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TSE julga se Lula pode ligar Bolsonaro à pedofilia no caso das venezuelanas

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), adversários no segundo turno das eleições - Ricardo Stuckert e Clauber Cleber Caetano/PR
Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), adversários no segundo turno das eleições Imagem: Ricardo Stuckert e Clauber Cleber Caetano/PR

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

16/10/2022 14h20

O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu hoje à ministra Cármen Lúcia, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que proíba o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de explorar durante a propaganda eleitoral gratuita e em suas redes sociais vídeos que associem o candidato à reeleição ao crime de pedofilia.

A medida ocorre depois de, em entrevista ao canal Paparazzo Rubro-Negro, no YouTube, o mandatário ter usado a expressão "pintou um clima" ao se referir a adolescentes venezuelanas, com quem ele teve contato numa região administrativa do Distrito Federal durante a pandemia de covid-19.

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, num sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: Meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas", disse o presidente na entrevista.

Ao UOL, uma das venezuelanas que mora na casa visitada por Bolsonaro afirmou que, naquele dia, o local servia de espaço para uma ação social de corte de cabelo e design de sobrancelhas. De acordo com ela, duas das adolescentes presentes eram sua filha e sua sobrinha.

Desde a tarde de ontem, a declaração de Bolsonaro sobre as jovens repercute nas redes sociais. O assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter, com os termos "Bolsonaro pedófilo" e "Bolsonaro pervertido" ultrapassando a marca de 100 mil citações.

"Com foco em público com baixa escolaridade (que teria natural dificuldade de checagem do contexto real dos fatos) e na criação de engajamento nas redes sociais (através de reprovação moral do Representante) busca-se, repita-se, transmitir a falsa e absurda ideia de que o candidato seria um PEDÓFILO, tal como indica a postagem formulada pela esposa de Lula", diz o advogado Tarcísio Vieira, que representa Bolsonaro no TSE.

A ação faz parte de ofensiva orquestrada contra adversários do mandatário, que têm usado o caso como arma eleitoral em favor do petista. Em outra frente, congressistas apoiadores do mandatário deverão reforçar a estratégia de resgatar frases controversas do petista sobre aborto e outros temas da chamada pauta de costumes, cara ao eleitorado de Bolsonaro.

No mesmo sentido, a equipe do presidente tem feito anúncios pagos com a frase "Bolsonaro NÃO é pedófilo" nas redes sociais. "Ainda é cedo para calcular os danos que essa distorção covarde da fala do presidente pode provocar. Estamos focados em nivelar o jogo", disse um membro da campanha bolsonarista ao UOL, que afirmou que a expectativa é o que tema seja abordado por Lula no debate, realizado hoje, às 20h, em parceria com Folha de S.Paulo, TV Bandeirantes e TV Cultura.

Bolsonaro se defende de críticas

Na madrugada deste domingo (16), o presidente usou suas redes sociais para se defender das críticas de que tem sido alvo por causa das declarações sobre meninas venezuelanas.

"Fiz uma live de dentro de uma casa de umas meninas venezuelanas. Devia ter umas 12, 13, 14 meninas. Eu mostrei a minha indignação, estava na região periférica de Brasília, quando eu parei e vi umas meninas de 14, 15 anos, arrumadas, meninas humildes, e eu pedi para entrar na casa delas", disse.

Sem explicar o que quis dizer com a expressão "pintou um clima" nem se informou a alguma autoridade sobre a suposta situação de exploração sexual, ele afirma que o PT tenta explorar as falas sobre o encontro de maneira deturpada.

"O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. O PT pega pedaço e fala 'pintou um clima'? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia. Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo."

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também usou seus perfis nas redes sociais para defender o pai.

"É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia", afirmou o congressista.