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Porto Príncipe vive dias tensos com promessa de mais conflitos após eleição

Leandro Prazeres

Especial para o UOL Notícias <br> Em Porto Príncipe (Haiti)

13/12/2010 21h36

O movimento intenso de carros, caminhonetes e pessoas nas principais avenidas de Porto Príncipe, capital do Haiti, nesta segunda-feira (13) esconde o clima de apreensão que o país vive a partir de hoje. Nas tendas, no comércio e nos acampamentos de desabrigados da capital haitiana o que se comenta é que novos distúrbios por conta da crise causada pelas eleições presidenciais estão por vir.

As eleições presidenciais do Haiti foram realizadas no dia 28 de novembro. Na semana passada, os resultados do primeiro turno foram divulgados. A candidata  Mirlande Manigat e o situacionista Jude Celestin foram para o segundo turno, mas partidários do terceiro colocado, o cantor pop Michel Martelly, promoveram quebra-quebra em vários pontos da cidade.

Denúncias de fraudes fizeram com que a Comissão Eleitoral anunciasse a recontagem dos votos. O novo resultado deve ser divulgado até o dia 20, o que deve gerar ainda mais conflitos. Na semana passada, duas pessoas foram mortas durante os distúrbios e os aeroportos foram fechados.

Os rumores de novos protestos colocaram os quartéis brasileiros em estado de atenção. O Brasil comanda as tropas militares da Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti (Minustah). Alertas foram enviados desde o final da semana passada indicando que a partir desta segunda-feira (13) estavam previstos novos protestos, inclusive com montagem de barricadas. Tropas foram remanejadas e estão de prontidão para a montagem de barricadas como as da semana passada.

“O anúncio da recontagem fez com que houvesse a montagem de uma nova operação de segurança. Estamos sabendo que existem barricadas que deverão ser colocadas. Estamos preparados pra manter as principais avenidas desobstruídas. Não vamos impedir que eles (haitianos) façam manifestações”, diz o comandante do I Batalhão Brasileiro no Haiti, coronel Ronaldo Lundgren.

O ponto mais sensível sob a guarda dos militares brasileiros é o Centro de Tabulação de votos. É um galpão dentro do pequeno distrito industrial de Porto Príncipe onde estão guardados todos os votos do País. “Colocamos 100 homens fazendo guarda lá. Nossa maior preocupação é que tentem incendiar o galpão jogando um coquetel molotov”, explica o coronel.

Pela cidade, a tensão é visível. A maioria das lojas do frenético comércio de Porto Príncipe fechou às 15h30. No campo de desabrigados, a iminência de novos conflitos está presente nas conversas. “A gente sabe que vai haver mais confusão. Ouvi dizer que seria hoje, mas ainda não sabemos”, diz Benjamin, líder de um dos campos de desabrigados na favela de Cité Soleil, nas cercanias de Porto Príncipe.

Alexander, tradutor de uma organização não-governamental, também diz estar apreensivo. “Um colega me disse que haverá três dias de distúrbios e três dias de tranquilidade. Isso até o anúncio da recontagem dos votos. Pelo que eu conheço, a situação vai ficar ainda mais difícil”, afirma.