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Projeto social atendia venezuelanas quando Bolsonaro chegou; veja imagens

Do UOL, em São Paulo

16/10/2022 15h09

Quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou de moto a uma casa de venezuelanas em São Sebastião, proximidade de Brasília, a garagem estava transformada em um salão de beleza. Uma cabeleireira e oito pessoas de sua equipe cortavam cabelo, faziam escova, prancha e babyliss em um grupo de mulheres venezuelanas.

Era sábado de sol de 10 abril de 2021. "Foi um dia maravilhoso", lembra a cabeleireira Lu Silva, do Centro Técnico de Treinamento Underground da Beleza, de Paranoá, também na região administrativa do Distrito Federal, que atendeu as venezuelanas como parte de uma ação social.

Em um podcast na sexta (14), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se referiu ao encontro com as venezuelanas dizendo que havia adolescentes "arrumadas para ganhar a vida", insinuando prostituição infantil. Também disse que "pintou um clima" e decidiu parar no local. Em outro momento, Bolsonaro disse que as jovens venezuelanas estavam ali "pra fazer programa".

A cabeleireira desmente. "Eu acho isso um absurdo. Não tem nada disso [prostituição]. A gente foi com esse objetivo, para treinamento e deixar elas mais bonitas", diz Lu Silva.

"Nós falamos para ele: olha Bolsonaro, aqui é um evento, eu trouxe as minhas alunas para um treinamento aqui e as meninas estão ficando bonitas", conta.

Em live realizada na madrugada de domingo a respeito do caso, Bolsonaro disse que o encontro com as venezuelanas foi gravado e exibido na CNN. Esse vídeo mostra a visita à casa onde ocorria a ação social. Pouco antes, seu filho Flávio, senador, publicou trecho de vídeo feito no mesmo dia no Twitter.

No Instagram, um projeto social postou um vídeo do dia de beleza. "Hoje queremos agradecer a Lu Silva e toda sua equipe pela atividade em 10/04/2021, cortando cabelo, secando e fazendo prancha em nossas irmãs venezuelanas". Em respeito às venezuelanas, que temem retaliação, o UOL optou por não divulgar o nome do perfil ou o nome das envolvidas.

Cabelereira Lu Silva (de máscara vermelha) com sua equipe e mulheres venezuelanas - Reprodução - Reprodução
Cabelereira Lu Silva (de máscara vermelha) com sua equipe e mulheres venezuelanas
Imagem: Reprodução

Cabeleireira desmente Bolsonaro

"Elas [venezuelanas] me convidaram para ir lá. Eu fui com minhas alunas, que estavam em treinamento. Quando nós estávamos lá trabalhando, ele [Bolsonaro] chegou, foi de repente. Eu falei: 'o quê Bolsonaro está fazendo aqui?'", diz a cabeleireira Lu Silva.

"O dia que a gente foi lá, foi só para arrumar as meninas [venezuelanas] e fazer o treinamento. Não tinha nada disso não [prostituição]. Achei elas muito responsáveis", continua Lu Silva.

"Ele [Bolsonaro] só entrou, saiu, fez um debatezinho, falou mal da Venezuela, dizendo que as meninas estavam aqui, sendo bem acolhidas, só isso".

"Ele foi lá dentro, na cozinha das meninas. Mexeu na geladeira, depois voltou e falou: 'ovo tem, mas outra coisa não'. Eu falei assim: 'por que o senhor não trouxe o churrasco?' Ele ficou todo sem jeito".

Post em perfil de projeto social venezuelano mostra visita de Jair Bolsonaro em 10 de abril de 2021 - Reprodução - Reprodução
Post em perfil de projeto social venezuelano mostra visita de Jair Bolsonaro em 10 de abril de 2021
Imagem: Reprodução

Venezuelana refutou fala de Bolsonaro

Uma das mulheres venezuelanas presente no dia disse ao UOL que a falta do presidente "não tem nada a ver" com o que realmente ocorreu naquele dia.

Esse dia foi uma ação que acontecia na casa. Uma brasileira que fazia curso de estética vinha até aqui para fazer a prática do que estava aprendendo, de corte de cabelo, design de sobrancelha. Então, nós reuníamos um grupo de mulheres e era isso o que acontecia naquele dia
Mulher venezuelana que estava na casa no momento da visita de Bolsonaro

A mulher pediu para ter seu nome preservado, pois teme retaliação.

Além do vídeo do dia de beleza, a página do projeto social que agradeceu a cabeleireira também postou uma foto do encontro com Jair Bolsonaro naquele mesmo dia.

"Em apoio aos nossos irmãos venezuelanos em São Sebastião, município que abriga mais de 1.000 venezuelanos, conseguimos nos encontrar com o Presidente do Brasil Jair Bolsonaro para expor algumas de nossas necessidades mais importantes, como abertura da fronteira, a documentação dos venezuelanos que se encontram em território nacional e as ações para os empresários", diz a mensagem.

"Entre outras coisas, o grupo de venezuelanos organizados agradece o apoio de todo o Brasil aos nossos irmãos".

Na postagem, o grupo marcou o presidente Bolsonaro e Nikolas Ferreira (PL), então vereador, eleito o deputado federal mais votado do Brasil em 2022.