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ANÁLISE

Na reta final, Judiciário vê perigo real e imediato de violência e confusão

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR
Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR

Colunista do UOL

26/09/2022 12h00

Esta é parte da versão online da newsletter UOL nas Eleições 2022 enviada hoje (26). Na newsletter completa, Alberto Bombig traz mais detalhes sobre a disputa pelos governo de São Paulo, sobre o papel de Geraldo Alckmin na campanha de Lula e sobre as peças publicitárias de Jair Bolsonaro. Quer receber a newsletter completa, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Cadastre-se aqui.

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O Brasil entra na semana decisiva do primeiro turno da eleição presidencial mergulhado em sentimentos dissemelhantes: esperança e apreensão, medo e euforia. No campo contrário a Jair Bolsonaro (PL), majoritário hoje na sociedade, segundo as pesquisas, a sensação cada vez mais é de que a disputa se resolverá no próximo domingo, dia 2, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O otimismo crescente, no entanto, enseja um temor: como Bolsonaro e seus apoiadores reagirão à eventual derrota? Em uma campanha marcada pelo deserto de ideias e de propostas, essa, talvez, seja a grande novidade desta eleição, a desconfiança de que o país poderá viver sob alguma turbulência conforme o atual presidente assiste suas chances de vitória minguarem dia após dia, pesquisa após pesquisa.

A tensão está nas ruas, nas famílias, no mundo político e no Judiciário. O presidente de um dos TREs (Tribunal Regional Eleitoral) disse, reservadamente, que todos os envolvidos no esquema de votação do próximo domingo estão apreensivos quanto à possibilidade de haver algum tipo de confusão que coloque em risco a integridade física de mesários e de eleitores.

Para alimentar sua narrativa de que as urnas não são confiáveis e de que a eleição pode ser fraudada, o campo bolsonarista não hesitará em tensionar o ambiente nos locais de votação, avalia o magistrado. Portanto, todo cuidado será pouco daqui até domingo.

Há também grande desconfiança quanto ao comportamento das PMs nesse processo. Ministros e ex-ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que os governadores terão papel fundamental em garantir que as corporações mantenham a ordem e a segurança nas eleições, ainda que grande parte do contingente policial nutra grande simpatia por Bolsonaro.

Basta uma pesquisa acurada nas redes sociais para encontrar vários relatos de apoiadores do presidente dizendo estarem dispostos a ir para as ruas contestar o resultado, caso ele seja desfavorável a Jair Bolsonaro. Sem falar dos muitos episódios de violência política registrados em todo o país nos últimos meses. Ou seja, o perigo é real e imediato, na expressão de um ministro do Supremo.

O único capaz de desarmar essa bomba-relógio, avaliam políticos e juristas, chama-se Jair Bolsonaro. Somente o presidente poderia, em uma inflexão histórica, propor o desarmamento dos espíritos e o respeito total ao resultado das urnas, sem subterfúgios ou mensagens cifradas em discursos dúbios.

No entanto, o que se observa é justamente o contrário: Bolsonaro e seus filhos radicalizam os ataques contra os adversários, investem na divisão do país e promovem atentados contra a democracia e a liberdade de expressão, como a tentativa, na reta final da campanha, de impor censura às reportagens do UOL sobre os imóveis da família do presidente.

Por tudo isso, é pouco provável que esta semana decisiva marque algum tipo de mudança no desenrolar da campanha. Com o presidente cada vez mais acuado e isolado politicamente, as previsões são de uma radicalização crescente mirando o pós-eleição: demonstrar ao país que, se mexerem com ele ou com seus filhos, seus apoiadores irão reagir com violência.

Frente ampla

Do lado de Lula, a novidade ficou por conta da composição de uma espécie de frente ampla que, se ainda não arrebatou todos os segmentos da política e da sociedade, serviu para tirar o PT da posição em que o partido se encontrava após o mensalão e a operação Lava Jato, escorado nos movimentos sociais, nas agremiações de esquerda e afastado da classe média dos grandes centros urbanos.

Como mostra o Agregador de Pesquisas do UOL, Lula tem chances de vencer no primeiro turno, algo que nem o próprio Lula conseguiu em 2006 contra Geraldo Alckmin, então no PSDB, e hoje seu vice e fiel companheiro. É nesse ponto que setores da campanha lulista já demonstram certa euforia.

Se liquidar a eleição no primeiro turno, Lula tomará posse para um terceiro mandato que todos preveem muito difícil, dada a atual conjuntura, mas será inegável seu grande capital popular e político para reconstruir o país, recuperar a imagem do Brasil no exterior e reestabelecer marcos civilizatórios implodidos pelo bolsonarismo. É nesse ponto que mora a esperança.

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