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ANÁLISE

Lula se reconcilia com Marina Silva e deixa passado para trás por 2º turno

Colunista do UOL

12/09/2022 12h00Atualizada em 12/09/2022 12h16

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Mesmo com Lula ainda mantendo chances estatísticas de vencer a eleição no primeiro turno, o PT já começa a montar sua estratégia em busca de apoios para enfrentar uma eventual segunda e decisiva fase da eleição, que muitos preveem sangrenta.

A meta é ampliar o conceito de frente ampla pela democracia, isolar ainda mais Jair Bolsonaro (PL) e sinalizar ao eleitor de centro que Lula quer unir os brasileiros. Foi exatamente para reforçar essa ideia que o ex-presidente se reuniu com Marina Silva (Rede) no domingo (11), em São Paulo, e divulgou o encontro em suas redes sociais.

O diálogo iniciado com Marina Silva, candidata a deputada federal, encerra mais de uma década de divergências políticas e programáticas entre a ex-ministra do Meio Ambiente de gestões petistas na Presidência e o candidato. Também representa um duro golpe para Ciro Gomes (PDT), que sonhava em ter o apoio dela. Traz ainda para dentro da campanha mais uma presença feminina e evangélica. Lula fez questão de ressaltar nas sociais redes que o encontro ocorreu a convite dele, gesto considerado fundamental por quem acompanhou de perto o processo de reaproximação.

Do ponto de vista político, Marina sempre rechaçou a ideia de que o PT possuiu uma espécie de monopólio de defesa do campo democrático nesta eleição. Na visão dela, o discurso de setores do partido na linha do "é Lula ou Bolsonaro, não há escapatória" empobrece o debate e não engaja segmentos importantes da sociedade, refratários ao ex-presidente, na construção de uma nova agenda para o país, incluindo a do desenvolvimento sustentável. Esse recado foi dado a Lula na conversa de domingo.

Em linhas gerais, assim como fez com Geraldo Alckmin (PSB), Lula agora busca mostrar que todas as desavenças pessoais do passado não fazem mais sentido diante da necessidade de derrotar o presidente Bolsonaro e de olhar para a frente na reconciliação do país, conforme a explicação de um de seus auxiliares direitos.

A avaliação corrente no partido de Lula é de que o MDB, de Simone Tebet, e o PDT, de Ciro Gomes, estarão com o petista quase por inércia, ainda que os dois candidatos hoje relutem, por razões óbvias, a declarar apoio no segundo turno, afinal, ainda estão na luta para crescer nas pesquisas. A orientação pessoal do ex-presidente é para a campanha evitar confrontos diretos com ambos.

Porém, apesar dos esforços de Lula, ainda existem alas no PT que não conseguem passar a borracha no passado. Recentemente, dois episódios levaram preocupação à campanha: Ciro aumentou o tom nos ataques ao ex-presidente e disse que não o apoiará no segundo turno, e o MDB respondeu duramente ao PT nas redes sociais, após uma barbeiragem petista de igualar os governos de Michel Temer e Bolsonaro.

No caso do estresse com o MDB, reservadamente, a avaliação é no sentido de que o grupo do PT ligado à Dilma Rousseff e ao ex-ministro Aloizio Mercadante ainda não conseguiu desarmar o espírito em relação à participação de Temer e do MDB no impeachment da ex-presidente.

Por isso, a campanha de Lula observa com atenção a movimentação de Simone Tebet e o desempenho dela nas pesquisas. Conforme o Agregador de Pesquisas do UOL, a candidata começa a se aproximar de Ciro e pode até ultrapassá-lo. Se isso acontecer, ela automaticamente passará a ser a principal interlocutora do MDB nas negociações de segundo turno.

Ou seja, não adianta contar apenas com o apoio quase natural dos caciques do MDB do Nordeste, também será preciso manter uma boa relação com a candidata e com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), que busca reposicionar a imagem do partido nestas eleições e tem o sido grande fiador de Simone Tebet.

Outro partido que também deve apoiar Lula é o PSD, mas, nesse caso, ainda é preciso observar como se desenrola o cenário eleitoral em São Paulo, onde a sigla de Gilberto Kassab está com Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) e, segundo as mais recentes pesquisas, há chances de um segundo turno no estado entre o candidato de Bolsonaro e Fernando Haddad (PT). Ou seja, se isso ocorrer, as negociações podem se complicar no maior colégio eleitoral do país.

Por outro lado, se houver segundo turno em São Paulo e a disputa ficar entre Haddad e Rodrigo Garcia (PSDB), a leitura no PT é de que o PSD entrará de cabeça na campanha petista para derrotar o tucano.

A grande interrogação neste momento no PT diz respeito ao União Brasil, de Soraya Thronicke. Na largada da campanha, ela era vista como uma aliada em potencial de Bolsonaro, mas os recentes ataques do presidente a ela dão esperanças ao PT de obter um eventual apoio da candidata no segundo turno.

Na pior hipótese, os petistas esperam que o União Brasil declare "neutralidade" no segundo turno, o que, na prática, significa liberar seus filiados nos estados.

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