Plano de Nunes aposta em programas já existentes e soluções tecnológicas
Ricardo Nunes (MDB) aposta em novas obras, ampliação de programas já existentes e soluções baseadas em tecnologia no programa de governo de sua candidatura à reeleição como prefeito de São Paulo. Especialistas apontam tom genérico em tópicos relevantes.
Veja as principais propostas e o que dizem os especialista sobre elas:
Segurança
Nunes quer expandir programa de videomonitoramento. Batizada de Smart Sampa, a iniciativa lançada em agosto de 2023 tem instaladas hoje 15 mil das 20 mil previstas até dezembro pela prefeitura. O sistema ajudou a prender 160 pessoas e localizar 12 desaparecidos desde fevereiro.
Outra proposta é o aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana. Hoje, o órgão tem 7.000 funcionários. A modernização dos equipamentos e a adoção de treinamento contínuo são outras promessas — assim como a reorganização da estrutura no Centro e a ampliação da presença na periferia.
Saúde
Nunes diz que quer apoiar "estudos e pesquisas de vacinas contra vícios em drogas". A proposta foi alvo de críticas por parte de uma especialista procurada pelo UOL. Na opinião de Lígia Bahia, a dependência química é um problema social, que não tem como ser tratado por soluções como vacinas.
Plano prevê aumentar o número de unidades básicas de saúde. Outras promessas são investir "em equipamentos de ponta e inteligência artificial para agilizar diagnósticos e tratamentos" e ampliar "serviços de prevenção, tratamento e planejamento familiar" para mulheres. O programa não detalha como as propostas seriam implementadas.
Habitação
Uma das metas é a construção de 853 unidades habitacionais na Vila Leopoldina. Objeto de mudança de regras aprovada pelos vereadores em 2023, o bairro tem três favelas e teve facilitada a criação de habitações populares. Nunes também quer reformar os conjuntos habitacionais com mais de 10 anos.
Programa para "impulsionar o setor imobiliário" também é promessa. Batizada de "Pode Regularizar", a iniciativa visaria "ampliar o alcance da regularização fundiária" na cidade. No ano passado, a revisão do Plano Diretor colocou em debate os estímulos concedidos por São Paulo ao setor imobiliário.
Zeladoria
Nunes planeja "caminhos verdes de arborização intensa" na cidade. Outra meta prevista no programa de governo do candidato é a criação de estufas, hortas urbanas e viveiros de plantas por meio da expansão do programa Sampa+Rural, voltado para a área de agricultura urbana.
Plano municipal para cidade inteligente é outro objetivo previsto no documento. A ideia é que ele tenha foco na periferia e se valha de imagens feitas por satélite, sobrevoo de drones e outros recursos tecnológicos para coleta de informações, fiscalização e proteção ambiental.
Educação
Nunes promete escolas em tempo integral desde a educação infantil. De acordo com o plano, a implementação da medida deve priorizar "os distritos mais vulneráveis, com vistas à redução das desigualdades".
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberImplementar ensino de empreendedorismo e trabalho. A ideia é que polos voltados para essas áreas sejam abertos em 58 CEUs (Centros Educacionais Unificados) e que as aulas sejam oferecidas pela prefeitura, em parceria com o governo estadual e outros órgãos.
Transportes
Programa traz metas para tornar sistema de transportes mais sustentável. Algumas delas são a criação de incentivos para descarbonização da frota de táxis e transporte escolar e outras políticas para reduzir as emissões de carbono— assim como a expansão do modal aquático para as represas Billings e Guarapiranga.
Sete novos corredores de ônibus. Além da criação de um sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o documento diz que Nunes pretende concluir o BRT Radial Leste e outros sete novos corredores de ônibus.
O que dizem os especialistas
Um programa de governo tem que ser bem sucinto mesmo. Mas, de fato, esse traz uma linha estratégica genérica, sem dizer o que pretende efetivamente realizar nos próximos anos. Não há nenhuma meta ou objetivo específico, de modo que nada poderia ser cobrado no futuro
Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e um dos coordenadores do Atlas da Violência 2024
Para a campanha de Nunes, o plano de governo "apresenta diretrizes, dentro dos limites estritos da legislação". Na nota enviada ao UOL, a equipe do candidato afirmou que o documento não difere daqueles feitos pela "maioria das candidaturas".
As propostas de cada candidato vão sendo discutidas, apresentadas e detalhadas no decorrer da campanha
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, em nota
Porta-voz do Greenpeace afirma que programa "peca por não apresentar as perspectivas futuras". Segundo Gabriela Nepomuceno, o documento é vago em relação à definição das metas ambientais a serem alcançadas.
Não basta criar parques, plantar árvores e criar áreas de proteção ou áreas verdes. Quando falamos em políticas de promoção da sustentabilidade ambiental, estamos falando de políticas que envolvam setores diferentes. São políticas de infraestrutura, saneamento básico, mobilidade urbana, atendimento à saúde e, principalmente, atendimento às vítimas das tragédias climáticas que são potencializadas pela ação humana
Gabriela Nepomuceno, porta-voz do Greenpeace Brasil
Dependência química é "problema social" e não deve ser objeto de vacina, afirma médica. De acordo com Lígia Bahia, doutora em saúde pública pela Fiocruz, a proposta do prefeito de apoiar estudos de vacinas contra vícios às drogas não faz sentido.
Desenvolver vacina para algumas doenças transmissíveis já é um feito enorme da humanidade. Adições a álcool e drogas são problemas sociais que requerem respostas que alterem o acesso e o consumo, como controle da entrada de drogas no país ou proibição da propaganda de cervejas e de vinhos. Não existirá vacina que dê jeito em mercados tão bem estruturados -- seja na vertente narcotráfico, seja nos grupos econômicos fabricantes de bebidas
Lígia Bahia, doutora em saúde pública pela Fiocruz e professora da UFRJ
Apesar da crítica da especialista, o candidato repete defesa de estudos para vacinas contra drogas. "É uma das nossas diretrizes apoiar estudos e pesquisas científicas e médicas, sejam vacinas ou quaisquer medicamentos, que enfrentem esse grave problema de saúde pública, que é a drogadição", afirmou Nunes em nota.
A entrada de pontos tecnológicos tem um lado político, que é passar uma mensagem de que é um plano de governo antenado com as novas condições. Agora, há desafios, sobretudo na gestão de dados. (...) Tudo isso pode contribuir significativamente para o aprimoramento da cidade, mas tem que ficar atento para que não haja um desequilíbrio de tal forma que os fornecedores de tecnologia levem vantagem em relação ao Poder Público ou que tenham acesso a dados que possam vir a ferir a LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados] e as garantias de proteção às quais os cidadãos têm direito
Fábio Andrade, cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM
Nunes afirma que "gestão estabeleceu protocolos rígidos de proteção de informações". Em nota, o candidato disse que as políticas implantadas até o momento respeitaram a LGPD e foram feitas para "garantir à sociedade que o uso dessa estrutura de inteligência visa proteger o cidadão".
Deixe seu comentário