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Eleições 2020: Como votar em segurança em meio à pandemia de covid-19

Os eleitores deverão higienizar as mãos com álcool gel antes e depois de digitar o voto na urna - Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom
Os eleitores deverão higienizar as mãos com álcool gel antes e depois de digitar o voto na urna Imagem: Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

29/09/2020 04h00

A realização das eleições municipais em meio à pandemia do novo coronavírus levou a questionamentos sobre a segurança para os eleitores.

Qual o risco de teclar na urna eletrônica? Como manter distanciamento na hora do voto? O que devem fazer os idosos, considerados grupo de risco?

As eleições para prefeito e vereador serão realizadas em 5.569 municípios nos dias 15 (primeiro turno) e 29 (segundo turno) de novembro.

Especialistas das instituições que deram consultoria à Justiça Eleitoral na elaboração do plano sanitário para as eleições afirmam que é seguro ir às urnas, desde que os procedimentos de prevenção sejam rigorosamente obedecidos.

"Estamos convencidos de que é possível, claro, com a colaboração de todos, ter uma eleição segura que vai ser bem importante para o país", afirma a médica e pesquisadora da Fiocruz Marilia Santini.

A pesquisadora participou da consultoria que auxiliou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a definir as regras de segurança para as eleições.

Além de Santini, da Fiocruz, também participaram David Uip, professor de medicina e médico infectologista do Hospital Sírio-Libanês, e Luis Fernando Aranha Camargo, pesquisador e médico infectologista do Hospital Albert Einstein.

Os três médicos participaram ontem de um debate promovido pelo TSE para tirar dúvidas sobre as regras de prevenção e a estrutura preparada para as eleições.

Veja abaixo como as principais medidas adotadas pela Justiça Eleitoral podem minimizar os riscos na hora de votar.

É obrigatório o uso de máscara?

Sim. Sem máscara não será permitido o acesso aos locais de votação e os eleitores que não estiverem usando a máscara serão impedidos de entrar, segundo afirmou o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

A urna eletrônica vai ser limpa com álcool?

Não. Higienizar a urna com álcool poderia danificar o equipamento. Por isso, o eleitor deve higienizar as mãos com álcool antes de votar e logo após deixar a cabine de votação. As seções eleitorais terão à disposição álcool gel e álcool líquido em recipiente borrifador.

O que mudou na hora de identificar o eleitor?

Na hora da votação, vai funcionar assim: o eleitor apresenta seu documento ao mesário (que não vai manusear a documentação) e assina a lista de votação, preferencialmente com uma caneta própria que ele trouxe de casa. Em seguida, higieniza as mãos com álcool e se dirige à urna para depositar o voto. Após votar, higieniza novamente as mãos com álcool.

Antes, nas últimas eleições, o eleitor entregava o documento ao mesário, assinava a lista, ia até a urna e somente após votar resgatava seu documento.

Para reduzir as filas, nessas eleições não será feito a identificação do eleitor por meio da biometria, método que torna o tempo de votação 70% maior, segundo o TSE.

Devo levar minha própria caneta?

Se possível, sim. Se não for possível, haverá canetas a disposição, que serão higienizadas com álcool, para que os eleitores possam assinar a lista de votação.

"Apesar de a gente saber hoje que a transmissão por toque em superfície objeto contaminado é menos importante que a transmissão quando se respira perto de alguém contaminado, ela não é zero", afirma Santini, da Fiocruz.

"Então por isso nós recomendamos que se possível cada um leve sua caneta e não toque em um objeto que outro eleitor tocou. Se isso não for possível, se não tiver caneta ou a que levou não funcionou, haverá várias outras canetas e além disso o mesário vai receber treinamento para higienizar a caneta com álcool spray após cada uso", afirma Santini.

Como os mesários vão estar protegidos?

Além do uso de máscara e constante higienização das mãos com álcool, os mesários vão utilizar um protetor facial de plástico, um tipo de viseira que costuma ser chamado de face shield.

"Decidimos ser bastante rigorosos, porque o mesário é aquela pessoa que vai ficar o dia todo, então como ele vai ter a possibilidade de ter muita interação com o público, resolvemos adotar uma postura de máxima proteção", afirma o infectologista Luis Fernando Aranha Camargo.

"A utilização de máscara e protetor facial e a assepsia frequente das mãos é o que a gente tem de melhor e mais completo na prevenção", diz o médico do Hospital Albert Einstein.

Quem é idoso pode ir votar?

Sim. O TSE recomenda que os eleitores com 60 anos ou mais, considerados grupo de risco para a covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, votem entre as 7h e as 10h.

Esse intervalo, porém, não será obrigatório e pessoas de outras idades não serão barradas nesse horário mas deverão aguardar ao final da fila ou em fila separada, respeitando a preferência dos maiores de 60 anos.

"A gente pensou nesse horário onde as pessoas com maior risco vão ter atendimento preferencial na hora de se dirigir à urna para que fiquem menos expostos a uma contaminação pelo vírus", afirma Santini.

Quem tem sintomas não deve ir votar?

O TSE orienta os eleitores e mesários que estiverem com febre ou tenham testado positivo para covid-19 nos últimos 14 dias antes da eleição a ficarem em casa.

O infectologista Luis Fernando Camargo explica que os principais sintomas da covid-19, doença provocada pelo coronavírus, são: sintomas nas vias aéreas como dor de garganta e tosse, dor no corpo e febre. A doença também pode provocar diarreia e a perda do olfato ou do paladar.

Mas Camargo afirma que como muitos dos sintomas são semelhantes ao de outras doenças, o ideal é que o eleitor busque a análise de um médico antes de decidir sobre se deve ou não comparecer às eleições.

Na ausência de febre e se os sintomas forem leves, o infectologista afirma que não há problema em comparecer à votação.

"É importante dizer que muitos desses sintomas se aplicam a outras infecções virais comuns e não perigosas, então é preciso muito discernimento, não é qualquer sintoma que vai impedir o eleitor de comparecer à urna, tem que ser uma suspeita muito forte e de preferência atestada por algum serviço de saúde", afirma Camargo.

Haverá distanciamento nas filas?

Sim. Os locais de votação terão marcações no chão para indicar a distância mínima de segurança, que será de um metro entre mesários e eleitores e também de um metro entre os eleitores nas filas.

Outra medida para evitar aglomerações foi a extensão do horário de votação em uma hora. Em vez do horário tradicional das 8h às 17h, neste ano a votação começa mais cedo, às 7h, e vai até as 17h.

Será feita a medição de temperatura dos eleitores?

Não. O TSE considerou que implementar a medição de temperatura nos locais de votação teria um custo elevado mas não seria capaz de detectar pessoas infectadas que sejam assintomáticas ou que estejam em período de incubação do vírus.

Como posso justificar a ausência nas eleições?

Este ano ficou mais fácil o processo de justificativa da ausência à votação. Os eleitores que estiverem fora do seu domicílio eleitoral poderão fazer a justificativa pelo aplicativo E-Título, que pode ser baixado pelo telefone celular. Quem não conseguir acesso ao aplicativo continua podendo fazer a justificativa presencialmente nas seções eleitorais.

A epidemia vai ficar menos grave até a data da votação?

O infectologista David Uip afirma que em muitas cidades, como São Paulo, já é possível notar uma queda no número de novos casos, mas disse que o comportamento da doença vai depender da atitude das pessoas, que devem manter as medidas de higienização, uso de máscara e distanciamento social.

Uip se disse preocupado com o comportamento de parte da população que tem promovido aglomerações em praias e bares. "Todos precisam entender que essa pandemia não acabou", afirmou.

"Nossa proposta é a de termos a eleição mais segura, com o maior número de votantes e menor número de abstenções. Então, gostaria de conclamar a população a viver esse momento democrático, a despeito da pandemia que tanto nos machuca. A pandemia vai passar, o nosso voto fica", disse o médico do Hospital Sírio-Libanês.