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ANÁLISE

Lula precisa impor sua agenda se quiser vencer Bolsonaro no 2º turno

Canal UOL | Lula Bolsonaro - Reprodução/YouTube e Reprodução/Globonews
Canal UOL | Lula Bolsonaro Imagem: Reprodução/YouTube e Reprodução/Globonews
Alberto Bombig

Colunista do UOL

03/10/2022 12h58

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Não houve uma marolinha lulista na reta finalíssima da eleição, como previam muitos líderes do PT, mas é inegável que ocorreu uma onda conservadora e bolsonarista, capaz de levar a disputa presidencial para o segundo turno e de eleger para o Congresso vários apoiadores do presidente.

Muitos fatores indicam que a força a impulsionar essa onda foi a chamada guerra cultural de Bolsonaro, travada, principalmente, a partir do debate da TV Globo, na última quinta-feira, 29, quando o presidente evocou até o caso Celso Daniel para fustigar Lula (PT) e teve o candidato Padre Kelmon (PTB) como linha auxiliar, forjando uma situação que deixou o petista vulnerável entre eleitores religiosos.

Porque é difícil imaginar que o eleitor tenha escolhido os candidatos bolsonaristas para o Congresso ou até mesmo resolvido dar mais uma chance a Bolsonaro com base nas realizações do governo dele. Segundo os analistas, é muito mais provável que o desgaste imposto ao PT e uma espécie de "memória" da eleição de 2018, quando o conservadorismo varreu o país de norte a sul, tenham feito a diferença em favor da direita nesta reta final.

E o que esperar do segundo turno? Apesar de largar em desvantagem, é quase consenso que Bolsonaro tem chances de vitória, especialmente se Lula não conseguir avançar com a ideia da frente ampla para derrotar o atual presidente e não conseguir criar um "fato novo" capaz mobilizar o debate. Será fundamental o petista atrair mais apoios de centro e de direita, ampliar o diálogo com o mercado e o empresariado e, mesmo a contragosto, detalhar seus planos para a economia.

Esse movimento será necessário não só em termos eleitorais: caso vença o segundo turno, Lula precisará de forte apoio na sociedade civil para enfrentar um Congresso hostil. O PL, partido de Jair Bolsonaro, por exemplo, elegeu 99 deputados federais. Portanto, é imperativo alargar o diálogo, inclusive com setores que estiveram no epicentro do impeachment de Dilma Rousseff, como a ala do MDB ligada ao ex-presidente Michel Temer.

Mas nem só de alianças, propostas e discursos bonitos poderá caminhar a campanha petista nesta fase decisiva da eleição. Lula também terá de investir na rejeição a Bolsonaro com mais contundência do que sua campanha fez no primeiro turno, dizem especialistas em marketing político. Será preciso imputar ao presidente as responsabilidades pelas mortes na pandemia da covid-19, pelo desmonte do SUS, pelo orçamento secreto e pelo escândalo no MEC.

Em linhas gerais, o "eleitor envergonhado" de Bolsonaro terá de se envergonhar a tal ponto de seu candidato até ser incapaz de apertar o 22 na urna no segundo turno. Ou seja, o PT precisará entrar de cabeça na chamada batalha das rejeições e impor uma agenda ao presidente, fazer com ele saia da zona de conforto da guerra cultural e dos ataques a Lula para responder sobre desmandos de seu governo.

Se não tomar o controle dessa agenda logo na largada, virar a página da discussão sobre as pesquisas eleitorais e impor seus temas, Lula correrá sérios riscos de perder a eleição, avalia reservadamente um experiente marqueteiro.