Antes do caso de Sakineh, falsa adúltera foi morta por apedrejamento no Irã
O drama da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e condenada ao apedrejamento no Irã, não é inédito no país islâmico. Antes dela, o caso de condenação por apedrejamento da iraniana Soraya Manutchehri, 35, em agosto de 1986, no vilarejo de Kupayeh, ganhou destaque na mídia internacional. Mãe de nove filhos, Manutchehri também foi acusada de adultério, assim como Sakineh Ashtiani, e sentenciada ao apedrejamento na República Islâmica.
A história ganhou um livro “The Stoning of Soraya M.” (O Apedrejamento de Soraya M.), escrito pelo jornalista franco-iraniano Freidoune Sahebjam, e um filme homônimo dirigido pelo diretor americano de origem iraniana Cyrus Nowrasteh.
Apedrejamento de Soraya M.
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Manutchehri foi apedrejada sob a falsa acusação de adultério
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Segundo o filme, seu pai, filhos e marido atiraram as primeiras pedras contra ela
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Sua tia, Zahra Khanum, narrou a história de Manutchehri para o jornalista franco-iraniano
De acordo com os relatos de Sahebjam, Manutchehri foi apedrejada até a morte sob a falsa acusação de adultério levantada pelo marido Ghorban-Ali, com quem era casada há 22 anos.
Segundo o livro, Ali basicamente queria se livrar da mulher para se casar com uma jovem de 14 anos --sem ter que sustentar duas famílias ou devolver o dote de Soraya.
Antes de ser acusada, a iraniana recusou a oferta de divórcio oferecida pelo marido, porque considerava que não conseguiria alimentar as duas filhas mais novas com o dinheiro que ele lhe daria.
De acordo com a obra, a iraniana só foi condenada por ter sido vítima de uma conspiração do marido com outros homens do vilarejo onde morava.
Manutchehri se casou com Ali, sete anos mais velho, quando tinha 13 anos e teve nove filhos, sendo que dois nasceram mortos.
Segundo os relatos do jornalista, a iraniana sofria abusos diários do marido como espancamentos regulares e insultos verbais.
O jornalista viajou pelo Irã no meio da década de 80 para levantar o impacto da Revolução Islâmica, liderada pelos aiatolás, em 1979. Durante esse período, Sahebjam conheceu a tia de Manutchehri, Zahra Khanum, que lhe narrou a história da iraniana.
Caso de Ashtiani
Sakineh Ashtiani está presa desde 2006 depois de ser acusada de manter "relacionamento ilícito" com dois homens. Como punição pelo crime recebeu 99 chibatadas.
Após a primeira condenação, foi acusada de adultério e condenada a morte por apedrejamento. Ashtiani nunca confessou o crime e está presa desde então na penitenciária de Tabriz, região noroeste do Irã.
Sua condenação foi revista após uma série de protestos internacionais e desde então o Poder Judiciário iraniano estuda a possibilidade de converter a pena de morte de apedrejamento para enforcamento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma proposta para conceder asilo a Ashtiani durante um discurso em Curitiba no começo deste mês.
O Irã primeiramente rejeitou a oferta brasileira e chamou Lula de “emotivo” afirmando que o brasileiro não possuía “informação suficiente sobre o caso”.
O Brasil decidiu formalizar a proposta solicitando ao embaixador brasileiro em Teerã fazer contato com o representante do governo iraniano indicando a vontade do presidente brasileiro.
Execuções
De acordo com a Anistia Internacional, o Irã é o segundo país que mais executa condenados no mundo, atrás apenas da China. Segundo o último levantamento do órgão, o país governado por Mahmoud Ahmadinejad matou 388 pessoas em 2009 e é o líder em execuções no Oriente Médio.
Assassinato, adultério, roubo armado, apostasia (abandono da fé) e tráfico de drogas são crimes puníveis com a pena de morte pela lei islâmica do Irã, implementada desde a Revolução de 1979.
A morte por apedrejamento foi sentenciada muitas vezes depois de 1979, mas só foi oficializada no Código Penal do país em 1983. Até 1997, pelo menos dez pessoas foram mortas nessa modalidade por ano, segundo dados da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
O ex-presidente moderado Mohammad Khatami conseguiu reduzir a aplicação da punição, mas a sentença voltou a ser usada mais frequentemente depois que Ahmadinejad chegou ao poder.
Nas condenações por apedrejamento no Irã, as mulheres são enterradas até o busto e homens atiram pedras pequenas o bastante para não matar rapidamente. No caso dos homens, eles são enterrados até a cintura, com os braços livres para que possam se defender.
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