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Exército dos EUA abre investigação criminal sobre vazamento de documentos secretos

Soldados americanos participam de patrulhamento em região ao sul do Afeganistão - Asmaa Waguih/Reuters
Soldados americanos participam de patrulhamento em região ao sul do Afeganistão Imagem: Asmaa Waguih/Reuters

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

27/07/2010 13h08

O Exército americano abriu formalmente nesta terça-feira uma investigação criminal sobre o vazamento de milhares de documentos arquivados sobre a guerra do Afeganistão, informou há pouco o Pentágono.

A investigação está sob a responsabilidade da divisão de investigações penais do exército, que era responsável pelo caso de Bradley Manning, um soldado de 22 anos preso em maio por deixar vazar um vídeo que mostra um ataque aéreo americano contra civis no Iraque.

A Wikileaks, uma organização que se dedica a denunciar más práticas na internet, publicou no domingo à noite em seu site a maior parte dos documentos sobre a guerra do Afeganistão, sob o título "Diário da guerra afegã". Os documentos se referem a atividades entre janeiro de 2004 e 2010.

O que é o "WikiLeaks"?

WikiLeaks é um site que permite aos usuários postar documentos, fotos e/ou noticias governamentais ou empresariais, de matérias sensíveis sob anonimato. O Wikileaks alega que a informação colocada pelos usuários não é rastreável. Foi lançado em dezembro de 2006 e em meados de novembro de 2007 já continha 1,2 milhão de documentos.

Corrupção e assassinatos no Quênia, violações da convenção de Genebra na prisão norte-americana de Guantánamo, fotos de protestos no Tibete e listas de censura na internet em diversos países, como Austrália e Tailândia, são algumas informações vazadas pelo site.

Além disso, reservou outros 15 mil documentos a pedido de sua fonte, embora, assegura que eles seriam publicados posteriormente após a ocultação de dados que possam ser prejudiciais.

Entre outras coisas, os relatórios militares revelam operações encobertas, mortes de civis que nunca tinham sido divulgadas e denunciam a ajuda dos serviços secretos paquistaneses ao movimento taleban.

Suspeitos

O Pentágono investiga se o analista de inteligência Bradely Manning é o responsável pelo vazamento de cerca de 91 mil documentos militares sobre a guerra do Afeganistão, afirmou um porta-voz.

O analista foi detido em maio, depois que um hacker, Adrian Lamo, denunciou que Manning teria feito downloads de 260 mil documentos e os enviado ao site de denúncias Wikileaks.

No último dia 5 de julho, o Pentágono apresentou denúncias contra Manning, a quem acusam, entre outras coisas, de supostamente ter enviado ao Wikileaks um vídeo de um ataque aéreo americano no Iraque em julho de 2007.

O vídeo questiona a versão oficial sobre como o Exército dos Estados Unidos matou 11 iraquianos, entre os quais havia um fotógrafo e um motorista que trabalhavam para a agência de notícias "Reuters".

As imagens mostram, desde a visão de um piloto de um helicóptero Apache, os disparos contra um grupo, com homens armados e outros sem armas, que andavam pela rua em um bairro de Bagdá.

No vídeo, podem ser ouvidos os gritos de militares celebrando as mortes, dizendo "vejam esses bastardos mortos", enquanto outro pede permissão para disparar contra um homem que parou seu veículo para ajudar os feridos.

O porta-voz do Pentágono, o coronel Dave Lapan, disse, em declarações à imprensa nesta segunda-feira, que o Departamento de Defesa lançou uma ampla investigação para descobrir quem divulgou o material, mas reconheceu que Manning é suspeito. "É alguém a quem estamos analisando de perto", afirmou Lapan sobre Manning, garantindo, porém, que ele não é a única pessoa investigada pelo caso de vazamento.

Revisão pode levar semanas

O Pentágono disse ontem (26) que a revisão dos mais de 91 mil documentos secretos dos militares norte-americanos sobre a guerra no Afeganistão pode levar "dias, se não semanas" e que é muito cedo para avaliar os danos causados com a divulgação.

"Nós vamos tentar determinar os danos em potencial para as vidas de nossos militares, de nossos parceiros da coalizão e à segurança nacional", afirmou o porta-voz do Pentágono, coronel Dave Lapan

Os Estados Unidos, Reino Unido e Paquistão condenaram a divulgação dos documentos secretos.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, o general Jim Jones, disse que a divulgação dos documentos "coloca as vidas dos americanos e dos nossos parceiros em risco." Em um comunicado, Jones salientou que os documentos são do período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009, principalmente durante a administração do ex-presidente George W. Bush.

O embaixador do Paquistão, Husain Haqqani, disse que os documentos "não refletem a atual realidade no local" e que seu país e Washington são "um esforço conjunto para derrotar a Al Qaeda e seus aliados talebans".

A Otan se recusou a comentar sobre o vazamento dos documentos, mas disse que acredita que o caso não irá prejudicar as operações em curso no Afeganistão.

A chanceler britânica, William Hague, afirmou que houve progressos significativos na construção recente do Estado afegão: "por isso espero que o veneno não afete a atmosfera".

O governo do Afeganistão disse estar chocado com a divulgação, mas não com o conteúdo revelado por eles. "Sobre o conteúdo destes documentos vazados, a reação do presidente foi de que a maioria disso não é novidade e já foi discutido no passado com nossos parceiros internacionais", disse o porta-voz presidencial afegão, Waheed Omar.

*Com as agências internacionais