Amanda Cotrim

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Reportagem

Ida de Milei aos EUA é busca por protagonismo da direita na América Latina

O presidente argentino Javier Milei, que não poupa elogios a Donald Trump, fará mais uma viagem aos EUA nesta quinta-feira, 14, conforme confirmou a Casa Rosada. Segundo a imprensa argentina, esta será a sétima visita de Milei aos Estados Unidos desde que o argentino assumiu como presidente, em 10 de dezembro de 2023.

A visita de Milei aos EUA ocorre no contexto de mais um evento da Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora), previsto para ocorrer em um resort de luxo de propriedade de Donald Trump, na Flórida.

Milei nunca negou seu entusiasmo com a volta de Trump à presidência dos Estados Unidos. 'O senhor foi um grande presidente e espero que volte a ser', disse o argentino na ocasião de seu primeiro encontro com o novo presidente estadunidense, no início deste ano, em um evento da Cpac, nos EUA.

Um possível encontro com o presidente eleito dos EUA desenha uma ambição de Milei em tornar-se referência da direita na América Latina.

"Milei projeta ser referência da direita na região. Além disso, há uma ambição maior, que é a de ser um representante mundial, de uma forma mais ampla, considerando que o espanhol é um dos idiomas mais falados no mundo, a aproximação com o VOX (partido de ultradireita) da Espanha. Não vamos esquecer da briga de Milei com o Pedro Sanchez e os ecos desse conflito produzidos na Europa", contextualizou o cientista político argentino Sergio Morresi, pesquisador das direitas na América Latina pelo Conicet (Conselho Nacional de Pesquisadores), da Argentina.

Para especialistas ouvidos pelo UOL, a vitória de Trump é um sinal de fôlego para a "Internacional Reacionária", um movimento político que cresce no mundo todo. Os estudiosos apontam Milei como um político que tem papel de destaque dentro desse movimento.

"A aproximação de Milei com líderes da ultra-direita também se dá num contexto em que a Argentina sediará o próximo Congresso Conservador, previsto para o dia 4 de dezembro, em Buenos Aires. Além disso, o presidente argentino vem construindo sua imagem ao lado de figuras como Elon Musk, que representam a direção que Milei está apontando no cenário internacional", contextualizou Morresi.

O empresário Elon Musk, por quem o presidente argentino nunca escondeu ser "fã", nunca escondeu sua preferência pelo novo presidente dos EUA e fez campanha por Donald Trump.

Musk também tem uma relação próxima com o presidente argentino, a quem apoiou publicamente e com quem mantém conversas por telefone.

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O empresário sul-africano, que é diretor-executivo da Tesla (que produz e vende automóveis elétricos), e dono da rede social X, demonstrou seu interesse no mercado argentino e no lítio, matéria-prima abundante no país, ideal para a produção de baterias para carros elétricos.

Há uma expectativa por parte da Casa Rosada de que, com a eleição de Trump, a dívida bilionária que a Argentina tem com o FMI (Fundo Monetário Internacional) seja negociada a partir de critérios que favoreçam a Argentina.

Para esta missão, Milei contará com o novo chanceler argentino, Gerardo Werthein, que foi embaixador nos EUA e saiu para ocupar o cargo que era de Diana Mondino, demitida por Milei após ter votado contra o bloqueio contra Cuba, mantendo uma tradição diplomática do país em relação ao embarbo dos EUA à ilha caribenha.

G20: Projeção de tensão entre Milei e Lula

O possível encontro com Trump e Elon Musk ocorre às vésperas do G20, que acontece na próxima semana, no Rio de Janeiro. O presidente argentino chegou a confirmar sua presença no evento por meio de uma carta enviada ao Brasil.

Não há, no entanto, até o momento, confirmação oficial de uma bilateral entre Milei e Lula, anfitrião do evento. Os dois presidentes nunca se encontraram desde que o ultra-liberal assumiu a Argentina, em dezembro de 2023.

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Apesar de nos bastidores a diplomacia de ambos países estarem trabalhando para uma possível bilateral, especialistas ouvidos pelo UOL não estão tão otimistas.

Um indício dessa provável tensão é que a Argentina foi o único país que não assinou a declaração final em defesa da inclusão social e da proteção ambiental, a qual pede mudanças a organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU. A carta foi elaborada por representantes legislativos dos países que integram o G20.

Especialistas acreditam que a não adesão da Argentina abriu um novo foco de conflito de Milei e Lula, aprofundando uma tensão constante entre Buenos Aires e Brasília, principalmente sobre o modo como ambos presidentes enxergam as demandas sociais e ambientais.

Conforme apurou a reportagem, no mundo "liberal libertário" não há projeção de reunião entre o presidente argentino e o brasileiro, gerando ainda mais expectativa para o evento.

Posse de Milei teve Bolsonaro e ausência de Lula

Quando Milei assumiu, em dezembro de 2023, o presidente Lula mandou seu chanceler, Mauro Vieira, como representante do Brasil. Na ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi para a posse do argentino e foi tratado por Milei como convidado de gala.

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Milei mais pragmático

No marco da Cúpula do G20, há a possibilidade de Milei manter uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping. O possível encontro aconteceria em um contexto em que Milei retrocedeu seu discurso a respeito da China, a quem endereçou declarações e ofensas ao governo chines durante a campanha presidencial, chamando o país de comunista.

A aproximação do governo Milei com governos que não são orientados pela ideologia libertária ou mesmo que se identificam com uma ideologia mais "de esquerda", como a própria China, é considerada por especialistas um movimento mais pragmático por parte de Milei.

Também em novembro, o presidente argentino receberá a visita da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, admiradora de Trump, que recebeu Milei em Roma esse ano, e do presidente francês, Emmanuel Macron, político próximo a Lula.

Reportagem

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