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Às vésperas da recontagem de votos, Haiti vive clima de tensão com novos protestos em Porto Príncipe

Leandro Prazeres

Especial para o UOL Notícias <BR> Em Porto Príncipe (Haiti)

18/12/2010 17h34

Haitianos e estrangeiros que vivem em Porto Príncipe se preparam para novos protestos a dois dias do anúncio da recontagem dos votos das eleições presidenciais do Haiti. Não há mais gasolina na maior parte dos postos de combustíveis da capital. Os que ainda têm o produto colocam seguranças armados com escopetas para evitar invasões. O prazo para que a Comissão Eleitoral Provisória (CEP) divulgue os resultados da eleição é 20 de dezembro.

A votação foi realizada no dia 28 de novembro. Dezenove candidatos participaram do pleito. Apesar de as pesquisas de opinião indicarem que o segundo turno seria entre a ex-primeira dama Mirlande Manigat e o cantor pop Michel Martelly, a CEP anunciou segundo turno entre Manigat, que teve 31,37% dos votos, e Jude Celestín --apoiado pelo atual presidente, René Preval-- com 22,48% dos votos. Desde então, seguiram-se quatro dias de protestos com pelo menos quatro mortos. 

Neste sábado, as filas foram inevitáveis nos postos da capital. Sem o produto nas bombas, muitos haitianos estão recorrendo ao “mercado negro”. O missionário brasileiro Emerson Barbosa está em Porto Príncipe desde agosto e ficou sabendo ontem da falta de combustíveis. Já foi a três postos, mas não conseguiu comprar gasolina. “Estamos vivendo um clima de tensão muito grande. Nós, que somos estrangeiros, ficamos um pouco mais apreensivos. Não sabemos exatamente o que vai acontecer aqui”, afirma Barbosa. 

Mas não são apenas os estrangeiros que estão se precavendo. Os próprios haitianos estão preocupados. “Ninguém sai para rua nos dias em que tem essas manifestações. A cidade pára completamente. Por isso temos que procurar armazenar o que pudermos”, diz o estudante de engenharia das telecomunicações Archiel Joseph, 26, que mora em Petión Ville, uma das regiões onde se concentraram os protestos do início do mês.

"Vivemos uma situação difícil. Não há combustível na cidade. Eu saí para pegar meu filho na escola. Tinha que passar em um posto para abastecer e voltar para casa, mas agora não encontro um posto com gasolina. Corro o risco de ter de deixar a moto aqui", conta Micheal Bonaiss, com o filho de quatro anos na garupa de sua motocicleta.  

A incerteza sobre o que vai acontecer nos próximos dias no Haiti também afeta o trabalho das organizações não-governamentais que atuam no país. “Durante os protestos, nós não podemos fazer o trabalho de recolher os pacientes para serem atendidos na nossa unidade. Não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias, mas quanto mais protestos houver, menos vamos poder trabalhar”, afirma Reinier Carabin, diretor do centro de atendimento a amputados da ONG Handicap International.

O coordenador da missão no Haiti da ONG Médicos Sem Fronteirass, Stefano Zanini, disse que houve um aumento da mortalidade dos pacientes com cólera durante os protestos do início do mês. "A princípio, nós acreditamos que esse aumento da mortalidade se deve aos protestos que foram intensos entre os dias 9 e 11. A pessoa vinha ao nosso encontro, mas os centros estavam fechados. Não tínhamos como abrir em meio ao que estava acontecendo", afirma.