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ANÁLISE

Debate será fundamental para candidatos assumirem compromissos com o futuro

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Nelson Almeida e Evaristo Sá/AFP
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Imagem: Nelson Almeida e Evaristo Sá/AFP

Colunista do UOL

10/10/2022 12h00

Esta é parte da versão online da newsletter UOL nas Eleições 2022 enviada hoje (10). Na newsletter completa, Alberto Bombig diz o que esperar do debate desta segunda-feira entre Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) e fala sobre o papel de Geraldo Alckmin em um futuro governo Lula. Quer receber a newsletter completa, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Cadastre-se aqui.

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O segundo turno da eleição presidencial criou no Brasil uma espécie de "bipartidarismo branco" e está obrigando a classe política nacional, principalmente os líderes e demais personagens forjados na redemocratização (1985), a fazer escolhas e a assumir compromissos que serão cobrados pela história, pelas futuras gerações.

Esse movimento também ocorre na sociedade civil: entidades de classe e personalidades de diferentes áreas se posicionam abertamente e justificam suas escolhas. O país, de um modo geral, está complemente mobilizado naquela que é apontada como uma eleição crucial para o nosso futuro.

Dessa forma, é de extrema importância o primeiro debate entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no próximo domingo (16), às 20h, promovido por UOL, Folha, TV Bandeirantes e TV Cultura.

Estarão frente a frente não apenas os dois candidatos a presidente, mas os representantes das duas únicas correntes políticas com reais expectativas de poder nos próximos anos no Brasil. Ou seja, saber o que cada um pensa, sem rodeios nem linhas-auxiliares, sobre democracia, economia, educação, saúde e desenvolvimento será fundamental não apenas para os próximos quatro anos.

Apesar da enorme profusão de siglas e de legendas, o espectro político-ideológico foi dividido e está abrigado sob duas forças antagônicas e determinantes na polarização, o petismo e o bolsonarismo. Para além das estratégias eleitorais, no cerne dessa divisão, também estão visões e compreensões diferentes do estado democrático de direito e, consequentemente, do papel das instituições.

Não existe outro caminho a não ser cobrar compromissos dos candidatos. Ao menos por ora, é possível afirmar que o fracasso das candidaturas que se apresentaram como "terceira via" não foi apenas a derrota de um projeto eleitoral, mas a sinalização cristalina de que, no médio prazo, será muito difícil a construção de qualquer projeto que seja uma alternativa de poder à polarização hoje estabelecida.

Embaixo de Lula, estão abrigadas as esquerdas, a centro-esquerda e parte da centro-direita democrática. Na órbita de Jair Bolsonaro, a extrema direita, a direita e os líderes do centrão provaram que a onda conservadora iniciada em 2014 ainda tem muita força entre os brasileiros.

Foram essas as forças que puxaram o governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP) para o polo bolsonarista e atraíram Simone Tebet (MDB) para Lula, que promoveram mais uma foto histórica do candidato petista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e levaram o governador Romeu Zema (Novo) a assumir o apoio a Bolsonaro.

Mesmo Ciro Gomes, que, uma vez derrotado em 2018, declarou "apoio crítico" a Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro no segundo turno, desta vez, teve de acompanhar seu PDT e declarar a predileção por Lula.

A opção pelo muro da isenção praticamente foi extinta. Portanto, também precisa deixar de existir a retórica eleitoral que os candidatos usam para escapar de temas espinhosos para suas campanhas. Como apontou a Folha de S. Paulo em editorial, Lula precisa ser mais claro sobre seus planos para a economia, para o equilíbrio fiscal e a retomada do crescimento. Na seara política, o petista, se eleito, formará um ministério com quadros de fora do PT e mais técnicos?

Lula deixou escapar grande chance de liquidar a eleição no primeiro turno. Como mostra o Agregador de Pesquisas do UOL, ele ainda é favorito. Porém, a dinâmica da campanha em sua fase decisiva é outra. As cobranças são maiores e costuma não adiantar muito questionar se elas são ou não legítimas.

Bolsonaro, de seu lado, tem o dever de explicitar qual o seu real compromisso com a democracia, com o meio ambiente e com o respeito às instituições. São preocupantes os sinais emitidos por aliados do presidente, como o senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) de interferir no STF (Supremo Tribunal Federal). O atual presidente está de acordo com essa proposta? As dúvidas levantadas sobre as urnas ficaram para trás? Os militares terão espaço ampliado em eventual segundo mandato de Bolsonaro? O orçamento secreto será mantido?

A campanha não pode continuar pautada apenas pela guerra de rejeições, pela agenda religiosa e de costumes. O Brasil precisa saber o que o aguarda no futuro.

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