vice de Ciro Gomes, também do PDT. Participam dessa sabatina comigo a Fernanda Mena, da Folha de São Paulo, oi, Fernanda.
[Fernanda Mena]: Bom dia, bom dia, governador.
[Geraldo Alckmin]: Bom dia.
[Kennedy Alencar]: Leonardo Sakamoto também tá aqui comigo também. Olá, Sakamoto, bom dia.
[Leonardo Sakamoto]: Bom dia, Kennedy, bom dia Fernanda, seja bem-vindo, governador.
[Geraldo Alckmin]: Bom dia.
[Kennedy Alencar]: Governador, bom dia pro senhor, muito obrigado por nos dar essa entrevista.
[Geraldo Alckmin]: Uma alegria, quero cumprimentá-lo, Kennedy Alencar, cumprimentar a Fernanda Mena, o Leonardo Moretti Sakamoto, e saudar aqui todos que estão aqui nessa sabatina.
[Kennedy Alencar]: Bem-vindo. Governador, eu vou fazer a primeira pergunta e a partir daí a gente aciona o cronômetro e a gente vai ter uma para conversar. Falar de violência política. A gente tem visto casos recentes, nessa última semana, pesquisadores foram agredidos, tem gente morrendo. É um nível de violência política, de tensão, de tumulto numa eleição brasileira, o maior desde a redemocratização. Eu pergunto pro senhor: o senhor vê risco de uma escalada dessa violência nessa reta final? Faltam três dias pra eleição. E de quem é a responsabilidade por essa atmosfera de violência no país?
[Geraldo Alckmin]: Olha, primeiro, espero que não, né? Que a gente chegue aí no domingo em paz. Segundo, isso é a antipolítica, porque a política é a arte do bem comum, a arte e ciência do bem comum, não é mata-mata. Então não tem o menor sentido isso. E acho que muito disso tem da forma como o presidente Bolsonaro se comporta. Aliás, o presidente da república deveria dar o exemplo, né? O exemplo de entendimento, me lembro do Juscelino Kubitscheck, quando percorria o Brasil, dizia: "Irei de praça em praça pregando a concórdia, a união nacional", né? E não esse divisionismo, esse ódio, essa violência que acabam estimulando pessoas que cometem atos absurdos.
[Fernanda Mena]: Governador, o senhor vê risco do Bolsonaro tentar um golpe se perder as eleições? Ou de que ocorra uma espécie de tumulto, como a gente viu em 06 de janeiro no Capitólio, nos Estados Unidos? E em qualquer um desses cenários, o senhor acredita em algum envolvimento das Forças Armadas?
[Geraldo Alckmin]: Olha, primeiro, é difícil o perdedor dar golpe, né? Então é mais... Não acredito muito nisso, não, acho que tem muito blefe aí, muita vacina pra justificar possível insucesso eleitoral. E também acredito no profissionalismo, na seriedade das Forças Armadas, que são cumpridoras da Constituição. Isso é um dado de realidade, a democracia no Brasil, ela vem sendo provada e tá se mostrando bastante sólida. Eu me orgulho muito de ter sido constituinte em 1988, fizemos uma nova Constituição cidadã, estabelecendo claramente, aliás, golpe é crime. Isso é crime, é atentar contra a Constituição, doutor Ulysses dizia: "Você pode divergir, agora, você não pode atentar contra a lei maior de um país".
[Fernanda Mena]: Mas o senhor, então, como constituinte, sabe muito bem que a gente estava saindo de um período de uma ditadura militar. Portanto, existe um trauma nacional relativamente recente na nossa história e que voltou a dar as caras nesse momento por conta da retórica, da proximidade do atual presidente com pessoas do alto escalão do exército, então, quer dizer, como é que fica essa relação com as Forças Armadas dentro desse cenário de ameaça?
[Geraldo Alckmin]: Eu acho que, primeiro, não há legitimidade popular, se fizer um movimento na rua é pra tirar o Bolsonaro.
[Fernanda Mena]: Mas não teve até agora com essa força.
[Geraldo Alckmin]: Por quê? Porque se respeita o mandato. Eu acho que é importante respeitar o mandato popular. Eu respeito muito o mandato popular, que é a origem do voto, a legitimidade do voto. Depois, o mundo também é diferente da década lá de 60. É um mundo mais complexo, globalizado, então não vejo clima pra isso. E também essa contestação de urna eletrônica, ela é meio ridícula. Porque o Bolsonaro foi eleito cinco vezes pela urna eletrônica. Agora ela não funciona mais? Aliás, na última eleição, ele foi eleito presidente da república, quem poderia reclamar sou eu, que perdi a eleição. E os três filhos foram eleitos pela urna eletrônica, então não tem o menor sentido, eu acho que é uma agenda... é uma agenda equivocada, os problemas—
[Kennedy Alencar]: Não é uma agenda pra tumultuar? Não é uma estratégia parecida com a do Trump? A gente vê... ontem, o PL divulgou um documento questionando a lisura das urnas eletrônicas, o Alexandre de Moraes, presidente do TSE, teve que reagir. O senhor não acha que ele tá preparando alguma espécie de um tumulto a la Capitólio, não?
[Geraldo Alckmin]: Pode ser. E também, diversionista. Em vez de você discutir o que interessa: olha, como é que vai recuperar a economia? Como é que vai recuperar saúde? Nós estamos tendo retrocesso. Hoje eu estava vendo, vacinação, vai ter que fazer uma campanha nacional para as pessoas voltarem, a gente poder ter vacinação, está voltando meningite. Então, diversionista, quer dizer, ao invés de tratar de uma agenda dos problemas reais do país: salário mínimo, preço de comida, 33 milhões de pessoas passando fome, fica nesse diversionismo que não tem muito sentido. É uma agenda que não é a agenda do povo, mas que repete, repete... é o estilo, estilo autoritário.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, tanto os candidatos Ciro Gomes, do PDT, quanto a senadora Simone Tebet, do MDB, vêm criticando durante a estratégia adotada pelo PT de pedir voto útil nessa reta final da eleição. Como é que o senhor responde essas críticas a essa estratégia, e por que seria importante vencer a chapa do senhor, do presidente Lula, vencer no primeiro turno e não no segundo turno?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Sakamoto, ninguém pede voto útil, você pede voto. Lógico que pede voto, todo candidato quer ganhar no primeiro turno, se disser que não quer, não é verdadeiro, todo mundo, se puder, gostaria de ganhar no primeiro turno. Aliás, o Brasil não tinha eleição em dois turnos, foi Constituição de 88, nós incluímos lá, cargo majoritário, cidades acima de 200 mil eleitores, estado, governador e presidente tem que ter maioria absoluta, você tem que ter metade mais um, senão, segundo turno. Em alguns países, Sakamoto, passou de 45%, acabou. No Brasil, não, se você tiver 49,9 tem segundo turno. Como é muito fragmentada a representação partidária, você tem 11 candidatos, então você tem que somar... o vencedor tem que somar 10, o Bolsonaro e mais 9. Então, eu diria que não é uma campanha pelo voto útil, é uma campanha pelo voto. Agora, cada eleição se comporta de uma forma, se você for verificar a última eleição, quem não estava nos polos perdeu um pouco, eu perdi três pontos lá no finalzinho, o Ciro perdeu três pontos, a Marina perdeu quase três pontos, o doutor Meirelles, até o Amoêdo perdeu um pouquinho, todo mundo perdeu um pouquinho, porque o eleitor olha quem tem chance e acaba desistindo. Por que eu acho que é melhor ganhar no primeiro turno? Eu acho que é melhor. Eu acho que é melhor para o Brasil, porque sai dessa confusão, briga, de repente pode ter morte, pode ter acidente, pode acontecer tragédia, melhor para o povo, dá mais tempo de você organizar, melhor para a economia, para a economia você já tem mais tempo para preparar. Agora, se tiver segundo turno, disputa. Eu fui candidato a Governador, a primeira vez teve segundo turno, participei, ganhei eleição, nas outras duas ganhei no primeiro turno. Então se tiver segundo turno, estaremos lá.
[Kennedy Alencar]: Também não é melhor para evitar uma contestação do Bolsonaro à urna eletrônica, ele vai ter que brigar com mais gente, vai ter que brigar com os 513 deputados eleitos, mais de mil deputados estaduais eleitos, os governadores que se elegerem primeiro turno, os dois que forem para o segundo turno. Não é mais difícil contestar?
[Geraldo Alckmin]: É sempre melhor ganhar no primeiro turno. Agora, seja primeiro, seja segundo turno, quem ganhar não pode ser contestado. Aliás, eu sou um admirador, embora divirja da regra da eleição americana, que é uma pontuação diferenciada, mas é impressionante o respeito. O Al Gore, ele teve mais voto que o Bush, no voto pessoal, e pediu uma recontagem na Flórida, que foi negada. Ele nunca contestou.
[Leonardo Sakamoto]: Governador. Desculpa, já que o senhor citou a redução, é verdade, em 28 de setembro de 2018, o Datafolha estava apontando o senhor com 10% dos votos em 2018, daí o senhor terminou a eleição com 4,76, houve realmente uma desidratação desses candidatos. O senhor acredita que a mesma coisa está acontecendo agora com Ciro Gomes?
[Geraldo Alckmin]: Olha, os candidatos agora estão com menos votos do que nós tínhamos em 2018, então a desidratação é menor, cada eleição é uma eleição, se vai ter primeiro turno ou segundo turno, essa é a resposta de um bilhão de dólares, não é? Quer dizer, ela é uma resposta difícil, eu acho que tem chance, por quê? Não é que há pedido de voto útil, não, o que se pede é voto, todo mundo quer ganhar a eleição, é que o eleitor, ele analisa a realidade e ele procura decidir. Se quer minha opinião, eu acho melhor o primeiro turno, você tem mais tempo de preparar transição, para economia é melhor, define mais as coisas, evitam uma briga danada, porque infelizmente, nós não estamos num ambiente normal. Eu disputei N eleições, desde de prefeito de Pindamonhangaba, você tinha embate, canelada, bate-boca, mas se encontrasse o adversário na padaria, tomava um café, então esse clima não é um clima normal, nós estamos vivendo um momento de anormalidade, e de contestação do Judiciário, é um erro isso, você trabalhar contra as instituições. As pessoas passam, as instituições ficam, nós precisamos é fortalecer, aperfeiçoar e não querer trabalhar contra as outras instituições, os outros poderes é uma coisa autoritária, não é?
[Fernanda Mena]: Governador, continuando nesse mesmo assunto das eleições, nos Estados Unidos, depois do que ocorreu, nas contestações e todo os tumultos que houve ali, hoje em dia as pesquisas estão mostrando que mais da metade dos americanos tem algum tipo de suspeição em relação às eleições e ao seu resultado. Qual pode ser o cenário no Brasil em relação a isso?
[Geraldo Alckmin]: Olha, eu espero que não, que quando você levanta uma suspeição sem ter fatos, sem ter fatos concretos, não é adequado, no fundo, você está propagando uma fake news. Se tem um fato, apresenta o fato, se não tem o fato, vira fake news. No mundo inteiro, o que está correto? Quem é que vai disputar? É o Executivo: Presidente, vice, governador, vice; e o Legislativo, deputados e senadores. Quem tem que fazer a eleição é o Judiciário. Para isso foi criado uma justiça especializada, que é a Justiça Eleitoral. Então lá atrás, aliás, essa foi uma das razões da Revolução de 32 em São Paulo, o que era? Justiça eleitoral, você ter eleição correta, voto secreto, voto secreto, direito de voto para as mulheres, essa era a luta de quase 100 anos atrás, então são conquistas que a gente precisa valorizar.
[Fernanda Mena]: Entrando então um pouco agora na sua candidatura à vice-presidência. O senhor tem eleitores que até agora não conseguem entender como é que o senhor foi parar na vice-presidência da candidatura de Lula depois de anos de críticas duras não só a ele, como ao PT. Como é que o senhor explica esse movimento?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Fernanda, eu sempre procurei trilhar o caminho mais difícil. Mas aquele que eu entendia como mais correto. Eu sou do interior do Vale do Paraíba, de Pindamonhangaba, minha vó, família do Barão Homem de Mello, então família mais tradicional. Qual era o mais natural quando eu, jovem, fui candidato a vereador? Era ser pela Arena. Porque era o doutor Caio, que fez o meu parto, da minha mãe, dos meus filhos, era da Arena, fez até o parto da mãe do Ciro Gomes lá na Santa Casa de Pinda, e eu me filei ao MDB.
[Kennedy Alencar]: Arena era o partido do regime militar...
[Geraldo Alckmin]: Só tinha dois.
[Kennedy Alencar]: E o MDB fazia oposição.
[Geraldo Alckmin]: Só tinha dois partidos. Bipartidarismo. Os militares, na ditadura, dissolveram os partidos, PSD, PTB, o DEM, e criou dois, Arena e MDB. Eu fui pro MDB pelo Manda Brasa. Eu era estudante de Medicina, do diretório acadêmico da faculdade de Medicina, e o que me motivou? Lutar pela democracia. Foi o caminho mais difícil. Fui eleito prefeito, deputado. Lá na frente, eu lembro que o doutor Ulysses, que eu gostava muito, dizia: "O Alckmin não vai sair do MDB. Ele tem as bases muito arrumadinhas". E eu saí e fui a sétima assinatura na fundação do PSDB. Todo mundo perdeu eleição, o Mário Covas em 89 não foi pro segundo turno, em 90, perdeu o Governo do Estado, as bancadas diminuíram. Eu tinha, Kennedy, uns 20 prefeitos que me apoiavam como deputado no MDB. Quando eu fui para o PSDB, quantos me acompanharam? Nenhum. Ficaram todos com o governo. E eu fui. Fui, me filei no PSDB, ajudei a construir o partido, trabalhei, fui deputado, fui governador. Nós estamos vivendo um outro momento. Um outro momento. Tem um risco para a democracia. Um risco para a democracia. Aqui em São Paulo, quando o Mário Covas foi candidato a governador, no segundo turno, o PT o apoiou. Em 98, nós fomos candidatos à reeleição, no segundo turno, o PT nos apoiou. No ano 2000, a Marta Suplicy foi candidata a prefeita, no segundo turno, nós a apoiamos. E também disputamos, o que é muito legítimo, disputa, bate-boca, critica. Eu não me filei ao PT. Eu me filei ao PSB do governador Márcio França, que foi meu vice-governador, me sucedeu no Governo do Estado, pessoa que eu tenho enorme estima até pessoal, e fizemos essa aliança em torno de uma proposta, de um programa. Tem dez partidos nesta frente. Porque o Brasil precisa. Ao invés de você ficar olhando pro passado, você dar um novo passo. E eu vejo a questão positiva. Veja a Alemanha, Fernanda. Angela Merkel é mais à direita, democracia cristã alemã. Ela se elege chanceler, convida o Scholz, do PT de lá, a Social Democracia Alemã, que é mais à esquerda, pra compor o governo. Alemanha deu um salto. Alemanha empurra a Europa. Sempre que você faz uma conciliação, você consegue avançar mais. Então nós já tivemos com o Lula na redemocratização, estivemos juntos na Constituinte, depois disputamos, disputamos, ele foi fundar o PT, eu fui fundar o PSDB, e estamos unidos hoje, aliás, ontem, grande parte, anteontem, do PSDB estava lá declarando apoio. José Gregório, Sérgio... o embaixador Sérgio Amaral, o Rubens Ricupero, o nosso senador lá de Rio Preto, Aloysio Nunes Ferreira Filho, os meus secretários, Cláudia Costin, ministros do Supremo, é um momento que nós estamos vivendo que eu acho que precisa baixar essa brigalhada, acho que é importante ter um entendimento e ter um grande programa pra recuperar o país.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, aproveitando, inclusive, que o senhor citou nomes históricos do PSDB, né, apoiando sua candidatura, e realmente, tá tendo essa divulgação de nomes históricos apoiando o senhor e o Lula. Outros nomes ainda continuam apoiando a Simone Tebet, uma vez que Mara Gabrilli, que é do PSDB, tá na chapa, e há também aqueles que veladamente apoiam Bolsonaro, apesar de não fazer, muitas vezes, isso em público. O senhor acredita que o PSDB vai declarar apoio formal à chapa, a sua chapa e a do Lula no segundo turno?
[Geraldo Alckmin]: Olha, eu não posso falar pelo PSDB. Agora, há mais afinidade, há mais afinidade com o presidente Lula, conosco, do que com o Bolsonaro. Primeiro vamos aguardar pra ver essa questão do segundo turno. Depois a gente precisa ter também cautela, eu já disputei eleição, também não fui pro segundo turno, mas precisa ter cautela porque é legítimo que a Simone vá trabalhar até o último minuto pra tentar ir pro segundo turno, é legítimo, o Ciro, meu conterrâneo lá de Pinda, enfim, então eu não vejo segundo turno... O que pesa muito no segundo turno é rejeição, isso é o que pesa muito. No primeiro turno, você tem inúmeros candidatos, eu escolho ela. No segundo turno, ficam dois, eu não quero esse, é esse aqui, isso é que pesa mais. Agora, é claro que se for pro segundo turno, vamos buscar o eleitor de todos que não foram para o segundo turno.
[Kennedy Alencar]: Governador, uma outra crítica que se faz ao senhor é em relação à questão da corrupção como ela era tratada nos governos do PT. Em 2017, quando o senhor foi escolhido pra ser candidato a presidente, em 2018, o senhor disputou pelo PSDB, o senhor falou: "Depois de ter quebrado o Brasil, Lula disse que quer voltar ao governo, ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime", uma frase do senhor. Aí o Jair Bolsonaro, presidente da república, e os filhos utilizaram isso na campanha de 2022 agora. E o senhor respondeu: "Naquela época, muitos de nós fomos iludidos por um julgamento que depois a própria Justiça anulou porque foi parcial e suspeito, hoje está provado que o Lula foi preso injustamente". Eu pergunto pro senhor: o que o senhor pensa das acusações de corrupção no governo do PT, especificamente em relação à questão da Petrobras, se a Lava Jato exagerou, errou ali, e o que o senhor pensa sobre a operação em si em relação ao ex-presidente Lula?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Kennedy, primeiro, em relação à questão, acho que o presidente Lula respondeu bem. Ele falou: "Olha, o governo é enorme de grande. Se alguém fez algum desvio na Petrobras, e, aliás, o funcionário que estava lá há 30 anos responde por isso". Agora você não pode criminalizar a política. Aliás, eu vou mais longe: o Lula foi absolvido. Se você verificar na primeira, na 12º Vara do Distrito Federal de Brasília, 12º Vara do DF, o juiz foi claríssimo: ele absolveu. Então o presidente Lula teve na Suprema Corte, no Supremo Tribunal federal, o que disse o Supremo? Olha, não tinham competência para jugar e foram parciais. Então tá anulado. Nós precisamos ter um cuidado com isso, o Ruy Barbosa dizia: "A injustiça cometida contra um cidadão ou cidadã é uma ameaça à sociedade". Hoje eu não gosto dele, deixa pra lá, mas amanhã pode ser alguém que você tenha apreço. Por isso, é preciso ter muito respeito pela questão jurídica e não se politizar, né? Não se partidarizar. O sistema jurídico precisa estar mais distante da questão das paixões mundanas, da paixão políticas. Então, se você quer minha opinião, acho que, na realidade, foi feito pra tirar o Lula da eleição em 2018. Isso se comprovou depois. Você tá ouvindo a imprensa, ouvindo a imprensa, depois você vai verificar e diz: "Olha, não tinha competência, não tinha nenhuma razão pro processo estar lá em Curitiba, não havia competência pra isso". E havia parcialidade, porque você tinha conversa—
[Kennedy Alencar]: Muita gente, governador, diz que "ah, essa coisa da parcialidade, isso é uma formalidade". Isso é negação do devido processo legal, não é?
[Geraldo Alckmin]: Não é formalidade, isso é extremamente grave porque o sistema de Justiça, o Ministério Público tem o dever de defender a lei. E defendendo a lei, ataca. O advogado de defesa, baseado na lei, defende. E o juiz tem que ser imparcial, mas é óbvio, ele não pode, senão não tem justiça. Então eu acho que a gente precisa ter bastante cuidado com isso. Então você quer minha opinião, eu acho que o Lula, em 18, foi injustiçado, e acho que a população reconhece isso. Houve desvios na Petrobras? Houve, e devem ser punidos. Devem ser punidos. O que a população quer? Que a justiça seja feita, que ela seja correta, absolva quem não tem dolo, não cometeu delito, puna quem o cometeu, é isso que a gente deseja: um sistema de justiça que você possa confiar e que seja partidarizado, politizado. Eu não achei, por exemplo, correto o Moro, tendo sido o juiz da causa que tirou o Lula da disputa, depois aceitar ser ministro de quem ganhou. Quer dizer, é estranho, não é... não é normal isso.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, falando até num momento de paixões, a gente falou da prisão do presidente Lula, né? Aí teve o momento do impeachment em 2016. É fato que o senhor inicialmente discordou, inclusive, da estratégia do ex-governador Aécio Neves, que havia perdido a eleição pra Dilma Rousseff em 2014, e declarava dúvida em relação ao processo de impeachment da então presidente. No entanto, depois o senhor apoiou o impeachment. Aí eu queria perguntar: o senhor se arrepende desse apoio e acha que a Dilma foi vítima de um golpe parlamentar?
[Geraldo Alckmin]: Olha, é uma questão complexa, Sakamoto. Eu nunca fui favorável ao impeachment. Eu acho que a gente precisa ter... Embora eu tenha votado pelo impeachment do presidente Collor, eu era deputado federal, votei pelo impeachment, mas a gente precisa ter muito cuidado. No mandato, no parlamentarismo, e eu sou parlamentarista, no parlamentarismo, perdeu a confiança, troca. Você dá estabilidade ao que deve ser estável, chefe de estado, presidente da república, e dá instabilidade, ao que deve ser instável, primeiro-ministro, chefe de governo. Então é natural a troca, você não precisa esperar quatro anos. Essa é a crítica que nós fazemos ao presidencialismo. É uma ditadura de mandato. Elegeu aguente os quatro anos. A não ser por impeachment, que é crime. Então quando começou, eu já não vi com bons olhos, tanto é a que eu tive N conversas com a direção partidária dizendo: "Olha, eu não apoiaria essa questão do impeachment, espera terminar o mandato, não vejo as razões pra isso". Depois, havia também uma dúvida jurídica, porque era chamada pedalada fiscal.
[Kennedy Alencar]: O Ministério Público acabou com ela agora, mandou arquivar.
[Geraldo Alckmin]: Maior pedalada do que nós estamos tendo, impossível. Nós tivemos um déficit em 2020 de 10% do PIB, déficit primário. Você não pagou a dívida, nem juros, nem correção, nem amortizou, gastou além do que arrecadou, 700 e quarenta e tantos bilhões, mais de 10%, e não teve impeachment nenhum. Pelo momento, a circunstância, a dificuldade, o que... a punição para o déficit do caso de uma pedalada fiscal é a inelegibilidade futura, o Tribunal de Contas da União rejeita as contas, o parlamento mantém a rejeição, e torna inelegível. Mas você não cassa um mandato, quantos prefeitos teriam perdido o mandato? Mas enfim, mas como eu não sou jurista e houve um acompanhamento do Supremo Tribunal Federal, no final, eu vou apoiar meu partido. Quem tem obrigação de ir lá votar contra é o PT, quem apoia o governo, nós sempre fomos oposição. Mas sou cuidadoso nessa questão de impeachment. Eu acho que o respeito ao voto popular e ao mandato deve preponderar.
[Kennedy Alencar]: Mas foi golpe ou não foi golpe?
[Geraldo Alckmin]: Você não pode dizer que foi golpe porque quem presidiu foi o Supremo Tribunal Federal. Se perguntar "foi injusto?", eu acho que foi. Foi injusto, porque, na realidade, a Dilma é uma pessoa correta, honesta. Aliás, com quem eu tive sempre um bom relacionamento, fizemos N parcerias, era sempre criticado por tratá-la bem. Uma vez, nós fomos entregar, acho que foi em Catanduva ou Rio Preto, um grande conjunto habitacional, porque eu fiz uma parceria, o Sílvio Torres era secretário de habitação e nós fizemos Casa Paulista com Minha Casa, Minha Vida, fazia junto. Fomos entregar, a hora que vai lá pro palanque, visitamos uma casa com uma família, bateu um pé d'água. Aí ela segurando o guarda-chuva, ela presidente da república, e eu embaixo do guarda-chuva com ela, governador. Imagine, uma senhora segurar o guarda-chuva pro marmanjo aqui. Eu peguei o guarda-chuva e eu segurei. Foi um escândalo. Quando eu chego em São Paulo, tá todo mundo: "Você devia ter dado uma guarda-chuvada nela, imagine, segurar o guarda-chuva". Eu sempre gostei da Dilma, do jeito dela de ser. Então eu acho que a gente precisa ter cautela com a questão de impeachment. Talvez até aperfeiçoar a nossa legislação.
[Kennedy Alencar]: Eu ia perguntar isso agora, porque no impeachment da Dilma, o Eduardo Cunha ficava segurando, no momento que ele não conseguiu no Conselho de Ética da Câmara ser protegido, ele colocou o pedido de abertura de processo pra andar. Já com o Bolsonaro, ele faz uma aliança com o centrão, o Arthur Lyra tá sentado em cima de uma pilha de processos de impeachment, há uma série de crimes de responsabilidade que foram cometidos e não anda porque ele concentra um poder. Essa legislação de impeachment, ela tem que mudar primeiro pra se configurar melhor a questão do crime, porque tudo pode ser crime de responsabilidade, e pra tirar do presidente da Câmara e remeter pro Plenário mais poder se o impeachment anda ou fica parado?
[Geraldo Alckmin]: Eu entendo que sim, Kennedy. Primeiro, o impeachment tem que ter, porque é o único instrumento que você tem pra poder tirar alguém que cometeu um crime. Então ele tá correto. Agora, o que precisa ter? Não pode... Esse presidencialismo dentro... Eu fui deputado. Esse presidencialismo pessoal dentro da Câmara é exacerbado. Você ter um colegiado de 513? O Brasil é pluralidade. A Câmara é pluralidade. Não pode uma pessoa só decidir tudo sozinho. Então quanto mais você abrir essas decisões, melhor. Sou favorável à legislação do impeachment, acho que ela deve ser aperfeiçoada. Agora, tem um adágio em Medicina que eu gosto muito que é "sublata causa tollitur effectus". Suprima a causa que o efeito cessa. Tem febre? Tira a febre, dá lá um antitérmico, mas qual a causa da febre? Tem dor. Tira a dor, dá um analgésico, qual a causa da dor? Na política também. Tudo isso é falta da mudança política, da reforma política. Porque esta fragmentação exagerada, parlamentar, não é nem partidária, pode ter quantos partidos quiser, não pode é ter 30 na Câmara Federal. Isso dificulta a governabilidade e leva a uma situação de instabilidade política. E no presidencialismo, há baixa solidariedade ao Executivo. Se o Executivo vai bem, ótimo, se ele vai mal, acabou a solidariedade. Então você perde, perde maioria e é impichada. Então é importante a gente aperfeiçoar a legislação e também aperfeiçoar a política.
[Fernanda Mena]: Falando da solidariedade dentro das chapas, ao longo da história da república brasileira, os vice-presidentes desempenharam papéis diversos, algumas vezes até mesmo antagônicos. Alguns foram discretos e trabalharam na articulação política, caso do Marco Maciel, do José Alencar, outros aproveitaram crises pra ascender, seja jogando parado, caso do Itamar Franco, seja preparando a tomada da presidência, no caso do Michel Temer. Na sua opinião, qual deve ser o papel do vice e como evitar que cedam à tentação do golpismo?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Fernanda, eu já fui vice. Aliás, já fui titular, fui prefeito, fui governador três vezes, mas também fui vice. Duas vezes do Mário Covas, nos dois mandatos. Então o que é o vice? O que eu entendo? É o copiloto. Você tem um boeing, um Air Bus. Não tem alguém sozinho lá dirigindo. Você tem o comandante e tem o copiloto. Você vai operar, você não opera... vou lá, corto, costuro, você tem um segundo cirurgião, você faz em dupla, então eu vejo como um copiloto, alguém que possa ajudar com discrição. Quem tem que estar na ribalta é o titular. Então eu fui vice-governador duas vezes, absolutamente discreto. Quem tem que estar na ribalta é o titular. E um colaborador. Porque você tem a possibilidade de ajudar muito. O Lula tem falado uma coisa que é verdadeira, ele falou: "Olha, eu tenho oito anos de experiência como presidente da república. O Brasil cresceu, não teve inflação, a dívida caiu, oito anos. O Alckmin tem 14 anos como governador do maior estado do Brasil. E ainda seis como vice. Vamos juntar essas experiências". Por exemplo, eu acho que a gente devia aprovar ontem a reforma tributária. Ontem. Fazer isso, já tá maduro, tem duas PECs, a 45, lá do Baleia Rossi, a 110 lá do Luiz Carlos Hauly, enfim, você colaborar, ajudar. Área de saúde, temos que dar um salto. O Brasil teve retrocesso em várias áreas. Questão ambiental. Então eu vejo como um copiloto, alguém pra ajudar.
[Kennedy Alencar]: A lógica pra governar tem que ser uma lógica de frente ampla.
[Geraldo Alckmin]: Claro, claro. Aliás, o Brasil é plural, Kennedy. Eu acho que o presidente Lula tá traduzindo nessa chapa e nessa frente a pluralidade brasileira. O Brasil é plural. É importante essa pluralidade, isso faz parte da nossa cultura, da nossa história, e o presidente Lula é um homem do diálogo, até pela sua formação sindical. É da conversa, é do entendimento, da conquista, do convencimento. O presidente Lula criou os conselhos. Trabalhadores, empresários, profissionais liberais. Quem ouve mais erra menos. Erra menos.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, o senhor falou do papel de copiloto do vice-presidente e da vice-presidência, o senhor deu vários exemplos, inclusive, de um papel de articulação, de conseguir ajudar o presidente nesse processo de articulação política, técnica dentro do governo. Mas dentro desse papel, se, uma vez eleito, o senhor e o presidente Lula, e o presidente Lula insistir que o senhor comandasse a economia, o senhor aceitaria?
[Geraldo Alckmin]: Esse negócio de sentar na cadeira antes da hora dá um azar danado, né?
[Leonardo Sakamoto]: Hipoteticamente falando.
[Geraldo Alckmin]: Eu acho que agora é pedir voto. Nós temos até domingo, né? Pedir voto, saindo daqui, tô indo pro Rio de Janeiro, amanhã vamos fazer interior de São Paulo, não pode fazer comício, não pode ter carro de som, mas pode conversar. Pode conversar. E o mais importante: o Brasil precisa, Sakamoto, de uma agenda de competitividade. Reforma tributária. Eu visitei três... A campanha tem um sentido pedagógico, educativo, de você ouvir, o cara fala de maneira desabrida pra você. Às vezes é melhor você ouvir o que você não quer ouvir do que você gosta. Você ouve o que você não quer, às vezes de maneira educada, às vezes deseducada, mas faz parte. Eu visitei três fábricas, uma de 49 funcionários, jovens, fábrica de cabos eletrônicos em Sumaré, outra em Bebedouro, de 300, outra maior ainda... Todas, se não simplificar a questão tributária, não tem jeito. Brasil é o país dos impostos. Nós precisamos simplificar, né? Quer dizer, a reforma tributária é necessária. Agenda de competitividade, desburocratizar educação básica de qualidade, acordos internacionais. O país tá isolado. Quando você não faz um acordo, seu vizinho faz, você tá perdendo mercado. Nós temos 3% do PIB do mundo, 1% do comércio exterior. Logística, infraestrutura. Isso você gera emprego na veia.
[Kennedy Alencar]: Acordo Mercosul, União Europeia tá parado.
[Geraldo Alckmin]: Então, Mercosul, União Europeia. A China é um importantíssimo parceiro comercial, mas não pode depender só dela. Nós temos que ter outros mercados para o agro e para a indústria. Presidente Lula tem falado muito em recuperar a indústria. E vai ter uma oportunidade no pós-Covid. A globalização, Kennedy e Fernanda e Sakamoto, ela continua. É necessária, importante, mas com princípio novo: da precaução. Tem coisa que eu tenho que fazer aqui.
[Leonardo Sakamoto]: O senhor pode não ter assumido que o senhor aceitaria o convite, mas o senhor já tem um discurso, inclusive, de alguém com projeto pra economia.
[Geraldo Alckmin]: Sakamoto, eu gosto de estudar. Aristóteles definiu a política como arte e ciência ao encontro do bem comum. Arte é dom, precisa gostar de gente, ter compaixão, enxergar o sofrimento, a dor, e ciência é estudo. Eu fui duas vezes candidato a presidente da república, então eu gosto. Por exemplo, eu sou apaixonado por ferrovia. Se você ligar lá Lucas do Rio Verde até o porto de Miritituba, lá em Itaituba, no Pará, é ferrovia e hidrovia integra modais, você reduz custo. Custo de capital. Por que o juros no Brasil é esse absurdo? É cunha fiscal? Tem que tirar imposto. É falta de concorrência? Estados Unidos tem dois mil bancos. Vamos ter mais disputa. É instabilidade política, econômica, falta de segurança? Enfim, mas é preciso ter uma agenda de competitividade. Por que o Brasil—
[Kennedy Alencar]: Parece discurso de Ministro da Fazenda, o senhor é paulista, mas tem um estilo mineiro de responder.
[Leonardo Sakamoto]: É o que eu acabei de falar.
[Kennedy Alencar]: Essa história de não se sentar na cadeira aí, é de quem não descarta comandar a da economia.
[Geraldo Alckmin]: Eu estou repetindo, Kennedy, o que o presidente Lula incluiu no programa de governo, que é um programa de dez partidos, dez partidos. Eu não me filei ao PT, nós estamos aliados para trabalhar pela população, acho que essa união vai trazer um lado muito positivo, porque não é incompatível, a eficiência econômica e o cuidado social, pelo contrário, eles se somam, aquela coisa do Estado mínimo, deixa o Estado, o mercado resolve tudo, não é verdadeira, você só cuidar do social e não ter eficiência econômica, você também não cresce; você tem que fazer essa boa sinergia, que eu acredito muito nisso.
[Fernanda Mena]: Falando também das suas candidaturas anteriores à Presidência, há quem avalie o movimento de aproximação de Lula e candidato a vice dessa chapa como um prelúdio para candidatura sua à Presidência em 2026. É essa a estratégia?
[Geraldo Alckmin]: Não, não é, Fernanda. Se há alguém que não se preocupa com o futuro, sou eu, eu perdi minha mãe com dez anos de idade, então meu pai foi pai, mãe, fui muito apegado a ele. E o meu pai sempre dizia: Olha, o futuro está nas mãos de Deus, o futuro trará a sua própria aflição, procure fazer bem feito o que está fazendo hoje. Política é destino, isso aí eu nem imaginava, nem ser candidato.
[Kennedy Alencar]: O Lula disse que não concorrerá à reeleição se for reeleito, disse claramente numa entrevista no UOL, tinha falado também para uma rádio na Bahia. Isso alimenta a especulações, o vice-presidente é um candidato natural.
[Geraldo Alckmin]: Kennedy, tem dois ansiosos na vida, os jornalistas e os políticos.
[Kennedy Alencar]: Os jornalistas são mais.
[Geraldo Alckmin]: Nós nem passamos em 2022, eu só tenho um objetivo: ajudar o Brasil. Se conseguir ajudar, já cumpri a minha tarefa.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, o senhor foi um dos responsáveis por trazer João Dória para a política, eu queria que o senhor fizesse uma reflexão. Como é que ele foi? Ele foi um bom prefeito, foi um bom governador? O senhor se arrepende de ser um dos padrinhos políticos dele?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Santo Antônio de Pádua dizia: Quando você não puder falar bem, não diga nada. Eu acho... ele era filiado ao partido, quis ser candidato a prefeito, pediu o meu apoio, eu fiz uma série observações em relação a... olha, isso não é uma tarefa fácil, é dura, família, enfim. Não, não eu só quero ser prefeito, eu sou gestor, não sou político, só quero ser prefeito, quero ser o melhor prefeito. Tá bom, interessante, a cidade precisa de bom gestor, tal, tal. Mas, enfim, eu respeito as aspirações das pessoas, não guardo—
[Kennedy Alencar]: Faltou lealdade dele em relação ao senhor?
[Geraldo Alckmin]: Eu não guardo mágoa de ninguém, ninguém, ninguém, bola para frente, também não critico o PSDB, o que você tem é o enfraquecimento de todos os partidos, esse é um fato, todos os partidos se enfraqueceram, e exacerbou o personalismo. Então, eu defendo uma reforma política, defendo menos partidos e voto distrital misto, que virou corporativismo e fragmentação partidária, é bom para povo isso? Não é. É melhor ter menos partidos e partidos mais programáticos, com propostas mais claras. Embora, as diferenças ideológicas no mundo, elas estão diminuindo, tem muito mais diferença de forma do que de conteúdo, o que é uma coisa boa, prova de maturidade, interessante o fenômeno, se você pegar no mundo, às vezes você fica até confuso, a esquerda tem política de direita, direita... as diferenças diminuíram, você tem muito mais diferença de forma do que de conteúdo. Por exemplo, responsabilidade fiscal, é de todos, não é de esquerda, não é de direita, não é do centro...
[Fernanda Mena]: Governador, sem recorrer ao Santo Antônio de Pádua, eu vou perguntar para o senhor sobre uma outra figura política que foi apadrinhada pelo senhor, que é hoje candidato a deputado federal, Ricardo Sales, que foi réu por desrespeitar leis ambientais quando era secretário do seu governo, Meio Ambiente, e que depois tornou Ministro do Meio Ambiente mais preocupado "em passar a boiada", como ele mesmo disse, do que em preservação. Qual a sua opinião hoje sobre essa figura, e qual deve ser a política ambiental do eventual governo da sua chapa?
[Geraldo Alckmin]: Olha, Fernanda, primeiro eu tive ótimos secretários do Meio Ambiente, José Goldberg, o Fábio Feldmann. Aliás, teve uma participação importante, no período Mário Covas... aliás, eu até quando era vice fiquei lá na viagem do Covas 10 dias, nós que fizemos o rodízio, que era só no inverno, por causa da poluição paralisa um pedacinho da frota, deu tão certo para o trânsito, que aí virou o ano inteiro.
[Fernanda Mena]: Não lembrava do rodízio como uma questão ambiental.
[Geraldo Alckmin]: Patrícia Iglesias, Bruno Covas. Interessante, o Ricardo Sales era do PFL, depois foi para o PP, os partidos me apoiavam, indicaram, advogado, e no período... que ele ficou um ano só, no período que ele ficou como secretário do Meio Ambiente, era até contrário, ele era radical, por exemplo, ele gostava dessa coisa assim mais da ribalta, então ele descia num lixão com o helicóptero da Polícia Militar, tal, lacrava o lixão, tinha até reclamação de prefeito: Olha, tá sendo muito... Um dia um ambientalista me procurou: Olha, segure o Ricardo, porque o que ele está fazendo tá certo. Ele estava fazendo uma coisa que ninguém tinha coragem de fazer, que é ir lacrando todos os lixões e tal. Então não teve... eu defendo... quando foi para a área ambiental, aí mudou, aí virou... seguiu o chefe, seguiu o exemplo de cima. Eu acho que essa questão ambiental é central, para mim o crescimento tem que ser inclusivo, tem que trazer o mais pobre, não é possível você ter salário mínimo com perda real, as pessoas estão passando privação, com instabilidade, não pode voltar a inflação, a inflação não é neutra socialmente, ela tira do mais pobre, põe no mais rico, e com sustentabilidade. E quase metade da emissão no Brasil é desmatamento, um hectare que você corta e queima, emite 150 toneladas de carbono, é uma vergonha o que está acontecendo na Amazônia, e eu acredito que seja uma ação rápida, dá para melhorar e melhorar muito, porque vinha caindo o desmatamento, e ele não é feito por agricultor, ele é feito por grileiro de terra, é grilagem, ocupa, amanhã alguém vai me dar o título e eu vendo a terra.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, só para completar o que a Fernanda falou, governador, mas o Ricardo Sales também foi assessor particular, foi seu secretário particular também. E o senhor... desse momento, desse tempo que ele trabalhou diretamente com o seu gabinete, também, como é que o senhor avalia?
[Geraldo Alckmin]: Nunca teve nenhum problema, só fazia agenda. Ele fazia agenda. Advogado, partido... foi candidato a deputado pelo PFL, não tinha essa postura assim tão radical. E na área ambiental, não teve nenhum problema. Aliás, pelo contrário, era durão e tal, tal. Depois... o que está havendo hoje no governo, Sakamoto, é um desmonte do governo, um desmonte, a verdade é essa, então não deixa o Ibama fiscalizar, a Funai não pode atuar, a cultura trabalha contra o artista, a Fundação Palmares não respeita o negro, então você está tendo um desmonte do aparelho do Estado, que não é correto, não é adequado. E isso pode, a questão das mudanças climáticas, ela é central no planeta. E você tem o BIC - Brasil, Indonésia e Congo. As florestas mais relevantes para o planeta estão nas Américas, no Brasil (Amazônica), na África (no Congo) e na Ásia (Indonésia), isso é um compromisso, o Presidente Lula tem sido claríssimo, impressionante como ele tem sido incisivo nisso. Aliás, a Marina Silva faz parte da nossa frente, como candidata pelo partido, pela Rede. Eu acho que o Brasil pode ser uma potência da questão da bio. Eu estive ontem, Fernanda, Sakamoto e Kennedy, em são José dos Campos, com o Márcio França, numa reunião com todo pessoal do INPE, do ITA, pesquisadores, cientistas e eles falaram: O que nós precisamos fazer é a biodiversidade dos biomas brasileiros, especialmente da Amazônia, virar recurso, virar emprego, tem 28 milhões de pessoas na Amazônia que precisam ter renda. Eles falaram: Devia ter um ITA, um ITA lá da Amazônia, para você fazer isso virar, ter uma monetização de toda essa biodiversidade.
[Kennedy Alencar]: Governador, estamos indo para reta final da entrevista, tem o pinga-fogo, mas antes eu queria falar com o senhor sobre a questão do aborto. O Lula deu uma declaração ao longo da campanha sobre o contexto que o aborto tem que ser tratado como questão de saúde pública, o Bolsonaro tem uma opinião muito regressiva, faz uma manipulação religiosa em relação a essa questão. E o senhor deu uma entrevista ontem dizendo que o senhor e o Lula são contra o aborto, e que o senhor não vê espaço para mudança da legislação atual, que prevê em três casos: risco de morte, se a gravidez resulta de um estupro e se o feto não tem cérebro. No entanto, há mulheres que fazem o aborto e sofrem complicações, e há uma questão de saúde pública aí. O SUS precisa atender essas mulheres. No governo do senhor e do Lula, se forem eleitos, o SUS continuará a cumprir esse papel ou vai ser uma linha mais dessa do Queiroga, que tentou inclusive mudar a cartilha de atendimento para as mulheres, até criminalizar as mulheres. E outra coisa, é uma questão do Congresso, mas o senhor falou muito bem, ou seja, num governo de frente ampla, pode mobilizar a sua base para tentar votar algumas questões. Eu queria que o senhor fosse mais claro em relação a essa questão do aborto, o senhor é médico, o senhor também entende o aborto como uma questão de saúde pública, inclusive as feministas, para o feminismo, o aborto está incluído nos direitos reprodutivos, então é uma questão muito mais complexa do que a forma como o Bolsonaro a trata, de uma maneira, a meu ver, regressiva e uma tentativa de manipular a religião.
[Geraldo Alckmin]: Olha, Kennedy, o presidente Lula já falou que ele, pessoalmente, ele é contra o aborto. Como eu quero reiterar aqui que eu, pessoalmente, também sou contra. Esse é um tema do Congresso Nacional, e eu acho que a legislação já contempla três hipótese importantes: risco de vida para a mãe, estupro e anencefalia. Então eu acho que a legislação já tá adequada, não mudaria. E lei se cumpre, lei é pra ser cumprida, mas é evidente. Agora, esse é um debate da sociedade, a sociedade discute, a sociedade debate, o Congresso legisla, então eu defendo a legislação atual.
[Leonardo Sakamoto]: E o papel do SUS?
[Geraldo Alckmin]: E o papel do SUS é importantíssimo. Primeiro como prevenção. Ninguém quer gravidez indesejada. Acaba ficando grávida. Então é preciso ter prevenção, educação, informação, orientação, métodos contraceptivos. Essa é a primeira tarefa. Evitar gravidez indesejadas, meninas muito jovens, enfim, esclarecer família, essa é a tarefa. E tratar doente, tratar quem precisa, independente de outros problemas, é dever até do médico fazê-lo.
[Kennedy Alencar]: Sem criminalizar o doente.
[Geraldo Alckmin]: Mas é lógico. O médico tem que tratar pessoas. Não é problema dele questão jurídica.
[Fernanda Mena]: Governador, o senhor é cristão declarado, e o governo atual usou muito a religião pra ameaçar direitos das mulheres, perseguindo crianças estupradas que estavam exercendo o direito legal ao aborto e condenando a educação sexual pra igualdade de gênero nas escolas, apelidada de ideologia de gênero em prejuízo, principalmente, das mulheres, que ainda ocupam, em muitos casos, uma posição de subcidadania no Brasil. Como uma chapa de dois homens, que já declararam ser contrários ao aborto, podem defender os direitos das mulheres brasileiras?
[Geraldo Alckmin]: Olha, nós defendemos. Por quê? Porque a causa das mulheres, ela não é só das mulheres, ela é de toda a sociedade. Então a participação política. É que o Brasil, infelizmente, ele vem, ele tem uma coisa machista histórica. Aliás, eu até dei uma aula um dia na faculdade de Medicina falando sobre a história da Medicina. A primeira faculdade de Medicina do Brasil foi em Salvador. Chegou Dom João VI em 1808 e imediatamente criou a primeira escola médica, até então todo mundo que quisesse fazer Medicina tinha que ir pra Europa. 1808. A primeira mulher a se formar foi no final do século. Uma. Levou quase um século. O direito ao voto. Teve que ter quase revolução aqui pra... A origem da revolução de 32 foi isso. Primeira mulher eleita foi em 34, Carlota de Queiroz. Então o Brasil vem devagar nessa questão dos direitos individuais e coletivos. Então a causa das mulheres é de todos nós. É nosso dever trabalhar, e aí empregabilidade, direitos políticos. Quando o TSE decidiu, em 18, aquela cota para as mulheres, eu era presidente do PSDB, nós fomos o primeiro partido a dizer: "Não, não, não só não vamos contestar como vamos imediatamente aplicar". E acho que nós precisamos das mulheres na participação política. Precisamos. Tudo o que a gente puder fazer para incentivá-las.
[Kennedy Alencar]: Governador, tenho que fazer o pinga fogo aqui com o senhor aqui, pediria que o senhor respondesse de uma forma sucinta, uma ou duas palavras, por gentileza. João Goulart.
[Geraldo Alckmin]: Olha, eu acho que ele foi vítima de um golpe. Porque não foi tirado pelo Judiciário nem por impeachment. Foi vítima de um golpe.
[Kennedy Alencar]: José Sarney.
[Geraldo Alckmin]: Eu o respeito, ele fez uma transição, uma transição, e garantiu a nova Constituição Brasileira.
[Kennedy Alencar]: Itamar Franco.
[Geraldo Alckmin]: Itamar Franco, sempre gostei do Itamar. Eu acho que ele teve ali o mérito no final, com o Fernando Henrique, aquela tríade André Lara-Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha, de dar o primeiro passo pro real.
[Kennedy Alencar]: Michel Temer.
[Geraldo Alckmin]: Michel Temer cumpriu uma outra transição. Bom jurista, eu o conheci quando ele foi secretário no governo Franco Montoro.
[Kennedy Alencar]: O senhor é favor ou contra usar câmera no uniforme de policiais?
[Geraldo Alckmin]: A favor.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra voltar a restringir a posse e o porte de armas?
[Geraldo Alckmin]: A favor com uma exceção. Na zona rural poder ter a posse. Você não tá do lado da polícia, pode estar muito distante, como segurança, só na zona rural.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra ampliar a possibilidade de aborto legal? O senhor já disse que é contra, não é?
[Geraldo Alckmin]: Contra.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra legalizar a maconha?
[Geraldo Alckmin]: Contra. Porque não tem... A não ser pra caso medicinal. Medicinal. Você tem comprovação de que ela é importante pra crises de convulsivas, enfim, para uso medicinal, a favor.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra as cotas raciais?
[Geraldo Alckmin]: A favor.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra privatizar a Petrobras?
[Geraldo Alckmin]: Já era contra quando fui candidato em 2006, acho que deve ter são parcerias com iniciativa privada.
[Kennedy Alencar]: A favor ou contra revogar a reforma trabalhista?
[Geraldo Alckmin]: Aperfeiçoá-la. Manter o acordado sobre o legislado e aperfeiçoá-la. O mundo do trabalho tem muita novidade, essa questão das plataformas digitais é uma coisa nova, você tem trabalhadores totalmente desprotegidos hoje.
[Kennedy Alencar]: Um livro.
[Geraldo Alckmin]: Eu gosto muito de uma troca de cartas entre o cardeal de Milão, arcebispo emérito Carlo Maria Martini e Umberto Eco, se chama "Em que creem os que não creem".
[Kennedy Alencar]: Uma música.
[Geraldo Alckmin]: Milton Nascimento, "Coração de estudante".
[Kennedy Alencar]: Um sonho.
[Geraldo Alckmin]: Paz, diálogo, amor. Eu sou da paz. Ghandi.
[Kennedy Alencar]: Boa, governador. Temos aqui mais cinco, seis minutos para conversar. Sakamoto, vamos entrar na economia?
[Leonardo Sakamoto]: Vamos, vamos sim.
[Kennedy Alencar]: Falar um pouquinho.
[Leonardo Sakamoto]: Governador, o senhor falou, até numa pergunta do Kennedy sobre a privatização da Petrobras. Há espaço para privatização de quais estatais no Brasil hoje?
[Geraldo Alckmin]: Das grandes, eu não sou favorável. Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal. Agora, você tem cento e tantas empresas estatais, e aí vale a pena avaliar caso a caso, tal. Mas eu acho que o grande tema hoje é trazer investimento privado, concessão e PPP, esse é o grande tema. O governo não tem recurso para investir sozinho em tudo, então aquele papel lá de trás, de governo provedor de tudo e executor de tudo, ele é outro momento. Então, o que precisa fazer? Trazer investimento, bom marco regulatório, segurança jurídica e agências de estado, não de governo, altamente profissionalizadas, se você fizer isso, é bom, você vai antecipar investimento, vai melhorar a infraestrutura e a logística, então eu defendo muito PPP e concessões. Aliás, fiz a primeira PPP do Brasil, aqui no centro de São Paulo, de habitação. Fizemos quase três mil apartamentos, ajudando a recuperar o centro, PPP. Três hospitais, o Hospital de São José dos Campos, eu inaugurarei, o Hospital de Sorocaba, Adib Jatene, eu inaugurei. E agora foi inaugurado do meu pacote lá, o Pérola Byington, ali no Bom Retiro. Então eu sou fã de PPP, até porque eu sou torcedor do peixe e me lembra Pagão, Pelé e Pepe.
[Kennedy Alencar]: Bom time para qual o senhor torce. Também sou torcedor do peixe.
[Geraldo Alckmin]: Você sabe daquela história, né? O Santos é o melhor time do mundo, se os fatos mostrarem o contrário, pior para os fatos.
[Kennedy Alencar]: Governador, olha só, falar um pouco de agronegócio. Uma parte do agronegócio resiste ao Lula, o senhor está na chapa lá com o Lula, eu queria entender o que vocês pretendem fazer para vencer essas resistências. O Bolsonaro, de alguma maneira, ele conseguiu mais apoio nesse setor. E agora, paga-se um preço. Ele estimula invasão de terra na Amazônia, garimpo ilegal, uma parte do agronegócio parece não entender a importância da questão ambiental, como é que vocês vão tratar o motor importante da economia e fazer esse motor respeitar o meio ambiente, depois que eles se acostumaram com esse tratamento do governo Bolsonaro?
[Geraldo Alckmin]: Eu acho que já está mudando, eu tenho notado que já está mudando. Se pegar o Mato Grosso, o nosso candidato lá ao Senado é o Neri Geller, que é o vice-presidente da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, como deputado. O senador Carlos Fávaro, do PSD do Kassab, todo mundo está com a gente. Está mudando. Por quê? Vamos pegar o governo, o Lula já foi presidente, vamos pegar o governo, não teve problema maior de invasão, até porque terra invadida não pode ser desapropriada, isso é lei. O MST, hoje, eu fui inaugurar uma cooperativa lá em Andradina, indústria de laticínios, produtores, 80, 70 litros de leite, 60, junta todo mundo, produz queijo, manteiga, vai até exportar. Então, é outro momento. Vamos pegar os fatos. Os juros no tempo do Lula para comprar um trator, era 3,5%, hoje é de 12,5, a 16,5, é muito mais caro, muito mais difícil. Financiou armazém, financiou equipamento, dobrou a produção agrícola.
[Kennedy Alencar]: O que explica essa resistência?
[Geraldo Alckmin]: Acho que um pouco de falta de diálogo, é importante a gente— Uma vez o Barack Obama falou uma coisa que eu gosto, ele disse: Olha, eu achava que bastava eu estar certo, aprendi que os outros também precisam achar que eu estou certo. Política e convencimento, você tem que estar 24 horas... é vida pública, prestando contas, prestando contas, esclarecendo dúvidas, tirando mentira. O Mário Covas dizia: O povo não erra, ele precisa ter as informações, todas as informações. É nosso dever levá-la. Mercado, o Lula vai garantir mercado, nós estamos muito dependentes da China. A questão ambiental, vai ter agora em novembro encontro no Egito, hoje há protecionismo, protecionismo no mundo, vão usar a questão ambiental para fazer protecionismo e prejudicar a exportação dos produtos brasileiros.
[Kennedy Alencar]: Acordo União Europeia e Mercosul está travado justamente por conta disso, por causa da questão ambiental no Brasil. Fora o protecionismo europeu.
[Geraldo Alckmin]: Uma boa parte, Kennedy, do agro já percebeu isso, que essa destruição da Amazônia que não é feito por agricultor pode acabar prejudicando as exportações brasileiras.
[Kennedy Alencar]: Nós temos mais aí 40 segundos para mais alguma pergunta. Questão fiscal. Faça a sua, Fernanda.
[Fernanda Mena]: A minha é essa sua aqui, o Lula já disse que vai acabar com o teto de gastos, regra fiscal desmoralizada no governo Bolsonaro, mas que tem vigência até 2026. O senhor sempre defendeu uma política fiscal rigorosa e foi crítico de medidas econômicas do governo Dilma, haverá regra fiscal num eventual governo Lula/Alckmin?
[Geraldo Alckmin]: A responsabilidade fiscal é essencial, aliás, o Lula pegou a dívida com 60% do PIB e deixou com 39% do PIB, teve superávit primário todos os anos, superávit primário é importante. Agora uma regra que engessa não é adequada, naquele momento que você precisa investir, você está travado, que é o chamado anticíclico, então sempre que você engessa, faz uma coisa engessada, você cria mais problemas, e não é cumprida, como é que regra... que teto é esse que você conseguiu fazer num ano 10% de déficit? Não, foi a pandemia, mas o México também teve pandemia, e foi 3% de déficit. Então nós somos favoráveis à responsabilidade fiscal. Qual instrumento? Vamos aprofundá-lo.
[Kennedy Alencar]: Governador, chegamos ao final da entrevista, mas eu queria que o senhor tivesse um minuto para as suas considerações finais.
[Geraldo Alckmin]: Olha, primeiro agradecer ao Sakamoto, à Fernanda e o Kennedy Alencar, agradecer os que estão nos acompanhando aqui nessa entrevista. Pedir o voto, não é? Eleição quem decide é o povo, são os eleitores, ele é o protagonista e a fonte do poder, quando a gente sai candidato, nós pedimos uma chance para servir, a gente quer uma chance para servir, muito obrigado pelo convite.
[Kennedy Alencar]: Nós é que agradecemos, governador. Muito obrigado, até uma próxima, viu.
[Geraldo Alckmin]: Abração.
[Kennedy Alencar]: Abraço para o senhor. Fernanda, obrigada pela parceria. Sakamoto.
[Fernanda Mena]: Obrigada, Kennedy, Sakamoto, governador.
[Leonardo Sakamoto]: Obrigado Kennedy, Fernanda. Obrigado pela presença, governador.
[Kennedy Alencar]: Pois é. Chegamos aqui ao final de uma série de sabatina do UOL e da Folha de S.Paulo com os candidatos à vice-presidência da República. Eu agradeço muito sua audiência, um abraço e até a próxima.
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