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Lula cita queda da qualidade de vida na busca por indecisos e classe média

O ex-presidente Lula (PT) em encontro de campanha, em São Paulo - Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula (PT) em encontro de campanha, em São Paulo Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em São Paulo

10/10/2022 17h46Atualizada em 11/10/2022 05h32

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer focar o discurso na queda da qualidade de vida nos últimos anos para atrair indecisos e tentar diminuir a abstenção no segundo turno das eleições. Na avaliação petista, essa é a faixa social em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem mais força.

A estratégia foi colocada em prática nesta segunda-feira (10), em São Paulo. O petista se encontrou com membros da sociedade civil, incluindo intelectuais, empresários e políticos, e tratou de problemas que envolvem diminuição do poder de compra e quebra do patamar do estilo de vida. Também recebeu uma carta de apoio com propostas para o plano de governo.

De olho na classe média. As principais propostas discutidas pela equipe de campanha estão nas áreas tributária, financeira, da saúde e da educação.

O foco é formatar sugestões para as classes B e C, em especial àquelas pessoas que perderam a qualidade de vida nos últimos anos e foram afetadas pelos revezes econômicos —por exemplo, pais que tiraram os filhos da escola particular e colocaram no ensino público ou pessoas que cancelaram o plano de saúde e passaram a depender do SUS (Sistema Único de Saúde).

Algumas das ideias discutidas pela equipe petista são:

  • Isenção do imposto de renda para os assalariados que ganham até R$ 5 mil e redução na alíquota para quem ganha até R$ 5.700;
  • Ampliação da rede de escolas públicas em tempo integral;
  • Criação de uma poupança para estudantes, prevista no plano de governo de Simone Tebet (MDB) e integrada ao plano de Lula;
  • Aumento do investimento no SUS;
  • Debate sobre maior regulação sobre o reajuste dos planos via ANS (Agência Nacional de Saúde).

São três palavras, estabilidade, credibilidade e previsibilidade. Se um presidente não tiver essas três palavras como pilar do seu comportamento, ele não consegue nem montar governo nem restabelecer a credibilidade que perdemos no exterior."
Lula (PT), em discurso nesta segunda

Possível eleitor. Na avaliação da campanha, com base em pesquisas qualitativas internas e externas, o nome de Bolsonaro está mais forte entre as classes B e C —é o trabalhador médio, que, por diferentes motivos, criou resistência política à esquerda.

Este grupo também é visto, paradoxalmente, como a faixa em que Lula tem grandes chances de crescimento. São pessoas que, embora não cheguem a passar fome ou ficarem sem ter onde morar, tiveram a vida financeira cerceada, abdicando de pequenos luxos, como viagens, ou passando por situações mais críticas como problemas para pagar o aluguel.

"Quando eu era presidente, [era grande] a quantidade de gente que voltava do exterior porque estava tendo chances no Brasil...[era grande] a quantidade de jovens que voltavam do Japão para trabalhar no Brasil porque o país estava oferecendo oportunidades...Agora a gente percebe que a molecada está indo embora outra vez por falta de oportunidades", afirmou Lula ao público, hoje, apontando para as classes que ascenderam durante seu governo (2003-2010).

Além disso, também é um grupo que, dizem os petistas, tem grande participação entre as abstenções —principal oponente do PT no primeiro turno depois de Bolsonaro. Na avaliação da campanha, são pessoas que assumiram o discurso antipolítica e, mesmo com dificuldades, rejeitam se engajar em uma eleição. Lula pretende atrair este eleitorado.

Quando a gente está governando, a gente pode errar em qualquer coisa que tem conserto. Mas se você errar o time da política você não conserta. Neste tempo em que o negacionismo nega política, quando a gente tem o Bolsonaro pela negação da política no país, eu valorizo muito a política."
Lula (PT), em discurso nesta segunda

Vice fala da campanha. Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente na chapa do petista, declarou no evento do grupo "Derrubando Muros" que a campanha está "indo bem", mas precisa acelerar nesses últimos 20 dias de disputa antes do segundo turno contra Bolsonaro. Na semana passada, a campanha lulista passou três dias em reuniões fechadas —enquanto Bolsonaro viajou e posou para fotos e vídeos com novos apoiadores.

O [ex-governador André Franco] Montoro dizia: essa é a lógica do segundo turno, você ampliar, receber propostas, aprimorar os programas, poder avançar ainda mais. [...] É o nosso dever nos unir, lutar e vencer."
Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapa de Lula

Abrangência sem consenso. Como fez no primeiro turno, Lula tem tentado equilibrar eventos populares, como as caminhadas dos últimos quatro dias, com eventos menores e setoriais para debater propostas. Na primeira etapa, se reuniu com diferentes grupos profissionais e sociais em quase todas as cidades que visitou.

A insistência nessa estratégia, no entanto, não é consenso no PT. Parte da campanha avalia que o timing para reuniões menores já passou, a menos que elas causem grande repercussão na imprensa e nas mídias —tal qual o apoio de Simone Tebet (MDB) ou encontros com governadores.

Este grupo avalia que Lula deve focar mais em questões comunicacionais, ou seja, ações feitas para viralizar nas redes e repercutir positivamente.

Agenda corrida. O ex-presidente voltou ontem (9) à noite para São Paulo, depois de uma caminhada em Belo Horizonte pela manhã. Amanhã (11) à tarde já vai ao Rio de Janeiro, onde tem um comício na Baixada Fluminense e outra caminhada no Complexo do Alemão, na quarta-feira (12).

Na mesma tarde —no feriado nacional—, vai a Salvador para mais um cortejo. Em seguida voa para Aracaju, Maceió e Recife, para mais três grandes caminhadas entre quinta (13) e sexta (14).